Agro sustenta economia em 2025, mas CNA alerta que cenário será desafiador em 2026

Setor puxou PIB, conteve inflação e segurou empregos, mas inadimplência recorde, seguro rural enfraquecido, tarifaço dos EUA e riscos climáticos colocam o produtor em estado de atenção para o próximo ano.

O agronegócio brasileiro encerra 2025 como o principal amortecedor da economia, responsável por reduzir a inflação, sustentar o PIB e equilibrar a balança comercial. Mas, apesar do desempenho robusto, 2026 exigirá cautela e maior capacidade de gestão de risco por parte dos produtores. Essa é a avaliação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), apresentada em coletiva nesta terça-feira (9), com a presença de João Martins (presidente), Sueme Mori (Relações Internacionais) e Bruno Lucchi (diretor técnico).

A seguir, os pontos centrais do balanço 2025 e das projeções 2026.

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Inflação, PIB e motores da economia: agro foi decisivo para o Brasil crescer em 2025

A CNA destaca que o agro evitou que o país descumprisse a meta de inflação. O IPCA deve fechar o ano em 4,4%, com forte contribuição da queda dos preços de alimentos — reflexo direto da supersafra. Sem o setor, haveria risco de aperto monetário ainda maior, considerando que a Selic permanece em 15% ao ano.

O PIB do agronegócio deve crescer 9,6% em 2025, alcançando R$ 3,13 trilhões, enquanto para 2026 o avanço previsto é de apenas 1%, indicando desaceleração.

A atividade também sustenta o mercado de trabalho: 28 milhões de ocupados, cerca de 26% da força laboral brasileira.

Situação fiscal: 2026 deve ser marcado por aperto e aumento de arrecadação

A CNA alerta que o próximo ano deve trazer pressão fiscal elevada. Com déficit primário e dívida pública em alta, o governo deve intensificar ações de receita, incluindo:

  • maior fiscalização da Receita Federal,
  • ampliação de bases tributárias,
  • possíveis mudanças que atinjam setores estratégicos do agro.

Segundo a entidade, esse ambiente mantém a economia frágil e pode restringir investimentos produtivos.

Endividamento em patamar histórico: crédito rural vive pior momento desde 2011

Em outubro de 2025, a inadimplência do crédito rural com taxas de mercado atingiu 11,4%, o maior nível desde o início da série histórica. No mesmo mês de 2024, era de 3,54%.

As causas, segundo a CNA, são claras:

  • problemas climáticos recorrentes,
  • queda nos preços das commodities,
  • aumento dos custos de produção,
  • bancos mais restritivos e juros elevados,
  • baixa cobertura de seguro rural.

Para recuperar o produtor, a entidade defende soluções estruturais que fortaleçam a previsibilidade financeira e climática.

Seguro rural enfraquecido: menor cobertura desde 2007 agrava risco para 2026

O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) teve em 2025 seu pior desempenho em quase 20 anos:

  • apenas 2,2 milhões de hectares cobertos,
  • o equivalente a menos de 5% da área agricultável do Brasil.

O baixo orçamento e os contingenciamentos deixam o produtor exposto a perdas climáticas e ampliam o risco de endividamento — um dos principais alertas para 2026.

Produção e VBP: projeções positivas, mas com ajustes importantes para 2026

O Valor Bruto da Produção (VBP) deve alcançar em 2026:

  • R$ 1,57 trilhão, alta de 5,1% em relação a 2025;
  • Agrícola: R$ 1,04 trilhão (+6,6%);
  • Pecuária: R$ 528 bilhões (+2,2%).

Para 2025, o VBP estimado é de R$ 1,49 trilhão, impulsionado pela pecuária de corte, com alta de 14,2%.

Safra 2025/26: soja cresce, milho recua e arroz sente queda de área

Segundo a Conab, a próxima safra deve totalizar 354,8 milhões de toneladas (+0,8%):

  • Soja: 177,6 milhões de toneladas (+3,6%),
  • Milho total: 138,8 milhões de toneladas (-1,6%),
  • Arroz: 11,3 milhões de toneladas (-11,5%),
  • Feijão: estabilidade em 3,1 milhões de toneladas.

Pecuária: abate de fêmeas pressiona oferta e deve puxar preço da arroba em 2026

O Brasil registrou alta de 5,6% nos abates até o terceiro trimestre de 2025, com destaque para:

  • 49,9% de fêmeas,
  • sinal claro de início de ciclo de retenção e futura redução de oferta.

A CNA projeta:

  • queda de 4,5% na produção de carne bovina em 2026,
  • menor oferta,
  • alta nos preços da arroba e reposição.

Com a carne bovina mais cara, há risco de migração do consumo para outras proteínas.

Tarifaço dos EUA: perdas potenciais de US$ 2,7 bilhões em 2026

O cenário internacional é um dos maiores pontos de tensão apontados pela CNA.

As tarifas adicionais de 40% impostas pelos Estados Unidos a produtos agropecuários (fora da lista de exceções) podem gerar:

  • impacto de até US$ 2,7 bilhões no ano,
  • redução equivalente a 22% das exportações brasileiras para aquele mercado.

Entre agosto e novembro de 2025, as exportações brasileiras ao mercado norte-americano já caíram 37,85%.

O setor também observa:

  • risco de salvaguardas chinesas para carne bovina, da qual o Brasil é responsável por 50% das importações do país asiático;
  • possível perda de market share no mercado chinês caso haja acordo comercial EUA–China envolvendo soja.

Mercosul–UE e Lei Antidesmatamento: avanços, incertezas e riscos de barreiras

A CNA avalia que a separação do capítulo comercial do acordo Mercosul–UE pode acelerar a ratificação, mas salvaguardas agrícolas podem comprometer ganhos esperados.

Além disso, o Parlamento Europeu adiou a entrada em vigor da Lei Antidesmatamento (EUDR) para:

  • 30 de dezembro de 2026 (grandes operadores),
  • 30 de junho de 2027 (micro e pequenas empresas).

China: plano quinquenal e regras rígidas pressionarão o agro brasileiro

A CNA alerta para três riscos relevantes no mercado chinês:

  • incentivo à produção doméstica de grãos,
  • controle mais rígido de estoques estratégicos,
  • estímulo a alternativas ao farelo de soja, o que pode reduzir importações.

2026 será o teste de resiliência do agro brasileiro

Depois de um 2025 marcado por supersafra, PIB forte e protagonismo no combate à inflação, o agro entra em 2026 com um ambiente mais complexo:

  • risco fiscal,
  • queda de oferta pecuária,
  • inadimplência recorde,
  • baixa cobertura de seguro,
  • disputas internacionais intensificadas,
  • incertezas climáticas.

A CNA resume: será preciso planejamento, gestão de riscos e articulação institucional para atravessar o próximo ciclo sem comprometer a saúde financeira do campo.

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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