Se o ano de 2023 ficará marcado na história de quem carrega o pó da lida diária na pecuária, isso não temos dúvida. Entretanto, o que ainda fica em aberto é qual a intensidade desse marco na economia do pecuarista. O produtor deixou de ganhar R$ 76,87/@; E agora?
O mercado pecuário tem seus preços traçados pela influência da relação entre oferta e demanda, isso é fato. Dentro dessa premissa, o chamado Ciclo Pecuário se mostra sempre soberano. Sendo assim, observamos que nos últimos 3 anos, os preços da arroba do boi gordo sofreram variação expressiva e, atualmente, se encontram em um dos patamares mais baixos. Quando perguntam se o ano de 2023 ficará marcado na história de quem carrega o pó da lida diária na pecuária, isso não temos dúvida. Entretanto, o que ainda fica em aberto é qual a intensidade desse marco na economia do pecuarista.
O produtor – grande, médio ou pequeno – tem sofrido da porteira para dentro, buscando formas de tentar equilibrar o caixa diante do cenário pessimista que se instalou nas ofertas de preços. Segundo a Scot Consultoria, nas praças paulistas, as escalas de abate seguem confortáveis e as ofertas de compra caindo. Com isso, assistimos à segunda queda consecutiva nos preços nesta semana.
Do outro lado da mesa de negociação, segundo a médica veterinária Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto, mesmo com uma sensível melhora no consumo doméstico de carne bovina, os preços do boi gordo continuam em patamares baixos, o que resultou em recuperação expressiva das margens dos frigoríficos brasileiros. “A diferença entre o preço do boi gordo e a carcaça no atacado teve expressivo avanço”, diz ela, acrescentando: “Houve transferência de margens do pecuaristas para as indústrias processadoras de carne”.
O boi gordo enfrenta a pressão baixista do mercado por todos os lados. Dentre os fatores que contribuem para o atual cenário, o aumento da oferta de animais terminados e a o descarte de fêmeas são os principais motivos, apontou a Agrifatto.
Oscilações nos últimos dois anos
Para entender o atual momento pecuário, é preciso fazer uma análise mais macro dos fatores que impactaram nas cotações do boi gordo. Com os efeitos da pandemia, guerra e dois embargos de carne bovina pela China, a trajetória agora estabelece um cenário mais positivo para o setor, especialmente nas exportações. Segundo a Scot Consultoria, de 2015 a 2022, a participação em volume de carne bovina in natura exportada para a China teve um crescimento notável, saindo de 3,0% para 21,1%. Cresceu sete vezes.
Apesar do grande peso das exportações na formação dos preços do boi gordo, o mercado interno ainda é soberano e tem uma representatividade de quase 70% do consumo da carne bovina produzida. Para se ter uma ideia da intensidade da queda nas cotações, segundo o CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada os preços atingiram o menor patamar dos últimos dois anos.
Como aponta o gráfico abaixo, a média de maio de 2023 é de R$ 267,84/@ frente a média de março de 2022 que atingiu o valor de R$ 344,71/@. Considerando as duas pontas – maior e menor valor médio da cotação – o pecuarista deixou de ganhar R$ 76,87/@, ou seja, considerando o peso médio de abate dos bois brasileiros de 20@, esse pecuarista perdeu R$ 1.537,40/animal.
De acordo com o diretor da HN Agro, Hyberville Neto, entre 2020 e 2021, houve uma retenção de fêmeas que gerou diminuição de oferta de bezerros, o que subiu o valor dos animais. Porém, segundo o especialista, esse movimento também resulta em uma menor oferta de carne no mercado.
“Pensando em 2022, o boi gordo começou forte, começou positivamente. As exportações começaram bem, tivemos recordes no meio do ano”, lembrou Neto. O representante da HN Agro ressaltou que em 2022 houve aumento de 7,5% na disponibilidade de gado para abate, enquanto em 2021 foi registrada queda de 7,3%.
“Essa alta de 2022 aconteceu por conta do abate de fêmeas, e isso acaba sendo o início de um plantio de uma fase de alta mais para frente”
Cenário otimista para os próximos meses
“Como estará o mercado no segundo semestre? É uma pergunta difícil. É impossível a gente adivinhar os preços, mas eles estão tão baixos, que a expectativa do mercado é haver uma reação de preço no segundo semestre”, disse o representante da Scot Consultoria.
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De acordo com a consultoria Safras & Mercado, isso de fato deve acontecer entre os meses de junho e julho, período em que não haverá tamanha pressão de oferta permitindo alguma recuperação das cotações da arroba. Mesmo assim, não se deve esperar movimentos explosivos de preços da arroba, sem uma variável nova em relação à demanda.
Dica de ouro: O momento de queda das cotações e descarte de fêmeas crescendo, voltamos a ressaltar a importância do pecuarista estar atento ao momento do Ciclo Pecuário, pois essas mudanças indicam que o mercado sentirá a pressão de uma menor oferta de bovinos para o abate nos próximos anos, bem como o preço da reposição sofrerá alterações positivas nos preços.
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