A falsa extinção dos jumentos no Brasil

Narrativa alarmista sobre a extinção dos jumentos no Brasil é contestada por critérios oficiais da ONU; o Brasil tem total condição de estabelecer uma cadeia produtiva de jumentos

Por Alex Bastos – “Para inglês ver” é uma expressão brasileira que significa fazer algo apenas para criar aparências. É o que literalmente ocorre na ideia defendida nos últimos anos de que os jumentos brasileiros estão prestes a entrar em extinção.

As duas maiores autoridades mundiais que monitoram especificamente animais domésticos em risco de desaparecimento são, indiscutivelmente, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e a UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), ambas agências da ONU que colaboram intensamente em iniciativas globais de sustentabilidade.

Na publicação da terceira edição do compêndio de título “Lista de Vigilância Mundial” para a diversidade de animais domésticos, essas duas agências deixaram muito bem claro no capítulo “Critérios para determinar raças em risco” a seguinte afirmação de análise de critérios: se o número total de animais reprodutores for maior que 1.000 fêmeas e 20 machos em reprodução, respectivamente, essa raça está “fora de risco de extinção“.

É isso mesmo que você leu. As autoridades no assunto mencionam que se existem “APENAS” menos de 2.000 animais em reprodução, não se pode falar em EXTINÇÃO de uma espécie ou raça.

No país, existem três raças específicas. Uma delas é o Jumento Pêga, que conta com uma Associação bem construída e mantida, fundada em 1947, tendo em seu cadastro mais de 30 mil animais registrados.

Há ainda o Jumento Paulista ou Brasileiro, com quantidade não divulgada de seu rebanho, e o Jumento Nordestino, que em 2017 tinha um rebanho de 376 mil, mesmo com um subcadastramento nas Agências de Defesa Agropecuária Estaduais e do IBGE, ocorrido por conta, no passado, do abandono desses animais na natureza, situação que vem mudado de cenário nos últimos anos graças à revalorização da raça.

O Jumento Nordestino não conta com características específicas de uma raça, sendo considerado Sem Raça Definida (SRD brasileiro). São compostos por animais com diversos tipos de pelagens, alturas e pesos, com sangue originário da região da Abissínia Africana, atual Etiópia.

Atualmente, o Jumento Nordestino está distribuído pelas margens do Rio São Francisco, nas caatingas e nas praias litorâneas do Nordeste Brasileiro, visíveis em bandos consideráveis, a exemplo de localidades praianas como Jericoacoara, Lagoa dos Jegues, Paraipaba, Cumbuco, Caucaia, Emboaca, Trairi e Canoa Quebrada, no Ceará, Mangue Seco, na Bahia, Praia do Amor, Tibau do Sul e Genipabu, no Rio Grande do Norte, Pontal, no Piauí, dentre tantas outras.

A famosa e real virilidade do jumento macho colabora para perpetuação da espécie, bem como a precocidade e fertilidade das fêmeas, sempre ladeadas por filhotes mesmo em situações de abandono em margens de rodovias e/ou praias. Essas duas particularidades da espécie fazem também cair por terra a ideia de “extinção”.

Um bom exemplo dessa evolução do rebanho, e baseado em números divulgados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran), vem do estado do Ceará, onde o órgão realiza um sério e excelente trabalho de retirada dos animais das rodovias para evitar acidentes. Em 2025, foram recolhidos, em média, 290 animais todos os meses, sendo em sua grande maioria da espécie asinina. Eles acabam sendo destinados a uma fazenda no município de Santa Quitéria, que se tornou um refúgio para os asininos.

O Censo Agropecuário de 2017, último realizado pelo IBGE no país e que contabilizou números da espécie asinina, apontou a existência de mais de 230 mil propriedades pecuárias criadoras de jumentos. Fazendo uma análise na estratificação dos Censos desde 1980, é estendível que mais de 90% desses pecuaristas têm rebanhos menores que 20 animais.

É mais um dado estatístico oficial comprovando que é ilusória a narrativa de algum tipo de risco de extinção dos jumentos, nas próximas décadas.

Na verdade, os números mostram que o Brasil, o país mais competitivo no mercado internacional para produção de proteína animal, tem total condição de estabelecer uma cadeia produtiva de jumentos, assim como já ocorre nos bovinos e outras espécies, garantindo mais rentabilidade para os produtores que trabalham com a espécie no país, mais empregos no campo e boas condições para ampliar as exportações de matérias-primas.

Alex Bastos é Zootecnista

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