Bezerro Leiteiro: aproveitamento de machos para produção de carne

Produção de carne através do macho agrega renda para o produtor de leite e tem potencial de mercado

No Brasil, geralmente é má notícia quando nasce um bezerro macho dentro da fazenda leiteira. A impossibilidade de tirar leite acaba levando o produtor a descartar o animal, que muitas vezes nem chega a viver seu segundo dia de vida. Porém, só porque o bezerro não dá leite, não quer dizer que seja inútil.

É desse bezerro de leite que vem a carne de vitela, por exemplo, conhecida como uma das mais tenras, e apreciada especialmente em países da Europa. Por lá, quase 100% dos bezerros de leite são aproveitados para o corte.

Já no Brasil, é menos comum encontrar produtores que mantenham o bezerro de leite na fazenda para engordá-lo, e esse pode ser um mercado a ser explorado.

Há registro da atividade leiteira em 99% dos municípios brasileiros, o que quer dizer um rebanho de 23 milhões de vacas em ordenha.

Considerando que 50% das crias dessas vacas são machos, com taxa de sobrevivência de 90%, são mais de 10 milhões de bezerros de origem leiteira disponíveis para a produção de carne durante o ano.

Importante considerar, ainda, que, sistemas mais intensivos que sacrificam os bezerros nos primeiros dias de vida, ou que os criam, mas, em condições inadequadas, são permanentemente questionados pelas organizações defensoras do bem-estar animal.

Nesse sentido, é necessário desenvolver sistemas que viabilizem o aproveitamento eficiente dos bezerros de origem leiteira para a produção de carne, contribuindo com parcela significativa na renda do produtor, e ainda resolvendo os problemas ligados ao bem-estar.

“No Brasil não é tão comum mandar o macho leiteiro para o abate, especialmente porque a engorda dos nossos rebanhos de corte é feita a pasto, o que não é suficiente para um animal de grandes exigências nutricionais, como é o caso de raças mais especializadas para o leite, como o holandês”, explica o engenheiro agrônomo e consultor técnico da empresa Futura Rações, de Minas Gerais, Ricardo Alves.

Ou seja, os bezerros de leite precisam ser engordados em regime nutricional de confinamento, recebendo suplementação.
Para saber se compensa manter esse macho na fazenda, é necessário conhecer as circunstâncias em que a atividade se encontra em cada propriedade. “É preciso analisar a relação entre o preço de compra dos animais, o custo da dieta e o valor da venda”, explica Ricardo.

Se a conta der certo, as vantagens são grandes, já que o criador tem um animal abatido precocemente, possibilitando a liberação da vaca mais rapidamente, facilitando a sua recuperação para a gestação futura.

No mercado, Ricardo explica que os frigoríficos compram esse bezerro nas mesmas circunstâncias de um boi. “A aceitação é boa, pagam o mesmo preço, e a indústria já percebeu que o rendimento de carcaça é superior, assim como esses animais apresentam um ótimo acabamento, e podem ser vendidos como ‘baby beef’, a conhecida carne super-precoce”, conclui.

Vale a pena?

Considerando o tamanho do rebanho leiteiro nacional, o forte apelo comercial da carne brasileira e os custos de produção extremamente competitivos em relação aos praticados na Europa e nos Estados Unidos, o Brasil é um potencial produtor de carne através, também, dos bezerros de leite.

Porém, a maior dificuldade para explorar essa potencialidade é o alto custo de manutenção desses animais. Por isso, pecuaristas, pesquisadores e empresas buscam soluções para diminuir a cifra final de gastos e possibilitar esse tipo de produção.

A Major Nutrição Animal, empreendimento com sede em Uberaba (MG) e Goianira (GO), está constantemente em busca de novas tecnologias para contribuir com a evolução da pecuária brasileira, e desenvolve soluções nutricionais econômicas para esse tipo de projeto.

Zootecnista e coordenadora técnica da Major Nutrição Animal, Bruna Hortolani conta que a empresa tem acompanhado várias propriedades que conseguem, com sucesso, lucrar com o macho leiteiro. Ela explica que esse animal tem todo potencial necessário para se tornar um excelente produto de corte, porém, precisa receber um direcionamento de manejo.

Zootecnista
Zootecnista e coordenadora técnica da Major Nutrição Animal, Bruna Hortolani

“A cria do bezerro tem um custo alto com leite, mas é possível reduzir. Recomendamos protocolos de desmama precoce, que diminuem os preços desse bezerro para a propriedade, direcionando apenas o leite que é realmente necessário para o seu desenvolvimento e encurtando a cria. Passamos esse bezerro o quanto antes para engorda, diminuindo o tempo até o abate e, consequentemente, custos”, explica.

Nesse protocolo, a programação é de que o bezerro seja vendido com peso entre 11 a 13 arrobas (162 a 190kg), aos 260 dias. É uma otimização de recursos já existentes. “Desenvolvemos essa tecnologia porque existia uma demanda dos produtores, que nos procuravam para saber o que fazer com o bezerro.

Por isso, sabemos que, fazendo as contas, aplicando corretamente os recursos e tecnologias nutricionais, é possível lucrar com o esse macho, acrescentando uma fonte de renda a mais para as fazendas leiteiras”, conta Bruna.

A alimentação nesse protocolo começa com o leite durante até 42 dias, servido em quantidades decrescentes. Desde o primeiro dia de vida do bezerro, também é oferecido uma ração exclusiva da empresa para esse processo. Nos primeiros 15 dias o consumo é pequeno, mas a presença da comida estimula o animal a querê-la.

Aos poucos, a ingestão vai aumentando, assim como o ganho de peso. Aos 90 dias, começa o processo de engorda. Respeitando cada fase do bezerro, o importante é mantê-lo bem nutrido dentro de um cronograma planejado para ser lucrativo e, assim, potencializar a renda das fazendas leiteiras.

Fonte: Revista Pecuária

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