Resíduos de endectocidas e acaricidas causaram suspensão de frigoríficos brasileiros pela China; manejo adequado, atenção ao período de carência dos medicamentos na pecuária e comunicação entre produtores são fundamentais
O uso de medicamentos veterinários na pecuária brasileira — especialmente os endectocidas e o acaricida fluazuron — tem gerado preocupações cada vez maiores no mercado internacional. A negligência com o período de carência desses produtos resultou em sanções comerciais severas, incluindo a suspensão de três frigoríficos brasileiros pela China, sendo um deles o maior do estado de Goiás, que permanece desabilitado há mais de um ano.
O que é o período de carência?
O período de carência é o intervalo necessário entre a última aplicação de um medicamento no animal e o seu abate para consumo humano. Esse tempo é essencial para que o organismo elimine todos os resíduos do princípio ativo, garantindo que a carne esteja livre de contaminantes e seja segura para o consumo.
O não cumprimento desse intervalo pode resultar em resíduos nos produtos de origem animal, o que compromete a segurança alimentar e fere os critérios rigorosos de importação de diversos países, sobretudo da China e União Europeia.
Falta de manejo e comunicação gera risco coletivo
De acordo com Antônio Coutinho, gerente técnico da Vetoquinol Saúde Animal, ouvido pelo Giro do Boi, o problema não é apenas do pecuarista individual, mas sim do Brasil como um todo, uma vez que compromete a imagem internacional do país como exportador confiável. Para ele, o erro poderia ser evitado com medidas simples, como o uso consciente dos medicamentos e o cumprimento rigoroso da bula.
Outro ponto crítico levantado no uso de medicamentos na pecuária é a falta de comunicação entre os elos da cadeia produtiva. Um exemplo citado: se um produtor de gado de reposição aplica um medicamento com carência de 130 dias e o comprador confina o animal por apenas 100 dias antes do abate, a carne sairá com resíduos — o que pode gerar bloqueios sanitários e perdas econômicas irreparáveis.
Consequências econômicas e sanitárias
A credibilidade da carne brasileira — reconhecida mundialmente — está diretamente ligada à disciplina e à rastreabilidade na fazenda. O descuido com a carência pode derrubar mercados inteiros, como demonstrado pela sanção chinesa, que levou frigoríficos importantes a perderem acesso ao maior comprador global de proteína bovina.
O uso correto de medicamentos, portanto, não deve ser visto como um custo, mas como um investimento com alto retorno. Como destaca a reportagem, o “custo sanitário é uma economia cara que não vale a pena”.
O que dizem a Embrapa e instituições renomadas
Segundo orientações técnicas da Embrapa Gado de Corte, é essencial que o pecuarista mantenha um plano de manejo sanitário rigoroso e atualizado, com todos os medicamentos utilizados devidamente registrados, datas de aplicação anotadas e os períodos de carência observados com exatidão. Além disso, a capacitação das equipes envolvidas no trato com os animais é fundamental para minimizar falhas operacionais.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) também recomenda o uso de sistemas de rastreabilidade eficazes e planos de controle de resíduos, principalmente em países exportadores. A rastreabilidade individual dos animais, por exemplo, permite identificar rapidamente qualquer falha e agir antes que o produto chegue ao mercado.
Dessa forma, a segurança alimentar e a reputação internacional do Brasil como potência agroexportadora dependem de ações simples e coordenadas entre todos os atores da cadeia pecuária. Respeitar o período de carência no uso de medicamentos na pecuária é uma responsabilidade compartilhada, que vai além da fazenda e repercute nas relações comerciais com o mundo.
O alerta serve de lembrete para que produtores, técnicos, confinadores e frigoríficos atuem com responsabilidade, planejamento e comunicação eficiente — única forma de evitar prejuízos bilionários e garantir o acesso ao exigente mercado global.
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