Boi gordo atinge R$ 325/@ e mantém viés de alta com exportações fortes e baixa oferta

Com escalas apertadas, pastagens esgotadas e exportações em ritmo acelerado, arroba do boi gordo avança nas principais praças do país. Analistas alertam para pressão sobre preços e desafios na reposição.

O mercado físico do boi gordo iniciou a segunda semana de junho em ambiente firme, marcado por negociações pontuais em valores recordes para o ano e com viés de alta consolidado. A combinação de oferta restrita de animais terminados, demanda consistente da indústria e desempenho robusto das exportações forma o tripé que sustenta o movimento altista nas principais praças pecuárias do Brasil.

Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgado nesta terça-feira (10), muitos compradores reajustaram em até R$ 5 a arroba frente à última semana, tanto para machos quanto para fêmeas, diante da dificuldade de encontrar lotes prontos para abate e da necessidade de reposição no varejo.

Arroba encosta nos R$ 325/@ em SP, e frigoríficos enfrentam dificuldades para preencher escalas

Em São Paulo — principal praça de referência nacional — os negócios fecharam na segunda-feira (9) com valores entre R$ 305 e R$ 325/@, a depender da qualidade do lote e da negociação direta com o pecuarista. O Indicador Cepea/Esalq terminou o dia cotado em R$ 311,75/@, com alta acumulada de 1,8% nos primeiros dias de junho.

A Scot Consultoria confirmou a tendência de alta nas praças paulistas: o boi gordo “comum” subiu para R$ 312/@, e a vaca gorda foi negociada a R$ 282/@ — ambos com incremento de R$ 2/@ em relação ao dia anterior. Já a novilha gorda (R$ 295/@) e o boi-China (R$ 315/@) mantiveram-se estáveis.

“As escalas de abate nas indústrias paulistas seguem encurtadas, atendendo em média apenas cinco dias úteis. A escassez de boiadas a pasto e o esgotamento das pastagens em diversas regiões impedem a normalização da oferta”, destaca a consultoria.

Oferta limitada e entressafra antecipada pressionam o mercado do boi gordo

Com a chegada do período seco no Centro-Sul, as pastagens perdem vigor e a terminação a pasto se torna cada vez mais difícil. A redução na capacidade de engorda pressiona os preços em plena transição para a entressafra, agravando ainda mais a escassez de oferta. Segundo o Cepea, apesar de a lotação média dos pastos estar superior à de anos anteriores, isso não tem sido suficiente para evitar o descompasso entre oferta e demanda.

Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, reforça que o gargalo atual está na falta de animais jovens, aptos para abate imediato e com padrão de exportação exigido pela China, o que sustenta a valorização da arroba:

“A indústria ainda opera com escalas curtas. A dificuldade em comprar animais qualificados para o mercado externo e a boa performance das exportações são os principais pilares da atual fase de preços firmes.”

Exportações de carne bovina disparam em junho e sustentam cenário positivo

Dados do Boletim Boi Cepea apontam que o volume diário exportado na primeira semana de junho é 24% maior do que em maio, e 33% acima da média de junho de 2024. Esse crescimento vem acompanhado de valorização no preço da tonelada exportada, que atingiu a marca de R$ 30.217, refletindo um aumento de 2,5% frente ao mês passado e 25% na comparação anual, já considerando o efeito do câmbio.

O câmbio, por sinal, teve leve variação nesta terça-feira. O dólar comercial fechou em R$ 5,5690 para venda, com alta de 0,13%, favorecendo a competitividade do produto brasileiro no mercado externo. A valorização cambial, somada à demanda asiática constante, reforça o otimismo com o escoamento da produção, sobretudo no segundo semestre.

Cotações em outras regiões confirmam tendência nacional

Confira os valores médios da arroba em outras importantes praças de comercialização:

  • Goiás: R$ 301,43 (@) — alta em relação aos R$ 300,54 do dia anterior
  • Minas Gerais: R$ 300,29 (@) — estável
  • Mato Grosso do Sul: R$ 313,86 (@) — sem alteração
  • Mato Grosso: R$ 311,89 (@) — avanço frente aos R$ 310,54 anteriores

No Norte do Brasil, a redução drástica na oferta de fêmeas tem resultado em valorização nos preços dos machos. Segundo a Agrifatto, Pará, Tocantins, Acre e Rondônia já registram alta leve, porém contínua, diante da mudança na dinâmica de abates.

Pecuaristas firmam contratos a termo diante de alta nos contratos futuros do boi gordo

Diante da escassez e da elevação nas projeções para os preços de outubro — período de pico da entressafra — alguns frigoríficos passaram a firmar contratos a termo com base nos preços futuros da B3. A medida tem atraído pecuaristas de GO, MG, SP e MS, que buscam garantir margem mesmo diante do alto custo do confinamento.

“Esse movimento mostra que a indústria tenta se proteger do cenário de escassez. Ao mesmo tempo, o produtor vê nos contratos a termo uma forma de evitar volatilidade no momento da venda”, analisa um trader de commodities.

Reposição apertada e confinamentos mais cheios

No mercado de reposição, a procura por bois magros segue firme, mas a oferta é cada vez mais restrita. Muitos dos animais disponíveis já foram direcionados para os confinamentos, que operam com ocupação acima do verificado no mesmo período de 2024.

Apesar do otimismo com a rentabilidade do boi terminado, o alto custo do milho e do farelo de soja ainda gera cautela entre terminadores, que têm apostado na venda futura para mitigar riscos.

Atacado acompanha movimento, mas liquidez preocupa

No mercado atacadista de carne com osso, os preços seguem relativamente estáveis, mas com viés de alta. As vendas do último fim de semana foram consideradas de boas a satisfatórias, com distribuidores abastecidos até a quinta-feira (13). Entretanto, a cautela nas novas compras é evidente.

Referências atuais no atacado:

  • Quarto traseiro: R$ 24,50/kg
  • Dianteiro: R$ 19,50/kg
  • Ponta de agulha: R$ 18,50/kg

A queda na liquidez da ponta de agulha preocupa o varejo, ainda mais com a concorrência de proteínas alternativas como o frango e o suíno, que continuam com preços competitivos nas gôndolas.

A combinação de estoques baixos, exportações aquecidas e oferta limitada de animais terminados deve continuar sustentando os preços do boi gordo no curto prazo. A entrada da entressafra e a maior ocupação dos confinamentos elevam a expectativa para um segundo semestre firme, especialmente se a demanda internacional se mantiver aquecida.

Contudo, a cautela da indústria e dos varejistas quanto à reposição no atacado e o comportamento do consumo doméstico merecem atenção. O avanço do dólar e a perspectiva de manutenção das exportações em ritmo elevado reforçam o protagonismo do Brasil no comércio global de carne bovina, mas também tornam o mercado interno mais suscetível a repasses de custo ao consumidor.

A atenção agora se volta ao desempenho das próximas semanas, com foco especial no comportamento das chuvas, no ritmo de confinamento e nas sinalizações dos mercados futuros.

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