
Com menos crédito subsidiado com redução do Plano Safra, produtores de leite precisam se reinventar. Veja caminhos viáveis para financiar sua atividade e garantir crescimento.
O financiamento dos investimentos na atividade leiteira sempre contou com suporte de políticas públicas e linhas de crédito subsidiadas pelo governo, como o Plano Safra. Historicamente, os produtores entendem os investimentos que precisam fazer, “entram na fila” para obter recursos subsidiados, e começam as obras assim que os recursos são liberados.
Entretanto, como os produtores estão sentindo na pele, essa dinâmica está ficando cada vez mais complicada. Os recursos subsidiados acabam muito antes do fim do ano-safra, e dificilmente conseguem suprir todas as necessidades de financiamento, principalmente a partir de certa escala da propriedade.
Olhando a o cenário macroeconômico do Brasil (está ruim) e microeconômico da indústria de leite (está bom, se tiver investimentos constantes), acreditamos que o produtor irá buscar cada vez mais recursos livres para se financiar. Recursos livres são, de fato, mais caros que os subsidiados, como o próprio nome diz. Mas, mais caro ainda é não fazer investimentos essenciais.
Neste artigo vamos olhar a dinâmica dos recursos subsidiados, o que esperamos do próximo plano safra e porque o produtor deve buscar outras opções para financiar sua atividade e investimentos.
Crédito Rural Subsidiado: Tendência de Redução, Especialmente para Agricultura Empresarial
O Plano Safra tem sido uma ferramenta essencial para custeio e investimento de produtores rurais nas últimas décadas. A falta de acesso a recursos privados, somada ao baixo custo dessas operações, as torna essenciais para investimentos, especialmente em culturas de retornos mais apertados.
Historicamente, o produtor rural tem relacionamento com 1-2 bancos (Banco do Brasil e mais um) e com a cooperativa da sua região, e, com essas opções, vem suprindo sua necessidade de financiamentos para custeio e investimento.
Porém, nos últimos anos, e especialmente nos últimos 12 meses, essa dinâmica está bem mais difícil. Os recursos, quando disponíveis, acabam rapidamente e há somente a possibilidade de entrar na fila de espera sem certeza de sucesso.
Para os próximos 12 meses, a tendência é de piora. O Governo manteve orçamento de R$15 bilhões para equalização de juros do plano Safra em 2025, mesmo valor de 2024. Se em 2024, o valor já não foi suficiente, com necessidade de novos recursos serem injetados no final de 2024, em 2025 a tendência é que acabe bem antes.
A equalização de juros nada mais é que subsidiar a diferença entre o juros cobrados do produtor rural (abaixo da taxa Selic), e o verdadeiro custo do dinheiro (taxa Selic). Com a taxa Selic em franca ascensão, o custo para essa equalização cresce.
Taxa Selic – fim de cada ano
Além disso, a grande razão para a alta da taxa Selic é o alto gasto do governo com poucas perspectivas de ajustes suficientes, fazendo com que o Mercado precifique alta maior da inflação, o que faz com que o Banco Central tenha que subir mais ainda a Selic. Assim, aumentando o gasto do governo com juros e com o Plano Safra, nosso foco do artigo.
Esse ciclo vicioso só poderá ser quebrado com uma queda expressiva nos gastos do governo e confiança do mercado que isso será feito. O que nos leva de volta ao ponto inicial: dificilmente, o governo alocará muito mais recursos para subsidiar juros no Plano Safra, e também deverá focar os poucos recursos disponíveis para Agricultura Familiar e pequenos produtores vs. Agricultura Empresarial.
Quais as Implicações para Produtores de leite?
Ao mesmo tempo, os produtores de leite encaram o seguinte cenário: sem investimentos em tecnificação, genética e conforto animal, ficarão para trás, potencialmente saindo da atividade. Por outro lado, os investimentos, principalmente em conforto animal, oferecem ótimos retornos.
Ou seja, postergar investimentos ou esperar alguma linha subsidiada com custo muito baixo pode ser a diferença entre construção ou não de patrimônio, ou até mesmo a longevidade no negócio.
A saída é entender bem os retornos de cada investimento planejado, e buscar recursos alternativos para fazer os investimentos com maiores retornos, mesmo com juros mais elevados no curto prazo.
Se antes o crédito subsidiado era a principal fonte de financiamento para o produtor rural, hoje ele precisa buscar novas alternativas para continuar investindo e garantindo a viabilidade do seu negócio.
Alternativas ao Recurso Subsidiado
Além de recursos subsidiados e capital próprio, o produtor deve buscar fontes alternativas para viabilizar seus investimentos.
- Crédito Privado: recursos livres de financiadores do mercado, como bancos e cooperativas de crédito. Podem ter custo menor e estrutura mais simples que as alternativas abaixo, mas requer acesso e relacionamento.
- Fundos de Crédito: alternativa de acesso a crédito privado. Mercado ainda incipiente para financiar investimentos, com estruturas ainda mais caras. Deve ter grande crescimento nos próximos anos.
- CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio): Estrutura de financiamento que pode ter custo muito interessante para grandes operações, mas com custo elevado para operações menores. Acesso a vários tipos de investidores (fundos, pessoas físicas, etc).
O acesso a esses recursos oferece desafios claros:
- Dificuldade de acesso ao crédito, especialmente para investimentos de longo prazo – com poucas linhas disponíveis;
- Relacionamento com financiadores: produtores tipicamente tem bom relacionamento com poucos bancos, sem acesso ao Mercado de forma mais ampla;
- “Má fama” do setor lácteo com financiadores tradicionais e fundos, dado problemas antigos de inadimplência (ex. Parmalat);
- Claro entendimento dos financiadores sobre o retorno nos investimentos no leite;
- Taxas mais elevadas vs. as que o produtor está acostumado;
- Exigências mais rigorosas para concessão de crédito, como garantias e histórico de pagamento;
Fonte: Milk Point
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