A revolução da tilápia no interior paulista: fazenda transforma resíduos em ouro verde

Big Fish Piscicultura: inovação, sustentabilidade e ambição na nova fronteira da tilapicultura paulista; empresa opera 42 tanques suspensos, produz 500 toneladas de tilápia por ano e se prepara para exportar filé ao mundo

No interior do estado de São Paulo, entre plantações e estradas que cruzam o município de Santa Rosa de Viterbo, próximo a Ribeirão Preto, um empreendimento vem chamando atenção pela ousadia, eficiência e visão de futuro. A Big Fish Piscicultura, comandada pelos sócios Gustavo Bendazolli e Bruno Souza, transformou em poucos anos uma pequena estrutura experimental em um projeto de alta escala, que une sustentabilidade, tecnologia, verticalização produtiva e resultados expressivos.

Big Fish Piscicultura - Gustavo Bendazolli e Bruno Souza mostrando tilapia
Foto: Divulgação

A empresa investiu cerca de R$ 4 milhões para estruturar uma operação que hoje produz 500 toneladas de tilápia por ano. O volume é alcançado graças a um parque de 42 tanques suspensos, cada um comportando até 5 mil peixes. Não se trata de um sistema convencional: a opção pelos tanques suspensos substitui os tradicionais tanques escavados, garantindo um ambiente totalmente controlado, permitindo melhor manejo da água, maior densidade produtiva, menos mortalidade e, sobretudo, um peixe mais saudável e saboroso — característica cada vez mais valorizada no mercado.

Big Fish Piscicultura - recria e engorda da tilapia
Foto: Divulgação

Segundo os sócios, esse controle minucioso impacta diretamente na qualidade do produto final. “Esse método diminui a mortalidade e impacta diretamente na qualidade do peixe, porque ele se alimenta apenas do essencial, dentro de um ambiente controlado, sem contato com fatores externos que poderiam prejudicar a carne”, explica Gustavo.

A Big Fish adota protocolos rígidos de manejo sanitário: redes e equipamentos nunca passam de um tanque a outro sem esterilização, evitando contaminações cruzadas. Além disso, cada unidade produtiva funciona de forma independente, permitindo rastrear qualquer adversidade e corrigi-la rapidamente.

Big Fish Piscicultura - tanques suspensos
Tanques suspensos

O ciclo produtivo da tilápia vai do alevino até o peixe pronto para abate em 6 a 7 meses. E, ao contrário de grande parte das pisciculturas brasileiras, a Big Fish produz os próprios alevinos. A decisão traz rastreabilidade completa e garante o padrão genético do plantel. “Quando produzimos nosso próprio alevino, sabemos exatamente como foi cultivado, tratado e beneficiado. Temos domínio total da qualidade”, pontua Gustavo.

Mas a empresa não se destaca apenas pela escala ou pelo rigor técnico. Um dos pilares da operação é a produção orgânica, que não utiliza agrotóxicos e reduz drasticamente o impacto ambiental. Todo o manejo da água segue padrões rígidos, e a empresa buscou um modelo produtivo capaz de transformar resíduos em insumos valiosos — literalmente. Esse processo ganhou forma no sistema de aquaponia, que aproveita a água de descarte dos tanques de tilápia para produzir hortaliças, sobretudo alface.

Big Fish Piscicultura - aquaponia com residuos da tilapia producao de alface verduras
Alface da Big Fish

A água proveniente dos peixes contém 12 dos 15 nutrientes necessários para o desenvolvimento das hortaliças. Isso foi descoberto por meio de análises frequentes realizadas pela equipe. A partir desse composto natural, as alfaces desenvolvem-se em apenas 25 dias, com mínima suplementação de ferro. A princípio, a Big Fish começou com 1 mil pés de alface; depois expandiu para 4 mil. Atualmente os empresários desejam alcançar a produção de 30 mil pés por mês, incluindo também salsão, cebolinha e outras hortaliças.

Big Fish Piscicultura - aquaponia com residuos da tilapia producao de alface verduras raizes
Foto: Divulgação

Essa integração entre peixe e vegetal é considerada por Gustavo um dos maiores trunfos ambientais da piscicultura. “Quando a gente vê uma aquaponia 100% orgânica, proveniente da água de descarte da tilápia, isso valida o manejo que nós temos. É um impacto ambiental positivo enorme”, afirma. Para além dos benefícios ecológicos, o sistema tem papel decisivo na sustentabilidade financeira da empresa.

