“Boi Sanfona” nunca mais: Como adaptar o rúmen do gado na virada das águas

Entenda por que milhares de animais perdem peso anualmente com o broto verde e conheça o plano de manejo detalhado contra o boi sanfona, que blinda o rúmen contra a ‘lavagem’ nutricional

As primeiras chuvas chegaram para muitos pecuaristas e é um momento de alívio, mas para o rúmen do gado, é um período de choque. O pasto, antes seco e fibroso, dá lugar a um broto verde, brilhante e, perigosamente, “aguado”. Esse broto inicial pode ter de 80% a 85% de água. Ele é pobre em matéria seca, pobre em fibra e tem baixa energia, apesar da alta proteína. O resultado? O gado come, sente uma falsa saciedade, mas o trânsito intestinal acelera. Ocorre uma verdadeira “lavagem” do rúmen, matando a flora microbiana que demorou meses para se adaptar à seca.

O resultado é a temida diarreia do broto e o início do “boi sanfona”, aquele animal que perde o peso que tanto custou a ganhar na seca. Siga a leitura e acompanhe o Compre Rural, aqui você encontra informação de qualidade para fortalecer o campo.

A boa notícia é: essa perda de peso não é inevitável. Ela é um erro de manejo. Preparamos um checklist definitivo, dividido em 3 fases, para você transformar esse período de risco em uma oportunidade de ganho.

Fase 1: A preparação (15 dias antes da previsão de chuva)

O sucesso na transição começa antes da primeira gota de água. A palavra-chave aqui é antecipação.

Diagnóstico de Pasto e Lote

Defina em quais pastos o gado irá passar pela transição. Onde o broto costuma “explodir” primeiro? Separe os lotes por categoria (ex: bezerrada, novilhas, garrotes) se possível, pois eles terão exigências diferentes.

Revisão Crítica dos Cochos

Este é o erro mais comum. O suplemento de transição não pode molhar. A chuva irá estragar o produto, empedrar e reduzir drasticamente o consumo. Garanta que os cochos estejam 100% cobertos, limpos, sem restos velhos, e com espaço suficiente (mínimo de 5-6 cm lineares por cabeça).

Entenda a Estratégia de Suplementação

O sal mineral da seca não serve para a transição, e o sal comum das águas também não. Você precisa de um “Suplemento de Transição” específico. Procure por formulações que contenham aditivos moduladores da flora ruminal (como ionóforos – monensina ou salinomicina), além de níveis adequados de proteína, fibra e minerais para compensar o que falta no broto “aguado”. Converse com seu técnico de confiança sobre a formulação ideal.

Fase 2: A adaptação (Dia “D” até 15 dias pós-chuva)

Este é o período mais crítico. O broto verde chegou e o rúmen está em alerta máximo.

Zere o Cocho Imediatamente

No dia em que o pasto “enverdeceu”, vá ao cocho e retire 100% das sobras do suplemento antigo (da seca). Não se deve misturar formulações. O animal precisa ter acesso claro ao novo suplemento, que é formulado para o desafio do broto.

Introduza o Suplemento de Transição

Abasteça os cochos limpos com o novo Suplemento de Transição. Siga rigorosamente a recomendação de consumo do fabricante (ex: 100g/cabeça/dia, 200g/cabeça/dia, etc.).

Monitore o Consumo (O Ponto Crítico)

É esperado que o consumo do suplemento caia drasticamente nos primeiros 3 a 5 dias. O gado fica “bêbado” com a palatabilidade do broto e sente falsa saciedade. Não se desespere. Mantenha o suplemento disponível. Após 5-7 dias, o animal sentirá falta dos nutrientes e voltará ao cocho para buscar o equilíbrio.

Monitore as Fezes (A Bússola do Rúmen)

As fezes são o melhor indicador. É normal que amoleçam (consistência de “pudim”). O sinal de alerta é diarreia líquida, escura, com bolhas ou mau cheiro. Isso indica a “lavagem” ruminal e perda de nutrientes. Se isso ocorrer, revise o manejo de cocho e a qualidade do suplemento.

Fase 3: A consolidação (Dias 15 a 45 pós-chuva)

O gado passou pelo choque inicial. Agora é hora de consolidar a adaptação e proteger o rebanho de novas ameaças.

Estabilize o Consumo

Após o 15º dia, o consumo do suplemento de transição deve estar estabilizado na média recomendada pelo fabricante. Este é o “sinal verde” de que o rúmen se adaptou e o “boi sanfona” foi evitado.

Execute o Protocolo Sanitário Estratégico

A umidade “acorda” os parasitas no pasto. Este é o momento ideal para a vermifugação estratégica, pois o gado já não está sob o estresse da seca e responde melhor ao medicamento. Converse com seu veterinário sobre o princípio ativo correto e aproveite para reforçar vacinas (como as de Clostridioses).

Planeje a Próxima Troca e Evite o Boi Sanfona

O suplemento de transição é temporário (dura 30-45 dias). Após esse período, o pasto “endurece”, ganha fibra e se estabiliza. É hora de planejar a troca do Suplemento de Transição para o Sal Mineral das Águas padrão, ajustando o cocho para o resto da estação chuvosa.

A transição seca-águas não é um evento para se “esperar para ver o que acontece”. É um processo de manejo que exige ação proativa.

O pecuarista que simplesmente “abre a porteira” para o broto verde está, invariavelmente, perdendo dinheiro — seja pela diarreia que rouba peso, seja pelo “boi sanfona” que atrasa a engorda em meses.

Ao seguir este checklist, você tira a sorte da equação. Você blinda o rúmen, protege seu rebanho e garante que a chegada da chuva seja, de fato, o início de um novo ciclo de lucro.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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