Mogno africano: ótimo investimento, diz uma lenda do agronegócio

O quilo da semente pode chegar a valer entre R$ 1,5 mil e R$ 4 mil, para resolver isso o empresário usou técnicas de clonagem usadas em eucaliptos.

Nem bem chega à sua fazenda, localizada no município de Pirapora (MG), o empresário Ricardo Tavares, 48 anos, vai logo visitar o seu viveiro de mudas. Ali está a sua mais recente aposta, um projeto que pode render algumas centenas de milhões de reais ao ano, com o cultivo irrigado de mogno africano. A área é relativamente pequena, com 500 hectares plantados. Mas ela pode ser mais uma história vencedora de Ricardo Tavares, que tem um retrospecto único no agronegócio brasileiro. Seu jeito é simples, mas sua capacidade de criar empresas rurais de sucesso vai muito além dos padrões de um empreendedor comum. Adepto da filosofia de que o bom é inimigo do ótimo, esse mineiro de sorriso tímido e fala serena é na verdade um inventor de negócios e marcas. Na década de 1980, ele tirou o Café Três Corações do buraco e o projetou como uma marca nacional. Em 2000, ele a vendeu por US$ 41 milhões de dólares para a israelense Strauss-Elite. De olho no crescente mercado de bebidas naturais, criou a Sucos Mais, que em três anos alcançou um faturamento de R$ 100 milhões. Hoje a marca pertence à Coca-Cola, que a arrematou por R$ 110 milhões em 2005. Mesmo se desfazendo das duas empresas, ele ainda fatura com elas, fornecendo tanto café quanto polpa de frutas. Para atender essa última, aliás, ele criou a Trop Brasil, indústria de polpas de frutas, localizada no Espírito Santo, que também se mostrou um investimento bem-sucedido.

Agora, ele espera que seu toque de midas transforme “árvores em ouro”, num ousado plano que chamou de Projeto Atlântica Agropecuária e que pode mudar o conceito de madeira de qualidade no Brasil.

Enquanto anda por entre as pequenas mudas irrigadas, Tavares explica por que, entre tantas possibilidades, ele se interessou por um cultivo de prazo tão estendido, cujo primeiro corte acontecerá entre o 11º e o 12º ano. O respaldo, porém, é internacional e está em dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês). Segundo a entidade, a demanda por madeira no mundo, que era de 1,6 bilhão de metros cúbicos em 1991, vai saltar para 2,6 bilhões já em 2010. Para os próximos anos, o crescimento continua seguindo o ritmo do boom populacional.

No entanto, a madeira terá que vir de áreas de reflorestamento, uma vez que as florestas nativas estão cada dia menores e têm a exploração controlada. Tavares bateu o martelo no mogno depois de constatar que a madeira é a preferida dos europeus. “Inclusive alguns países dão preferência ao mogno brasileiro”, diz o mineiro, que optou pelo africano pelo fato de o nacional ter uma doença que divide o tronco no meio, reduzindo significativamente a rentabilidade.

Estudar a fundo um setor antes de colocar o seu dinheiro (ou mesmo o de sócios) é outra característica desse produtor. Para bater o martelo quanto à madeira, ele conheceu plantações de teca em Mato Grosso, de mogno no Pará, foi até a Embrapa Belém, visitou serrarias em outros países. No Brasil, os dados disponíveis apontam que não há sequer 1.000 hectares de mogno africano. E este é o gargalo. “Os reflorestamentos com essa espécie são novos e a árvore só começa a soltar sementes aos 12 anos”, diz o engenheiro agrônomo Ítalo Falesi, pesquisador da Embrapa Belém, que introduziu a variedade no Brasil. “Em 1973, eu recebi na Embrapa uma comitiva da Costa do Marfim. No final da visita, o ministro daquele país me entregou seis sementes e disse: ‘Isso é o ouro verde’”, lembra. O material foi plantado na sede da instituição em Belém e se transformou em árvores frondosas, hoje com 36 anos de idade. Destes exemplares saíram as sementes que deram origem aos primeiros plantios em território nacional. Por causa da pouca oferta de sementes, o quilo do produto varia entre R$ 1,5 mil e R$ 4 mil. Para resolver o problema, a fazenda “importou” uma técnica largamente utilizada em viveiros de eucalipto, que consiste na clonagem das melhores mudas. Segundo Falesi, o método garante não só a qualidade das plantas, como diminui a dependência de sementes compradas no mercado.

Amigo de muitos anos, Edmundo Coutinho Aguiar é o sócio de Tavares em sua empreitada florestal, com 10% do projeto. Inclusive, foi Aguiar quem despertou o interesse de Tavares para o setor madeireiro, depois de contar que estava apostando no plantio consorciado de café arábica com cedro australiano. Curioso, na primeira oportunidade Tavares foi conhecer o empreendimento e ficou admirado com a produtividade do café e com o desenvolvimento do cedro australiano. Na ocasião, deixou um recado para Aguiar: “Você me avisa quando tiver fazenda à venda.” Não demorou muito e Aguiar ligou para Tavares avisando de uma oportunidade. A resposta que ouviu foi: “Eu compro, mas quero você como sócio.” Descapitalizado na época, o cafeicultor teve que fazer alguns sacrifícios pessoais para entrar na sociedade. “Eu pensei: tem meio Brasil querendo ser sócio do Ricardo e ele me escolheu. Eu tenho que dar um jeito”, lembra Aguiar.
“Madeira não era a primeira opção”

Diante das boas oportunidades, o projeto foi ampliado, visando ao aumento dos lucros em cima da rentabilidade do mogno.

