Boi gordo a R$ 325/@ só para boi-China; queda na B3 e pressão no físico preocupam pecuaristas

Apesar da estabilidade pontual em algumas praças, mercado do boi gordo vive momento de insegurança com deságio nos contratos futuros, pressão nos frigoríficos e boatos sobre a China.

O mercado pecuário brasileiro iniciou a última semana de novembro sob forte tensão. Embora o preço da arroba do boi gordo físico se mantenha estável em algumas regiões — com destaque para os R$ 325/@ pagos exclusivamente para animais padrão-China em São Paulo — os sinais vindos da Bolsa B3, dos frigoríficos e do mercado internacional geram alerta entre os pecuaristas.

Pressão no físico: quedas de até R$ 5/@ em várias regiões

De acordo com levantamento do Indicador do Boi Gordo Datagro, os preços da arroba recuaram de forma relevante em estados como a Bahia, onde a média caiu de R$ 309,06 para R$ 304,14, uma redução de quase R$ 5 em apenas três dias úteis. Em São Paulo, a cotação média também baixou, registrando R$ 319,45, permanecendo abaixo dos R$ 320 pelo terceiro pregão consecutivo.

Outros estados seguiram a mesma tendência:

  • Mato Grosso: R$ 303,15 → R$ 301,82
  • Goiás: R$ 315,05 → R$ 314,04
  • Pará: R$ 309,38 → R$ 306,61
  • Tocantins: R$ 302,83 → R$ 300,74

Físico estável, mas sem fôlego: frigoríficos pressionam e negócios travam

Mesmo com algumas regiões mantendo os preços estáveis, como aponta a Agrifatto, há clara pressão baixista por parte das indústrias frigoríficas, que estão operando majoritariamente com gado de confinamento próprio ou de parceiros. As escalas de abate atendem cerca de 8 dias úteis, o que reduz a urgência das compras no mercado independente.

Segundo a Scot Consultoria, o preço bruto no mercado paulista é:

  • Boi gordo comum: R$ 320/@
  • Boi-China: R$ 325/@
  • Vaca gorda: R$ 302/@
  • Novilha terminada: R$ 312/@

Mesmo assim, muitos pecuaristas resistem às ofertas, favorecidos pela recuperação das pastagens — o que permite segurar o gado no pasto por mais tempo, evitando vendas apressadas.

Desabamento na B3: o ágio virou deságio

Enquanto o físico resiste, a B3 assiste a um colapso nos contratos futuros. Entre os dias 3 e 21 de novembro, os contratos com vencimento em novembro e dezembro de 2025 despencaram, passando de:

  • Nov/25: R$ 332,45 → R$ 321,35
  • Dez/25: R$ 333,70 → R$ 322,50

Isso representa quedas de R$ 11,10 e R$ 15,20 por arroba, respectivamente.

Como explica o analista Raphael Galo, da Scot Consultoria:

“O prêmio do futuro foi embora em silêncio – e deixou o risco sentado à mesa”.
“Aquela fotografia inicial de 4,13% de prêmio em relação ao físico se transformou em -1,47% de desconto em menos de duas semanas”.

Ou seja, quem travou preço na faixa de R$ 330-335/@ ainda está protegido, mas quem esperou perdeu o momento do hedge e agora lida com incertezas crescentes.

China assombra, EUA aliviam o mercado do boi gordo

No radar internacional, um ponto central de preocupação é a possibilidade de a China anunciar salvaguardas contra a carne bovina brasileira, como cotas ou tarifas — o que geraria forte impacto nas exportações. A importância do país asiático no setor é tamanha que os boatos já foram suficientes para derrubar os contratos futuros e travar o mercado.

Por outro lado, a retirada da tarifa de 40% pelos Estados Unidos sobre a carne bovina in natura brasileira trouxe um alívio. A reabertura total do mercado americano amplia o potencial de embarques e ajuda a sustentar o preço no curto prazo.

Consumo interno pode ser salvação momentânea

Com a chegada do 13º salário e as festas de fim de ano, a demanda interna por carne bovina tende a aumentar. Cortes como o quarto traseiro, dianteiro e ponta de agulha já apresentam queda momentânea nos preços no atacado, mas a expectativa é de retomada nos próximos dias.


Resumo do cenário atual:

  • R$ 325/@ só para boi-China; demais padrões têm dificuldade para manter os preços.
  • Frigoríficos pressionam; escalas cheias e compra seletiva.
  • Pecuaristas resistem, mas sem muito espaço de manobra.
  • Futuros despencam; ágio virou deságio.
  • Boatos sobre a China travam o mercado.
  • Consumo interno e EUA são as únicas âncoras de sustentação.

A pergunta que fica no ar: a arroba vai aguentar até o fim do ano ou ainda há mais por vir?


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