Análise: França apela para tentar inviabilizar acordo Mercosul–UE

Governo francês pede que votações sobre tratado de livre comércio entre os blocos sejam adiadas no Parlamento e no Conselho Europeu e busca apoio da Itália.

O pedido do governo da França para adiar as votações no Parlamento e no Conselho Europeu sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia é uma clara tentativa de inviabilizar o tratado, que pode criar uma das maiores e mais importantes zonas de livre comércio do mundo.

Em pleno domingo (14), o gabinete do primeiro-ministro Sébastien Lecornu apresentou o pedido para que as duas votações, previstas para terça-feira (16) e quinta-feira (18), fossem adiadas, alegando que salvaguardas propostas pela Comissão Europeia ainda seriam insuficientes para proteger o agronegócio europeu.

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Segundo a agência de notícias Reuters, a França estaria próxima de conseguir o apoio da Itália para bloquear a votação. Juntos, os dois países poderiam adiar indefinidamente o acordo.

As duas votações representam as últimas etapas para que a Comissão Europeia possa finalmente assinar o acordo de livre comércio, negociado há mais de 25 anos.

O governo brasileiro, inclusive, está preparado para realizar a cerimônia de assinatura durante a reunião de Cúpula do Mercosul, marcada para este sábado (20), em Foz do Iguaçu, com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Ela viajaria para a América do Sul logo após o encerramento da votação no Conselho Europeu.

A França, no entanto, vem se opondo ao acordo desde que a negociação foi concluída, no fim do ano passado.

O governo francês adota uma postura francamente protecionista, ciente de que seus agricultores não têm condições de enfrentar o competitivo agronegócio sul-americano, em especial o brasileiro.

Para tentar contornar essa resistência, a Comissão Europeia propôs um sistema de salvaguardas que limitaria a importação de determinados produtos agrícolas caso eles inundassem o mercado do bloco.

Mesmo assim, França, Polônia, Bélgica e Irlanda, entre outros países da União Europeia, seguem contrários ao acordo. Alemanha, Espanha e Portugal, por outro lado, manifestam apoio claro ao entendimento.

Para ser aprovado no Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado e de governo dos 27 países do bloco, o tratado precisa do aval de ao menos 15 países que representem, juntos, 65% da população da União Europeia.

Nesse contexto, a Itália, que tem uma das maiores populações do bloco, torna-se o fiel da balança.

Temendo uma derrota, a França apelou. Pediu o adiamento da votação e se voltou a Roma.

Caso consiga adiar a votação, Paris passará a trabalhar para tentar enterrar definitivamente o acordo.

A estratégia francesa seria conquistar o apoio definitivo da Itália e, eventualmente, de outros países com interesses protecionistas semelhantes.

Além disso, o governo francês também aposta em uma possível perda de ímpeto do lado sul-americano, especialmente porque o Brasil deixará a presidência do Mercosul no fim de dezembro.

E o Brasil é justamente o país que mais tem se empenhado na aprovação do acordo, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazendo campanha contínua junto a líderes europeus.

Lula chegou a prometer, em pleno Palácio do Eliseu, sede da Presidência da França, ao lado de Emmanuel Macron, que o acordo seria assinado ainda durante a presidência de turno brasileira no Mercosul.

Na ocasião, Macron voltou a criticar o acordo, mas evitou rejeitar diretamente as provocações do brasileiro.

Preferiu atuar nos bastidores, tentando barrar o avanço do tratado dentro da própria Europa.

O acordo é considerado estratégico também para muitos países europeus.

A União Europeia teria acesso ampliado a um grande mercado consumidor e poderia, por exemplo, fortalecer sua presença em setores-chave da economia do Mercosul.
Isso num momento em que o continente foi forçado a aceitar imposições comerciais do presidente Donald Trump, que aumentou as tarifas também sobre produtos europeus.

O adiamento da votação seria uma enorme derrota para o livre comércio. E poderia também adiar indefinidamente o acordo.

Fonte: CNN Brasil

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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