No início, o projeto da Atlântica Agropecuária teria apenas 260 hectares da árvore, mas o empresário elevou a área para 500 hectares depois de conferir a rentabilidade. O lucro líquido por hectare ao final de 17 anos será de R$ 559 mil, que multiplicado por 500 renderá R$ 279 milhões, um retorno de 91% sobre o investimento. Mas o resultado pode ser ainda maior, já que no plano de negócios foram usados valores conservadores. Foram estes números que levaram Tavares a mudar o projeto inicial, que privilegiava o café com uma área de 615 hectares. “Eu também me assustei com o café, porque no conilon a colheita é toda manual. É muita gente”, diz. Além disso, a madeira é uma paixão antiga, que começou quando Tavares tinha 18 anos. Naquela época, o pai do empresário, que sempre mexeu com o comércio de café, mandou o filho entregar um caminhão da mercadoria no Pará. “Eu levei o café e fiquei uns três meses em Paragominas, comprando madeira e mandando para Belo Horizonte”, lembra.

Por falar em sócios, este é mais um diferencial de Ricardo Tavares. Ele escolhe a dedo quem vai trabalhar no seu time. Foi assim em todas as empresas que criou. Na Sucos Mais, ele chamou os empresários do grupo mineiro WRV (ex-donos da rede de supermercados Mineirão) para sócios. Na Trop Brasil, convocou João Luiz Castanheira, diretor do grupo mineiro WRV na época da Sucos Mais, e Renato Barcellos Guimarães, executivo da Matte Leão.

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Mais que criar empresas ligadas ao campo, Tavares tem uma verdadeira obsessão em criar negócios que persistam ao longo do tempo e sejam multiplicadores de riqueza, conforme explica o vice-governador do Espírito Santo, Ricardo Ferraço. “Graças à Sucos Mais e à Trop Brasil, conseguimos consolidar e diversificar a fruticultura em nosso Estado”, diz. Nos últimos cinco anos, a produção de frutas no Espírito Santo cresceu 35%. Uma das razões está nos contratos de venda antecipada firmados entre a Trop e os produtores.

Enquanto se debruça no plano de negócios construído para transformar uma plantação de árvores num negócio milionário, Tavares fala sobre a viabilidade econômica e as formas de levantar recursos. Antes de ser implantado, o projeto consistia num estudo de 101 páginas em que todas as variáveis foram discutidas e analisadas. Entre os pontos colocados no projeto está a localização às margens do rio São Francisco, o que sustenta a produção de mogno africano. “Isso nos dá a garantia de que não faltará água, porque madeira de lei tem que ser irrigada”, analisa o empresário. A região também tem um programa de incentivo do BNDES: os financiamentos têm quatro anos de carência e mais oito para a quitação. Além disso, a propriedade está “equipada” com um mix de atividades que vão do mogno ao café, passando pela criação de gado, eucalipto e até mesmo banana. “Isso garante um capital de giro constante”, simplifica. A banana tem uma renda mensal; o café, anual; e o eucalipto, em fase de implantação, terá seu primeiro corte em seis anos. “Nosso negócio com boi vai depender do tipo de contrato firmado com os frigoríficos”, diz. Agora só falta esperar que as árvores cresçam e o negócio floresça. Mas, até lá, ele terá muito tempo para criar outras empresas rurais e o próximo sócio pode ser você.

Ricardo Tavares, o empresário conhecido por criar empresas e vendê-las a preço de ouro, fala o que o fez apostar no plantio comercial de mogno.
O Sr. é o empresário que todo mundo quer como sócio. Qual é o segredo do sucesso?

Não tem segredo não. Os negócios que dão certo são os que aparecem, mas já fiz negócios ruins.

Quais foram eles?

(pausa) Agora eu não estou lembrando, mas com certeza há! (risos)

Por que decidiu apostar em madeira?

A população mundial está crescendo. Em 2050, serão 9 bilhões de pessoas e a demanda por madeira acompanha este crescimento. Além disso, sempre gostei de madeira. Quando tinha 18 anos, meu pai mandou entregar um caminhão de café no Pará. Eu levei o café e fiquei uns três meses em Paragominas, comprando madeira e mandando para BH.

E por que o mogno africano?

Eu fui ver plantações de teca em Mato Grosso e de mogno no Pará, e o mogno é o que se desenvolve melhor. A teca demora muito, são 25 anos. Escolhi o africano por ser o mais parecido com o brasileiro e não ter uma doença que divide a tora, prejudicando a rentabilidade.

No início o projeto privilegia o café com 615 hectares. O que fez você mudar de ideia?

Estive na fazenda do Edmundo na época da colheita e me assustei com o café, porque no conilon a colheita é toda manual. É muita gente. E o mogno dá uma rentabilidade muito maior.

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