Alternativas de destinação de bezerros na produção de leite

Os principais fatores que impactam negativamente o consumidor são a separação da vaca e bezerro após o parto em idade precoce em que os machos são abatidos.

A produção de leite avançou consideravelmente nos últimos anos, atualmente o Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial, produzindo cerca de 34 bilhões de litros por ano, segundo dados do anuário do leite.

atividade está presente em 98% dos municípios brasileiros, com predominância de pequenas e médias propriedades (EMBRAPA, 2022). Com esse desenvolvimento, muitas práticas tradicionais da atividade vêm chamando atenção de um público consumidor que está cada vez mais preocupado com a origem de seu alimento.

À exemplo disso está o destino dos bezerros machos em fazendas de leite, que volta e meia torna-se pauta de discussão. Nesse sentido, é necessário dialogar com as partes envolvidas sobre a realidade dentro da fazenda, bem como as possíveis alternativas que possam ser aplicadas ao uso do bezerro macho na propriedade de leite. 

Manejo do bezerro macho

Dentro de uma propriedade leiteira é desejável que uma vaca ou novilha tenha, ao menos, uma cria ao ano, sendo essa cria preferencialmente fêmea, para que entre no planejamento de reposição do rebanho, já o macho na maioria das vezes, é comercializado e passa pouco tempo na propriedade.

Apesar disso, pensando na biosseguridade de todo o rebanho, ele deve receber igualmente todos os cuidados de um recém-nascido. Para isso, é importante se atentar aos cuidados após o nascimento dos bezerros, que assim como as fêmeas, requerem atenção redobrada nas primeiras horas de vida:

  • após o parto devemos avaliar a vitalidade do animal, observando seu decúbito e reflexos, além disso, devemos realizar a desobstrução das vias respiratórias e estimular a respiração por meio de massagem;
     
  • o animal deve ser seco com auxílio de uma toalha ou pode-se utilizar pó secante;
     
  • deve ser feita a cura de umbigo com solução de iodo a 5 ou 7%, duas vezes ao dia, até o coto secar e cair;
     
  • o bezerros machos também devem ser pesados antes de seguirem para colostragem, a identificação fica à critério da fazenda;
     
  • a colostragem deve seguir a mesma qualidade que seria dispensada a uma bezerra fêmea: o colostro ofertado deve ter 25% ou mais na escala do refratômetro Brix, de boa qualidade microbiológica, menos de 100.000 unidades formadoras de colônia UFC/mL e menos de 10.000 UFC/ml de coliformes totais (GODDEN, 2020).

    A quantidade irá variar de 10% do peso vivo do animal em até duas horas após o nascimento, e 5% do peso até oito horas depois. O manejo vai variar de acordo com a fazenda: naturalmente, mamadeira ou sonda esofágica;
  • O animal deve ser abrigado em local seco, aquecido e com cama de boa qualidade.
     

Alternativas para bezerros machos

É notório que cada vez mais o interesse do público a respeito do tratamento recebido por animais de produção em fazendas vem aumentando. No Brasil segundo dados do programa Alta Cria, alguns destinos para os machos em fazendas leiteiras são:

  • 32% conseguem vender os machos ainda na primeira semana de vida,
  • 21% doam os machos na primeira semana de vida,
  • 16% criam para engorda na própria fazenda,
  • 11% criam para venda futura como tourinhos,
  • 8% abatem na fazenda logo após o nascimento;
  • 12% vendem ou doam após o desaleitamento.

Segundo Ritter et. al. (2022), os principais fatores que impactam negativamente o consumidor são a separação da vaca e bezerro após o parto e a idade precoce em que bezerros machos são abatidos. A seguir, listamos algumas alternativas que podem ser viáveis para a propriedade leiteira considerando os bezerros machos.

Sexagem espermática

Uma das alternativas que podem ser utilizadas em propriedades leiteiras que fazem o uso de técnicas reprodutivas como a inseminação artificial, é a utilização de sêmen sexado.

A técnica consiste na escolha do espermatozoide portador do cromossomo X, e tem ganhado bastante repercussão por conta do interesse comercial em selecionar as fêmeas, evitando o nascimento de machos.

As vantagens do sêmen sexado podem incluir taxas aceleradas de ganho genético no rebanho feminino e taxas reduzidas de distocia devido a bezerras menores, embora potenciais reduções na fertilidade possam reduzir os benefícios financeiros associados à implementação.

O uso combinado de sêmen sexado para produzir um número necessário de fêmeas de reposição com cruzamento visando produção de carne no restante do rebanho, tem o potencial de melhorar o valor dos bezerros excedentes. Contudo, umas das principais desvantagens é o custo, segundo a ASBIA (associação brasileira de inseminação artificial), a dose de um sêmen convencional, em média, custa R$ 25, enquanto que o sexado pode chegar a R$ 95.

Cria e comercialização

A criação e comercialização de tourinhos em fazendas precisa ser muito bem avaliada. O ponto principal é a baixa aptidão para o corte, visto que a aptidão natural desses animais é visando a produção de leite.

Contudo, diante de um mercado competitivo e o valor pago pela arroba do boi, a cria e comercialização desses animais é mais uma opção, que em linhas gerais, pode ser boa e rentável para o produtor. Outra opção é a criação de touros apenas para rufiação, pois se forem utilizados como touros de repasse, devido ao baixo valor genético desses animais e risco de consanguinidade, a sua criação para touro reprodutor dentro da propriedade não é uma boa alternativa.

Doação de bezerros leiteiros machos

A doação desses animais da fazenda de onde nasceram para fazendas de engorda é uma prática comum em propriedades leiteiras, cerca de 21% das propriedades participantes do programa Alta Cria são adeptas. Para isso o produtor deve se atentar principalmente aos riscos durante o transporte desses animais, evitando transportá-los em dias muito quentes, além de evitar longas distâncias ou então superlotação no caminhão que os animais serão levados.

A discussão a respeito da destinação dos bezerros machos é crescente e envolve questões de bem-estar animal e a preocupação do consumidor com o alimento que chega à sua mesa. É importante ressaltar que apesar da alternativa escolhida, o produtor deve sempre manter a sanidade desses animais durante o tempo todo que permanecerem dentro da propriedade.

Fonte: MilkPoint

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