O objetivo dos sócios é que a venda das hortaliças cubra todos os custos fixos da operação, permitindo que o peixe tenha um custo final muito inferior ao usual. Hoje, o custo médio de produção da tilápia na Big Fish varia entre R$ 6,00 e R$ 6,50 por unidade — patamar extremamente competitivo.

A história da Big Fish começou de forma simples, com apenas dois tanques e produção de três a quatro toneladas por ano. Tudo mudou quando um frigorífico parceiro mencionou que sua demanda semanal era de 100 toneladas de tilápia. O dado escancarou o tamanho da oportunidade. A partir daí, Bruno e Gustavo decidiram ampliar a estrutura. “Falamos: ‘Vamos montar tanques escalonados para ter despescas todos os meses’. Hoje tiramos entre 40 e 45 toneladas por mês, com fluxo contínuo de receita”, relata Bruno.

Foto: Marcio Peruchi / CompreRural

Com o crescimento acelerado e o nível de organização alcançado, os sócios voltaram seus esforços para outro passo estratégico: verticalizar a operação. A Big Fish está construindo seu próprio frigorífico, o que permitirá a produção direta de filé de tilápia — item de alto valor agregado e com forte demanda nacional e internacional. O plano não para por aí: a empresa trabalha para expandir de 42 para 200 tanques suspensos, ampliar sua estrutura produtiva e atingir 28 toneladas de filé por mês, abrindo portas para exportação. Os primeiros mercados-alvo já estão identificados, como China e países asiáticos.

O retorno financeiro também impressiona. Segundo Bruno, o projeto da Big Fish já opera com rentabilidade em torno de 30%, índice elevado mesmo para padrões da aquicultura, setor que vem crescendo exponencialmente no Brasil. A piscicultura brasileira vive um momento de expansão acelerada, impulsionada pelo aumento do consumo interno, pelas oportunidades de exportação e pelo avanço tecnológico em manejo, genética e nutrição. A Big Fish soube aproveitar essa onda, mas, acima de tudo, criou seu próprio modelo de negócio pautado em controle, sustentabilidade e verticalização.

Além da produção comercial, a empresa também se dedica à educação ambiental. Gustavo conta que a propriedade recebe crianças e adolescentes de projetos sociais da região, apresentando conceitos de produção sustentável, aquaponia e boas práticas de manejo. “É um estilo de vida. Queremos mostrar outras formas de geração de renda e conscientização ambiental”, diz o sócio.

Com investimentos robustos, tecnologia aplicada, produção orgânica, integração produtiva e uma gestão centrada em eficiência e impacto socioambiental, a Big Fish Piscicultura se consolida como um case exemplar da nova geração da aquicultura brasileira. Um empreendimento que não apenas produz peixe e hortaliças, mas que redesenha a forma como os sistemas alimentares podem ser integrados, sustentáveis e economicamente viáveis.

No coração do interior paulista, a Big Fish deixa claro que a tilápia do futuro será cada vez mais limpa, rastreável, sustentável — e produzida em sistemas inteligentes como este.

tilapia peixe de cultivo
Foto: Wenderson Araujo / Trilux

Piscicultura brasileira

O mercado de piscicultura no Brasil vive uma das fases mais dinâmicas e promissoras de sua história, impulsionado pelo crescimento do consumo interno, pela profissionalização das cadeias produtivas e pela expansão das exportações. Nos últimos anos, o país consolidou-se como um dos maiores produtores de peixes de cultivo do mundo, com destaque absoluto para a tilápia, que já responde por mais de metade de toda a produção aquícola nacional. A espécie, originária da África, adaptou-se de forma extraordinária ao clima brasileiro, permitindo ciclos produtivos rápidos, boa conversão alimentar e oferta contínua ao longo do ano.

Além disso, seu sabor suave, a versatilidade culinária e a carne considerada “limpa” pelos consumidores contribuíram para que se tornasse a proteína de peixe mais consumida no país. Com investimentos crescentes em genética, manejo, processamento e sustentabilidade, a tilápia tem se tornado não apenas a estrela da aquicultura brasileira, mas também um produto de forte potencial para conquistar mercados internacionais.

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