Após divergências sobre estrutura e governança, gigante do agro Amaggi encerra parceria com Inpasa e decide seguir de forma independente e inicia obras em Rondonópolis (MT)
A gigante do agronegócio Amaggi anunciou o fim da parceria com a Inpasa para a formação de uma joint venture voltada à produção de etanol de milho. A decisão, oficializada em comunicado conjunto nesta terça-feira (14), encerra tratativas que movimentavam o setor desde agosto e prometiam investimentos bilionários em Mato Grosso — com expectativa de injetar até R$ 7,5 bilhões na economia e gerar milhares de empregos.
Apesar do rompimento, a Amaggi confirmou que seguirá com o projeto sozinha, mantendo a construção da primeira usina de etanol em Rondonópolis (MT), com investimento estimado em R$ 2,5 bilhões. A empresa já deu entrada no pedido de licença de instalação e pretende erguer a planta em uma área própria, utilizando matéria-prima, biomassa e cultivos florestais da própria companhia — o que deve reduzir custos operacionais e garantir autossuficiência energética.
Divergências estratégicas e visão de futuro
De acordo com as companhias, a decisão foi tomada após constatarem visões distintas quanto à estrutura e governança do projeto, optando por seguir caminhos independentes. O processo, segundo ambas, foi conduzido “de forma transparente e com total alinhamento aos princípios de boa governança corporativa”.
Fontes próximas à negociação indicam que a Amaggi avaliou ser mais vantajoso manter o investimento sob um único CNPJ, evitando a criação de uma nova empresa e reduzindo a carga tributária e burocrática que uma joint venture exigiria.
Além disso, a companhia quer agilizar a execução do projeto para aproveitar a atual “janela de expansão” do mercado de etanol de milho, que, segundo especialistas, pode se fechar nos próximos anos devido à pressão futura sobre as margens e possível consolidação do setor.
“Constituir comitês de engenharia, suprimentos e governança levaria de cinco a seis meses, e isso é tempo”, afirmou uma fonte à Globo Rural. “A Amaggi decidiu correr contra o relógio para colocar a planta em operação antes que o mercado passe por ajustes estruturais.”
Municípios frustrados com o recuo da parceria
O anúncio gerou frustração em municípios mato-grossenses que contavam com os investimentos da antiga parceria. Em Rondonópolis, o prefeito Cláudio Ferreira (PL) havia comemorado, há pouco mais de um mês, a expectativa de receber o empreendimento, que prometia dois mil empregos na construção e 300 na operação.
Outros municípios, como Campo Novo do Parecis e Querência (MT), também estavam nos planos da joint venture e podem ser beneficiados futuramente por novas usinas da Amaggi. A empresa indicou que pretende manter os projetos nestas regiões, agora em caráter independente.
“Essa seria uma união de expertises muito interessante”, observou Gilberto Leal, head de commodities da Granel Corretora. “A Inpasa traria tecnologia e distribuição, e a Amaggi agregaria no trading e na logística, com ativos portuários e estrutura de exportação. A separação muda o cenário, mas o potencial segue enorme.”
Cenário do etanol de milho e próximos passos
O projeto entre Amaggi e Inpasa previa cinco usinas de etanol de milho, cada uma avaliada em cerca de R$ 2,5 bilhões, totalizando R$ 12 bilhões em investimentos. Com o rompimento, a Inpasa deve manter seu foco na expansão de plantas próprias — já possui unidades em Sinop, Nova Mutum, Dourados, Sidrolândia e Balsas, além de uma em construção em Luís Eduardo Magalhães (BA).
Já a Amaggi consolida sua entrada definitiva no mercado de biocombustíveis, com verticalização completa da cadeia, aproveitando sua força na produção e comercialização de grãos. A empresa aposta em um modelo integrado de geração de energia com biomassa e etanol de milho — caminho que reforça sua transição para uma economia de baixo carbono.
Amaggi encerra parceria com Inpasa e construirá usina de etanol de R$ 2,5 bilhões sozinha
| Projeto | Investimento estimado | Localização inicial | Situação atual |
|---|---|---|---|
| Joint venture Amaggi–Inpasa | R$ 7,5 bilhões | Rondonópolis, Campo Novo do Parecis e Querência (MT) | Cancelada |
| Nova usina Amaggi (individual) | R$ 2,5 bilhões | Rondonópolis (MT) | Em licenciamento |
| Outras plantas Amaggi | R$ 5 a 10 bilhões (estimados) | MT (em estudo) | Previstas para fases futuras |
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