Arábia Saudita quer investir na armazenagem de grãos no Brasil

Iniciativa reacende debate sobre gargalos logísticos e falta de estrutura de estocagem que encarecem a produção nacional; Arábia Saudita quer investir em armazenagem de grãos no Brasil Para o deputado Edinho Bez (MDB-SC), país poderia pagar investimento estrangeiro com “alimento”

O Brasil está diante de uma possível parceria estratégica com a Arábia Saudita, que pode trazer investimentos bilionários em armazenagem de grãos e logística. A proposta, ainda em estágio inicial, envolve um modelo inédito: os recursos seriam reembolsados, a partir de 2030, com produtos agrícolas brasileiros, como soja e milho. A informação foi revelada pelo deputado federal Edinho Bez (MDB-SC) durante evento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) nesta quinta-feira (5), em Brasília.

A iniciativa, que coloca o país árabe como possível financiador da infraestrutura agropecuária brasileira, surge em meio a um dos maiores gargalos do agronegócio nacional: a baixa capacidade de armazenagem e os altos custos logísticos internos. Apesar de liderar o ranking global de exportações de grãos, o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais que comprometem sua eficiência e aumentam o custo das safras.

Um modelo alternativo de financiamento

Edinho Bez explicou que o investimento saudita teria contrapartida em alimentos, funcionando como uma espécie de permuta comercial com prazo de execução a partir da próxima década. “Não que eles não quisessem receber dinheiro, mas de repente, a partir de 2030, nós poderíamos pagar a conta fornecendo alimento”, destacou o parlamentar.

A proposta acende o sinal de alerta sobre a necessidade de o Brasil ampliar sua infraestrutura. Bez foi direto ao destacar que, apesar de possuir uma das maiores áreas agricultáveis do planeta, o país ainda carece de estrutura para acompanhar o próprio crescimento. “Se não investirmos de acordo com nosso potencial, não vamos conseguir corresponder”, declarou.

Armazenagem de grãos: calcanhar de Aquiles da produção nacional

Nos últimos anos, a deficiência em capacidade de armazenagem tem sido um problema crônico. Atualmente, o país possui uma capacidade estática de estocagem que não acompanha o ritmo da produção — um déficit que ultrapassa 100 milhões de toneladas, segundo estimativas da própria Conab.

Essa carência gera situações alarmantes: produtores tendo que estocar soja em caminhões, ao relento, ou alugando espaços improvisados, o que compromete a qualidade do grão e gera perdas financeiras consideráveis. “Estamos aumentando a produção e não estamos correspondendo em armazenagem”, criticou Bez. Ele prometeu levar o tema ao Congresso e propor leis que viabilizem a modernização da logística agrícola.

armazenagem de grãos
Deputado Edinho Bez (ao centro) durante reunião com comitiva do Conselho Shura da Arábia Saudita. Reprodução/IBL – 17.jun.2024.

Logística interna: o outro nó da cadeia de alimentos

Além da armazenagem, outro fator que agrava os custos da produção nacional é a logística de transporte deficiente. A maior parte do escoamento ainda depende de rodovias, muitas delas em más condições, e com alto custo de frete. A escassez de ferrovias e hidrovias encarece o transporte dos grãos até os portos, fazendo com que o produtor perca competitividade frente a países como os Estados Unidos, que contam com infraestrutura multimodal eficiente.

Essa limitação logística também reforça a importância do projeto saudita. Caso se concretize, o investimento externo poderia incluir construção de armazéns, silos, centros de distribuição e até corredores de exportação, aliviando o produtor rural e otimizando os fluxos de escoamento.

Um bom negócio?

A proposta levanta discussões: seria vantajoso trocar infraestrutura por alimentos? Especialistas avaliam que, em um cenário de escassez de investimentos públicos, parcerias internacionais podem ser uma alternativa viável para resolver gargalos históricos. No entanto, será necessário avaliar os termos contratuais com cautela, garantindo soberania, previsibilidade e segurança jurídica.

O debate está apenas começando, mas sinaliza um novo ciclo de oportunidades — e também de responsabilidades — para o agronegócio brasileiro.

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