Agronegócios: por que somos dependentes da importação de fertilizantes?

A maior dependência é pelo cloreto de potássio: 96,5% vêm do exterior, com destaque para Rússia, Bielorrússia e Canadá. Como escapar disso?

A guerra entre Rússia Ucrânia jogou luz sobre uma questão preocupante para o crescimento do Brasil. Dono de uma produção agrícola recorde, com peso decisivo no PIB, o País depende da importação de fertilizantes para manter a atividade nos seus campos. Segundo dados do Ministério da Agricultura, no governo de Jair Bolsonaro, a importação representa 85% do total utilizado pelos produtores brasileiros. A maior dependência é pelo cloreto de potássio: 96,5% vêm do exterior, com destaque para Rússia, Bielorrússia e Canadá. Como escapar disso?

“Nesse nosso mercado, não existe solução de curto prazo”, afirma Cristiano Veloso, fundador e CEO da Verde Agritech, que vai investir R$ 275 milhões no próximo ano na construção de uma terceira fábrica no País. A empresa prevê suprir 3,79% da demanda nacional por potássio no segundo semestre deste ano, número que deverá chegar a 16,4% daqui a dois anos com a abertura da nova instalação. Para começar a virar esse jogo, segundo Veloso, o setor aposta no recém-lançado Plano Nacional de Fertilizantes, do governo federal.

Nesta conversa à coluna, o empresário falou sobre outros temas, como licenças ambientais (são absolutamente necessárias para assegurar uma produção sustentável) e previsão de faturamento da Verde Agritech – que deve fechar o ano com receita superior a R$ 430 milhões, ante R$ 119,3 milhões em 2021 e R$ 35,2 milhões em 2020. Acompanhe…

A produção agrícola brasileira depende hoje de 85% de fertilizantes importados para se viabilizar. E, no caso específico do potássio, essa dependência chega a 96%. Por que o País, considerado um modelo do agrobusiness no mundo, chegou a essa situação? A decisão da Petrobras de privatizar ou fechar fábricas no setor pesou para isso?

A Petrobras está associada à produção de nitrogenados, enquanto o nosso negócio é produção de potássio. São fertilizantes diferentes. No caso do cloreto de potássio, é preciso  analisar o histórico de preços pagos por este adubo (comida para a planta), que é o segundo item na pauta de importação brasileira, segundo o Ministério da Economia.

Para que uma mina possa começar a produzir, são necessários cerca de dez anos de investimentos. Desde 2012, o preço do potássio vinha se mantendo em um patamar muito baixo e, apesar da alta dos últimos meses, já entrou em tendência de queda e deve voltar aos patamares médios históricos. Sem esse incentivo econômico para o desenvolvimento de novas minas, que tenham potencial significativo no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo, não faz sentido para as empresas investimentos nesta área, o que ajuda a entender esta dependência internacional brasileira pelo cloreto de potássio.

Por outro lado, a Verde Agritech, ao contrário dos outros players tradicionais da indústria de fertilizantes, dedicou os últimos 14 anos para produzir um potássio diferente desta commoditie que o Brasil importa, que é o potássio sem cloro.

O adubo da Verde Agritech é tecnológico e sustentável, resultado de mais de meio bilhão de investimentos. Somos uma empresa inovadora, que investiu em testes agronômicos, planta-piloto e, finalmente, unidade industrial para colocar à disposição do agricultor brasileiro uma fonte sustentável, única de potássio sem cloro e que é aditivado com microrganismos, graças a uma tecnologia chamada Bio Revolution, desenvolvida em parceria com as universidades federais de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e de São Carlos (SP). Isso é muito importante porque, cada vez mais, o agronegócio é pressionado a adotar práticas mais sustentáveis.

Recentemente, o governo apresentou o seu Plano Nacional de Fertilizantes, mas o plano está longe de resolver a situação de curto prazo, ao prever que a dependência de fertilizantes importados vai diminuir para 50% só em 2050. Qual sua avaliação sobre as medidas? E o que poderia ser feito para incentivar, no curto prazo, novos investimentos no setor?

