Diante de estresses térmicos e hídricos severos, tecnologias de bio-resiliência deixam de ser “diferencial” para se tornarem obrigatórias na preservação do potencial produtivo de soja, café e hortifruti
A safra atual impõe ao agricultor brasileiro um desafio que exige bio-resiliência: a capacidade da planta sobreviver em um ambiente hostil. Com a irregularidade das chuvas e as variações térmicas extremas, o manejo fisiológico tornou-se a linha divisória entre o lucro e o prejuízo.
Em entrevista exclusiva ao Compre Rural, Lucas Muraoka, Gerente de Portfólio de Biológicos da Nitro, detalhou como a integração entre biotecnologia e nutrição avançada pode “blindar” a lavoura contra essas adversidades.
O impacto invisível: Fisiologia do estresse
Antes de o prejuízo aparecer na colheita, ele começa nas células da planta. Muraoka explica que o cenário atual ataca a lavoura em duas frentes simultâneas. O estresse hídrico reduz a turgescência celular (hidratação), limitando processos vitais como a expansão das folhas, a fotossíntese e o transporte de nutrientes.
Simultaneamente, as altas temperaturas aceleram a respiração da planta. Isso cria um desequilíbrio no balanço carbono-energia: a planta consome mais energia para se manter viva do que consegue produzir pela fotossíntese, podendo levar à desorganização das membranas celulares e à redução da atividade enzimática.
O resultado financeiro desse estresse fisiológico é alarmante. Em fases sensíveis como o florescimento ou enchimento de grãos, veranicos prolongados podem gerar quedas de produtividade de 20% a mais de 50% na soja. Já no café, dependendo da intensidade do déficit, reduções acima de 30% não são incomuns.
A virada de chave: Biológicos além das pragas
Para combater esse cenário, o setor vive uma mudança de paradigma. Muitos produtores ainda associam biológicos apenas ao controle de pragas e doenças, mas a nova fronteira é a mitigação de estresses abióticos (climáticos).
A estratégia envolve o uso de microrganismos específicos, como o Bacillus aryabhattai. Segundo o especialista da Nitro, essa bactéria é capaz de colonizar a região radicular e formar um biofilme. “Esse biofilme aumenta a capacidade da planta de explorar o solo, melhorando a absorção de água e mantendo processos metabólicos ativos mesmo em déficit hídrico”, detalha.
Esses agentes biológicos modulam rotas fisiológicas, estimulando a síntese de osmoprotetores e hormônios que garantem maior estabilidade das membranas celulares, sustentando o crescimento mesmo sob calor intenso.
Nutrição de precisão e a Lei do Mínimo

A tecnologia biológica, no entanto, não atua sozinha. Ela precisa de um alicerce nutricional. O erro mais comum no campo é focar em macronutrientes óbvios e esquecer o equilíbrio do sistema, ignorando a “Lei do Mínimo”, onde a produtividade é limitada pelo nutriente em menor disponibilidade.
Para suportar o estresse, a recomendação técnica é garantir o aporte de elementos diretamente ligados à fisiologia de defesa, como magnésio, manganês, cobre e potássio. A estratégia de aplicação, contudo, muda conforme a cultura:
- Culturas de ciclo longo (Café e Cana): O foco é a constância. A nutrição deve ser estável ao longo do ano para construir reservas e fortalecer o sistema radicular profundo.
- Culturas de ciclo curto (Soja e Algodão): O desafio é o timing. É necessário fornecer rapidamente os nutrientes-chave nos estádios críticos para que a planta tenha energia imediata para suportar a oscilação ambiental.
Hortifruti: Proteção visual e Shelf-life
No setor de frutas e hortaliças (HF), onde o valor do produto está atrelado à qualidade visual (calibre e cor), o clima instável é ainda mais punitivo.
Neste segmento, a tendência observada é a combinação de resiliência fisiológica com proteção biológica. O uso de biofungicidas à base de Bacillus velezensis e Bacillus amyloliquefaciens tem crescido não apenas pelo controle de doenças, mas por preservar a integridade de folhas e frutos, garantindo maior shelf-life (tempo de prateleira) e valor comercial na gôndola.
A matemática do retorno (ROI)
Em um ano de margens apertadas e custo de capital elevado, a adoção de tecnologia precisa se justificar financeiramente. Dados levantados pela Nitro em mais de 100 áreas — incluindo campos demonstrativos e validações com universidades — mostram uma consistência sólida nos resultados.
O cálculo apresentado aponta para um retorno médio de 4 vezes o valor investido. “Em média, um manejo biológico voltado à bio-resiliência custa entre 0,8 e 1 saca de soja por hectare e entrega um ganho médio de aproximadamente 3,8 sacas por hectare”, afirma Muraoka.
O novo “Obrigatório”
A conclusão é que o manejo de alta performance deixou de ser opcional. Com os extremos climáticos se tornando parte da rotina produtiva, a eficiência tornou-se o único caminho para a rentabilidade. “Biotecnologia e nutrição avançada caminham para se tornar práticas obrigatórias para a segurança da safra, especialmente em ambientes de maior risco”, finaliza o gerente.
Escrito por Compre Rural.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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