Pesquisa da UFSCar aponta estrangeirização do mercado agrícola no Brasil; Estudo revela avanço de multinacionais e fundos internacionais na aquisição de terras, ou seja, aumento da compra de terras por estrangeiros e no controle estratégico do setor
A discussão sobre quem controla a terra no Brasil — e quais interesses orientam esse poder — ganhou novos contornos com a divulgação de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O trabalho, publicado na prestigiada revista Rural Sociology, analisou como a financeirização tem moldado o campo brasileiro, ampliando a presença de investidores estrangeiros e reforçando a concentração fundiária nas mãos de grandes corporações globais.
Assinado por Wilton Vicente Gonçalves da Cruz, doutorando em Engenharia de Produção, e Mário Sacomano Neto, docente do Departamento de Engenharia de Produção (DEP), o artigo “The Financialization of Agriculture in Brazil: Land Concentration and Foreignization” traz evidências robustas sobre uma mudança estrutural em curso: o avanço do capital financeiro internacional sobre áreas agrícolas estratégicas do país.
O que diz a pesquisa
A investigação, realizada com dados coletados em 2024 e concluída em 2025, utilizou como principal referência a base internacional Land Matrix, além de estudos prévios que monitoram a dinâmica da compra e venda de terras no mundo. O objetivo central foi compreender como a financeirização afeta o mercado agrícola brasileiro, especialmente no que diz respeito à concentração de terras e ao processo de estrangeirização.
Segundo Cruz, o conceito de financeirização é complexo, mas no contexto do campo brasileiro refere-se ao crescimento do poder de grandes agentes financeiros sobre a posse e a exploração da terra. “Nesse estudo, nós abordamos esse fenômeno a partir do aumento do poder de grandes atores financeiros sobre a posse e a exploração da terra no Brasil”, explicou o pesquisador.
Os resultados indicam que:
- Uma parcela expressiva das transações envolvendo terras brasileiras teve origem estrangeira, evidenciando a crescente presença de capitais internacionais.
- Multinacionais do agronegócio e gestoras globais de ativos ocupam posições de destaque na rede de transações fundiárias de grande escala.
- O movimento observado aponta para uma ampliação da estrangeirização e para um aumento da concentração fundiária em poucas mãos — muitas delas fora do país.
Ainda que a pesquisa tenha trabalhado com uma amostra, o volume de terras mapeado é suficiente para demonstrar um processo consistente e acelerado. “A financeirização no setor agrícola brasileiro pode levar a práticas de gestão que maximizam os interesses das empresas e do mercado financeiro, aumentando o controle desses atores sobre esse importante segmento da economia”, destacou Cruz.
Riscos e implicações para o agro brasileiro
Além de mostrar o aumento da compra de terras por estrangeiros, o estudo também chama atenção para as consequências potenciais desse avanço. Embora o mercado financeiro seja reconhecido como um importante canal de financiamento para o desenvolvimento agrícola, a dependência crescente de capital estrangeiro e grandes fundos pode gerar impactos econômicos, sociais e estratégicos.
Entre as preocupações levantadas pelos pesquisadores estão:
- Risco de perda de autonomia sobre decisões produtivas, diante da predominância de investidores cujo foco principal é a maximização de retornos.
- Desalinhamento entre interesses financeiros e demandas sociais, como segurança alimentar, desenvolvimento regional e sustentabilidade.
- Fragilidade diante de crises externas, já que oscilações globais podem interferir diretamente na dinâmica produtiva nacional.
“O aumento do poder econômico dos atores financeiros e da dependência do mercado agrícola em relação ao setor financeiro pode acarretar consequências nocivas para a importância do agronegócio na economia e na sociedade brasileira”, concluiu Cruz.
Acesso ao estudo que mostra o aumento da compra de terras por estrangeiros
🔗 O artigo completo está disponível no site da Rural Sociology e pode ser acessado por meio do link:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ruso.70024
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