Nesse nosso mercado, não existe solução de curto prazo para resolver a questão da dependência internacional do Brasil pelo potássio importado. Agora, era preciso iniciar um debate sobre esta super dependência do agronegócio brasileiro, e o Plano Nacional de Fertilizantes lançou luz sobre o problema.

Como a produção de potássio depende de muitos anos de pesquisa e desenvolvimento e muito investimento diante de preços historicamente baixos pagos pelo produto, falta o incentivo financeiro para que novos playersinvistam no setor.

Mas o Brasil tem opção. A mina da Verde Agritech em São Gotardo e Matutina, interior de Minas Gerais, tem condições de suprir a demanda nacional por potássio por 60 anos e é dever do País oferecer ao agricultor uma opção que devolva a ele o controle da produção. O produtor é um herói brasileiro, porque todo ano ele se arrisca diante de todos os desafios que cercam a agricultura para produzir alimentos, uma missão nobre e que precisa ser reconhecida.

A empresa anunciou a construção, a partir de 2023, de uma terceira fábrica, com investimentos de R$ 275 milhões. Qual a fonte desse capital? Próprio, contou com financiamento oficial?

A construção da nova planta, que elevará a capacidade de produção da companhia para 16,4% da demanda nacional por potássio, será realizada com recursos próprios. A Verde Agritech, listada na Bolsa de Toronto, no Canadá, nunca distribuiu lucros aos acionistas, porque 100% são reinvestidos em inovação e na expansão da empresa. Foi por meio desta estratégia que conseguimos implantar procedimentos e tecnologias que tornam nossa operação sustentável.

Por exemplo, apesar de operar uma mina, nossa extração de potássio não gera rejeitos, o que permite produzir sem a necessidade de barragem. O processo industrial não utiliza nenhum produto químico, porque adotamos a tecnologia Cambridge Tech, desenvolvida em parceria com a Universidade de Cambridge, do Reino Unido, tornando nosso produto recomendado, inclusive, para a agricultura orgânica.

O local já está definido? Se ainda não, o que tem adiado essa escolha?

Apesar de manter conversas com governadores e prefeitos neste sentido, inclusive de Minas Gerais, o local da terceira planta da Verde Agritech ainda não está definido. Sem dúvida, o Estado que receber esta planta terá condições de se tornar autossuficiente em potássio.

Qual sua avaliação sobre as exigências de licenças ambientais que cercam hoje a exploração de potássio e a produção de fertilizantes no Brasil? Elas podem ser vistas como um entrave ao setor? Deveriam ser revistas?

As licenças ambientais jamais devem ser vistas como entrave para o setor, ao contrário, elas são absolutamente necessárias para assegurar uma produção sustentável. O Ibama, na esfera federal, e as secretarias de meio ambiente, no âmbito estadual, possuem equipes técnicas, super diligentes – e que têm uma grande responsabilidade ao analisar um processo ambiental – para assegurar operações seguras e eficientes. Afinal, se a nossa missão é devolver o controle ao agricultor e permitir que o agronegócio produza de forma sustentável, é preciso que nossas operações estejam alinhadas com estas premissas.

Qual a previsão de receita e lucro da companhia em 2022, na comparação com 2021?

Em maio deste ano, publicamos um guidance ampliando a expectativa de faturamento e vendas para 2022. A companhia projetou vendas de um milhão de toneladas de potássio e receita superior a R$ 430 milhões. No ano passado, a Verde Agritech faturou R$ 119,3 milhões, 239% a mais do que em 2020, quando a companhia anunciou receita de R$ 35,2 milhões.

A produção atual da companhia é totalmente absorvida por agricultores brasileiros?

O agricultor brasileiro é, sem dúvida, o grande foco da companhia, que tem feito esforços no sentido de contribuir para a redução desta dependência do produtor pelo produto importado. Nosso produto que sai de Minas Gerais já é usado por mais de cinco mil agricultores. Uma área superior a um milhão de hectares é adubada com o potássio sem cloro da Verde Agritech. Além do Brasil, nossos produtos também são usados, em pequena quantidade, pelos Estados Unidos, Canadá, América do Sul e Ásia.

Fonte: Veja

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