Agronegócio e o novo governo: cenário e perspectivas

USDA projeta que a oferta e demanda global daqui 10 a 15 anos, é que, do acréscimo da demanda total de produtos agrícolas, 40% virão do Brasil.

Para muitos, o governo Lula e o agronegócio — setor que tem tido muita relevância no PIB do país nos últimos 20 anos — são polos opostos. Mas o que realmente esperar da relação do agronegócio com a política diante da nova conjuntura de governo?

O programa de William Waack, na CNN, trouxe o assunto como tema principal e contou com os especialistas, José Roberto Mendonça de Barros, economista e sócio da MB Associados; Marcos Jank, Professor e Coordenador no Insper Agro Global; e Xico Graziano, Engenheiro Agrônomo com larga experiência na política agrícola do país.

Segregação do setor

Uma das propostas políticas do governo que entra é a segregação dos ministérios que haviam sido unificados durante o mandato de Michel Temer, em 2016, “dividindo” o agronegócio basicamente em grandes produções e agricultura familiar. Jank apontou essa segregação como negativa para o setor.

 “Acho muito ruim resgatar a ideia de que existem dois agronegócios (…)A ideia de que o agronegócio se contrapõe à agricultura familiar é falsa, o setor é formado por cadeias de produção compostas por pequenos, médios e grandes produtores.

Aqui no Brasil tentamos fazer essa dicotomia, o que pode gerar um certo atrito no meu entendimento”, pontuou, concluindo sobre a importância do diálogo e equilíbrio entre o setor e o governo. “Pela importância econômica hoje, tanto em termos de geração de empregos, interiorização do desenvolvimento e as questões das exportações, o setor vai entrar nesse diálogo, vai atrás de ter bons interlocutores e de ter uma bancada forte”, disse.

Xico Graziano, que foi  chefe de gabinete do presidente Fernando Henrique Cardoso e exerceu diversos cargos públicos, acredita na possibilidade de existir conflitos. “Eu acho que vamos ver um conflito entre os grupos mais radicais, mas tomara que isso aconteça em um clima razoável e que permita que o agronegócio avance”, pontuou.

José Roberto Mendonça de Barros concorda, mas destacou que o setor tem tido bom desempenho e que este tende a continuar. “Podemos tem um estranhamento a princípio, mas isso tende a uma certa acomodação (…) a evolução do setor deve continuar, um pouco menos brilhante do que nos últimos tempos devido ao cenário internacional, mas se estenderá”, relatou ele.

Onde o Governo pode ajudar o agro evoluir?

O agronegócio tem dependido cada vez menos do governo depois da desregulamentação dos anos 90. “Até os anos 90 eram só intervenções de governo, estoques públicos, preços controlados e controle das exportações. Após a desregulamentação, o agro ganhou muito em produtividade, que cresceu 3% ao ano nos últimos 30 anos. 

Isso é mais do que EUA e Europa, o que nos permitiu criar um setor muito forte”, destacou Jank, enfatizando também a necessidade da redução do desmatamento ilegal: “Acho que se o governo Lula conseguir reduzir o desmatamento ilegal, respeitando o código florestal, será extremamente positivo. E ele já fez isso no outro governo dele”, disse.

O Brasil tem leis que permitem o desmatamento legal, mas focar em reduzir o que é ilegal é positivo para o setor.  “É um ponto que pode ser muito bem-visto pelo exterior. Nós estamos sendo extremamente cobrados pelo desmatamento. O que nós vimos na COP recentemente é que viramos o foco nessa questão”, destacou Jank. Xico concluiu ressaltando a necessidade de controle nas áreas públicas da Amazônia: “A maior parte da Amazônia está em terras públicas, então o grande problema de desmatamento está nessa gestão de terras (…) e o governo tem condições de fazer isso”, destacou o Engenheiro Agrônomo.

Crises internacionais e o Agronegócio

O mercado internacional tem passado por crises contínuas. Secas, guerras, pandemia. Todos esses são fatores que limitam o crescimento e o desenvolvimento da economia como um todo. Xico destaca a importância de cenários mundiais controversos frente às mudanças do país.

“Quando olho o que vai acontecer, estou menos preocupado com o que vai acontecer aqui relacionado ao Lula, do que o que pode acontecer lá fora. O agro brasileiro pode ser muito afetado dependendo do que vai acontecer na China e região, por exemplo (…) os milhões de hectares de solo da Ucrânia e da Rússia – próximos da China – que estão começando abrir uma janela de plantio que, se eles começarem a produzir soja, óleo, girassol, é isso que vai afetar o agro brasileiro”, destacou Graziano.

Como fica o futuro do Agronegócio?

Em um recente relatório do USDA (Departamento de Agricultura Americano), que projeta o que será a oferta e demanda global daqui 10 a 15 anos, a conclusão é que, do acréscimo da demanda total de produtos agrícolas, 40% virão do Brasil. Isso demonstra que há uma perspectiva positiva para o futuro do setor. “Nos estamos no meio de uma onda de crescimento que não vai parar, e, se puder agregar uma mensagem e uma prática ambiental mais substantiva a isso, estaremos enfrentando de forma construtiva as restrições”, concluiu José Roberto.

Nos últimos dias, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva definiu que o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) será o futuro ministro da Agricultura. A expectativa é de que o anúncio seja feito até hoje (27/12), data máxima citada por Lula para apresentação do restante do primeiro escalão. Na última semana, o Lula já anunciou 16 nomes de ministros. Com isso, já foram preenchidas 21 dos 37 ministérios do novo governo.

Fonte: MilkPoint

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