Apenas um país é autossuficiente em comida, e o Brasil ficou de fora da lista

Pesquisa internacional publicada na Nature Food mostra que nem mesmo potências agrícolas como o Brasil produzem sozinhas todos os sete grupos alimentares essenciais; série da Universidade de Edimburgo traz um alerta global.

Num mundo cada vez mais interligado por cadeias globais de suprimento, a ideia de que um país possa alimentar sua população sem depender de importações parece cada vez mais utópica. Mas uma nova pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Edimburgo (Escócia) e da Universidade de Göttingen (Alemanha) mostra que, embora raríssimo, esse cenário ainda existe — e a única nação do planeta a atingir esse feito [ser autossuficiente em comida ] está bem ao lado do Brasil: a Guiana.

O estudo, publicado na prestigiada revista científica Nature Food, analisou a capacidade de 186 países em produzir localmente todos os alimentos essenciais para garantir uma dieta saudável à sua população. A conclusão surpreende: apenas a Guiana é autossuficiente nos sete grupos alimentares considerados fundamentais para a nutrição humana.

Para os pesquisadores, ser autossuficiente em comida significa produzir internamente todos os sete grupos alimentares essenciais:

  • Vegetais
  • Frutas
  • Grãos integrais
  • Carnes
  • Peixes
  • Leguminosas
  • Laticínios

A maioria dos países depende de importações para manter uma dieta equilibrada. Em alguns casos, a dependência é tão alta que quase toda a oferta de certos alimentos vem de apenas um país fornecedor, o que amplia os riscos em tempos de conflitos, pandemias ou mudanças climáticas severas.

Embora o Brasil seja uma potência mundial no agronegócio — líder na exportação de carnes, grãos e frutas — ele não foi citado como autossuficiente na pesquisa. Isso porque, apesar da alta capacidade produtiva, ainda depende de importações para complementar a dieta da população, especialmente em setores como pescados e alguns derivados lácteos.

Além disso, o relatório alerta que países da América Latina, mesmo com fartura de frutas e vegetais, enfrentam um paradoxo: grande parte da produção é exportada, reduzindo o consumo interno de nutrientes essenciais, como a vitamina C.

Entre os grupos analisados, nenhuma união econômica conseguiu alcançar a autossuficiência plena:

  • A região do Caribe e a África Ocidental, por exemplo, conseguem produzir no máximo dois grupos alimentares.
  • O Conselho de Cooperação do Golfo, no Oriente Médio, só é autossuficiente em carnes.
  • A China e o Vietnã chegaram perto: ambos conseguem suprir internamente seis dos sete grupos essenciais.

No extremo oposto do ranking para autossuficiente em comida, países como Afeganistão, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Macau, Catar e Iêmen não conseguem produzir nem mesmo um grupo alimentar completo para consumo interno, dependendo integralmente de importações.

Os autores do estudo enfatizam que a autossuficiência alimentar é um desafio para o século XXI, diante das tensões geopolíticas, da escassez de recursos naturais e dos efeitos das mudanças climáticas. A recomendação é clara: diversificar a produção local e fortalecer a cooperação internacional são caminhos indispensáveis para garantir a segurança alimentar no futuro.

“A maioria dos países está altamente vulnerável a choques no sistema alimentar global”, destaca o relatório.

Em um contexto em que a produção de alimentos se tornou estratégica para a estabilidade social e econômica, o exemplo da Guiana — um país com pouco destaque global — chama a atenção e levanta uma pergunta incômoda: como potências agrícolas ainda não conseguem garantir alimento suficiente para o próprio povo?

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