Mesmo com negociações travadas no mercado interno e férias coletivas na indústria, o forte ritmo das exportações sustenta a arroba do boi gordo e evita uma queda mais acentuada dos preços no fim de 2025.
O mercado do boi gordo atravessa o fim de dezembro em um cenário típico de final de ano: negociações lentas, escalas de abate ajustadas e frigoríficos operando com cautela. Ainda assim, a arroba segue encontrando sustentação em patamares elevados em importante praça pecuária, chegando a R$ 325/@ para o chamado “boi-China”, impulsionada principalmente pelo desempenho excepcional das exportações brasileiras de carne bovina.
De acordo com levantamentos das consultorias Agrifatto e Scot Consultoria, as compras no mercado físico seguem no ritmo conhecido como “das mãos para a boca”, com aquisição de lotes curtos e pouca disposição das indústrias em alongar posições. A tendência, segundo os analistas, é de redução ainda maior no volume de negócios com a proximidade do Natal e do Ano-Novo, período marcado por semanas com poucos dias úteis e férias coletivas em parte dos frigoríficos.
Férias coletivas enxugam o mercado interno
Nesse contexto, muitos frigoríficos reduziram o ritmo de abates ou suspenderam temporariamente as atividades, o que diminui a necessidade imediata de compra de gado. As escalas de abate, em média, estão programadas para cerca de dez dias úteis, garantindo certa tranquilidade ao planejamento das indústrias até o início de janeiro de 2026. A retomada mais consistente das operações é esperada apenas a partir da segunda semana do ano que vem, segundo a Agrifatto .
Para o zootecnista Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria, o comportamento do mercado neste período é essencialmente sazonal. “As escalas estão programadas para o período de fim de ano e os negócios ocorrem apenas de modo pontual”, reforça .
Exportações seguem como principal pilar de sustentação dos preços do boi gordo
Se o mercado interno desacelera, o cenário externo faz exatamente o movimento oposto. As exportações de carne bovina in natura seguem em ritmo forte e são o principal fator de sustentação dos preços da arroba neste fechamento de ano. Até a terceira semana de dezembro, o Brasil embarcou 143,6 mil toneladas de carne bovina, com média diária de 14,3 mil toneladas — um avanço de 48,9% na comparação com dezembro de 2024 .
Além do aumento expressivo em volume, os preços também contribuíram para melhorar o resultado. O preço médio da carne exportada subiu 13,1% em relação ao ano passado, enquanto o faturamento avançou 68,5%, reforçando a importância do mercado externo para a cadeia pecuária brasileira .
Segundo Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, mesmo com tentativas de compra da arroba por valores mais baixos no mercado interno, a demanda internacional tem sido decisiva para frear uma queda mais acentuada dos preços. “Sob o prisma da demanda, as exportações seguem como grande destaque para a atividade neste ano”, afirma .
Arroba em R$ 325 e diferenças entre praças
Nas praças paulistas, referência nacional, os preços mostram estabilidade. Pela Scot Consultoria, o boi gordo sem padrão exportação é cotado a R$ 321/@, enquanto o animal padrão China alcança R$ 325/@. Já a vaca gorda é negociada em torno de R$ 302/@, e a novilha terminada, a R$ 312/@, todos os valores brutos e a prazo .
Entre as 17 praças acompanhadas pela Agrifatto, houve leve alta em estados como Espírito Santo, Maranhão, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, enquanto Acre e Rondônia registraram pequenos recuos, evidenciando um mercado ainda bastante pontual e regionalizado .
Queda recente é pontual e ligada ao calendário
Para Alcides Torres Jr., diretor da Scot Consultoria, a pressão observada em alguns momentos não tem origem estrutural, mas está diretamente ligada ao calendário de fim de ano. “São semanas curtíssimas, praticamente com dois dias úteis. Isso gera uma acomodação dos compradores”, explica. Segundo ele, não há urgência em comprar boi neste momento, já que as escalas estão praticamente fechadas até os primeiros dias de janeiro .
Apesar disso, o analista mantém uma leitura positiva para o mercado. “A expectativa continua sendo de alta. Isso não muda o cenário estrutural do boi gordo”, afirma Torres, ressaltando que a oferta começa a dar sinais de ajuste após um ano marcado por elevado abate de fêmeas .
Perspectiva pós-recesso
Com o retorno gradual das indústrias após as festas e mantendo-se o bom ritmo das exportações, a expectativa do mercado é de preços firmes no início de 2026, ainda que com oscilações pontuais. O desempenho externo, aliado à redução gradual da oferta, tende a seguir como o principal sustentáculo da arroba, enquanto o mercado interno aguarda a normalização do fluxo de negócios após o recesso.
Em resumo, o boi gordo encerra 2025 sustentado pelo apetite internacional, mesmo diante de um mercado interno travado e frigoríficos em férias, consolidando o patamar de R$ 325/@ como referência para animais com padrão exportação.
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