Austrália aposta na clonagem de cavalos e bovinos de elite

Tecnologia de clonagem preserva genética de animais campeões e abre um mercado milionário para criadores na Austrália.

A clonagem animal, antes restrita a laboratórios de pesquisa e casos experimentais, hoje já é um negócio consolidado na Austrália. Empresas especializadas oferecem a criadores, pecuaristas e até donos de animais de estimação a possibilidade de preservar e replicar a genética de indivíduos raros, seja por razões esportivas, produtivas ou afetivas.

Um exemplo é a história de Easter, uma égua puro-sangue com grande potencial para o polo, filha de um campeão das corridas australianas. Após morrer de cólica aos 4 anos, Easter ganhou uma “nova chance” por meio da clonagem. Seu proprietário, John Farren-Price, fundou a Catalina Equine, empresa que desde 2017 já clonou mais de 80 cavalos em sua fazenda de 80 hectares às margens do Rio Hawkesbury, próximo a Sydney.

O processo, chamado de transferência nuclear de células somáticas, consiste em retirar o núcleo da célula de um animal e inseri-lo no óvulo de outro, cujo núcleo foi removido. Esse embrião é implantado em uma barriga de aluguel, que dará à luz um clone — geneticamente idêntico ao doador.

O método ficou famoso em 1996 com a ovelha Dolly, primeiro mamífero clonado a partir de uma célula adulta. No caso dos cavalos, a gestação leva cerca de 11 meses. O primeiro clone equino nasceu na Itália em 2003, e desde então a prática se espalhou por países como Argentina, EUA e Brasil, especialmente no polo e na reprodução de animais de elite.

clonagem de cavalos
Seis clones de um cavalo de polo chamado Rex foram criados, incluindo este jovem pônei, o quinto clone, chamado Charlemagne. 
( ABC Science: James Bullen )

A Catalina cobra cerca de US$ 50 mil/animal para a clonagem de cavalos, valor considerado acessível por criadores que buscam preservar genética de alto desempenho. Já a clonagem de bovinos gira em torno de US$ 15 mil, utilizada principalmente para manter linhagens raras de raças leiteiras e zebuínas.

Além de cavalos e gado, empresas australianas também atuam como intermediárias para quem deseja clonar animais de estimação no exterior. Em países como EUA, China e Coreia do Sul, companhias como a Viagen chegam a cobrar US$ 50 mil para cães e gatos.

Outro serviço em expansão é o chamado “pacote de proteção genética”, em que células de animais de elite são congeladas e armazenadas como forma de seguro contra doenças ou perdas no rebanho.

Apesar dos avanços, a clonagem ainda enfrenta desafios de eficiência. No caso de Dolly, foram necessários 277 embriões para que apenas um resultasse em nascimento. A taxa de sucesso atual varia de 1% a 20%, dependendo da espécie.

A bezerra clonada Dasha em 2017. Foto: Divulgação

Há também questionamentos sobre a longevidade dos clones. Dolly viveu apenas 6 anos, mas estudos posteriores mostram que clones podem ter expectativa de vida normal. A égua Prometea, primeira clonada, ainda está viva na Itália aos 22 anos.

Na Catalina, o índice de sucesso é elevado: cerca de 60% dos embriões transferidos resultam em potros viáveis. Entre os destaques está Samsara, clone da égua Easter, que já segue em treinamento para o polo. Outro caso é o cavalo Rex, que já tem seis clones vivos e deve chegar a nove em breve, todos com desempenho promissor no esporte.

O uso da clonagem desperta debates éticos, sobretudo quando se projeta a possibilidade de clonar humanos — algo proibido em todo o mundo. Ainda assim, especialistas consideram inevitável que tentativas ocorram no futuro, dado o avanço da biotecnologia.

No campo esportivo e na pecuária, porém, a tendência é de expansão comercial da clonagem. Para criadores, trata-se de uma oportunidade de resguardar genética de alto valor. Já para o consumidor, produtos derivados de descendentes de animais clonados já circulam sem diferenciação em mercados como Austrália e Nova Zelândia, onde não há regulamentação específica.

O certo é que a clonagem deixou de ser ficção científica e se tornou uma realidade prática e rentável, capaz de redefinir o futuro da reprodução animal.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM