Brasil é reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação: uma oportunidade ou um desafio?

O último caso registrado no país ocorreu em 2006, mas foi apenas em 2024, por meio da Portaria MAPA no. 678, de 30 de abril de 2024, que a vacinação foi oficialmente suspensa.

A febre aftosa é uma doença infecciosa altamente contagiosa, causada por um vírus do gênero Aphthovirus, pertencente à família Picornaviridae, de notificação obrigatória no Brasil conforme a Instrução Normativa no. 50/2013 do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e o Código Sanitário para Animais Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

A transmissão ocorre por contato direto entre animais infectados e suscetíveis, e de forma indireta, por meio do solo, água, roupas, equipamentos e instalações contaminadas. Apesar da alta contagiosidade, a mortalidade em animais adultos é rara, sendo mais comum em animais jovens.

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Devido à sua alta taxa de disseminação, surtos podem comprometer rebanhos inteiros rapidamente, ocasionando perdas econômicas, devido a baixa produtividade desses animais, no caso dos bovinos, baixa produção de carne e de leite.

O último caso registrado no país ocorreu em 2006, mas foi apenas em 2024, por meio da Portaria MAPA no. 678, de 30 de abril de 2024, que a vacinação foi oficialmente suspensa nos estados brasileiros que ainda mantinham a prática.

O reconhecimento internacional dessa prática veio nesta última quinta-feira, 29 de maio de 2025, em que o Brasil foi oficialmente reconhecido como um país livre de febre aftosa sem vacinação pela OMSA, antiga OIE. A certificação foi entregue durante a assembleia geral do órgão, realizada em Paris.

status representa um marco para a pecuária nacional, consolidando décadas de investimentos e avanços em sanidade animal. No entanto, traz importantes desafios, exigindo vigilância epidemiológica rigorosa, estrutura sólida de defesa sanitária e o comprometimento contínuo de produtores e autoridades. Assim, embora os benefícios econômicos e comerciais sejam expressivos, a preservação dessa conquista dependerá de um esforço permanente para garantir a prevenção e o controle eficaz da doença.

O que o novo status traz de positivo para a pecuária nacional?

A retirada da vacinação contra febre aftosa traz uma série de impactos positivos para o setor pecuário brasileiro. Entre os principais benefícios estão a redução de custos tanto para o produtor rural quanto para os Estados, além da abertura de oportunidades em novos mercados internacionais. Países como Japão e Coreia do Sul, que importam apenas de nações reconhecidas como livres da doença sem vacinação, representam mercados com melhor remuneração. A conquista desses mercados tende a gerar mais renda, mais empregos e maior dinamismo econômico para o país.

Outro ponto relevante é a contribuição para a consolidação da imagem da carne brasileira como um produto de altíssima qualidade. A retirada da vacinação reforça a confiança na eficiência do serviço de defesa sanitária do Brasil, que vem se destacando há décadas no controle de enfermidades.

Do ponto de vista produtivo, a ausência da vacinação elimina o estresse físico e fisiológico causado pela contenção e aplicação, resultando em melhorias em indicadores zootécnicos importantes, como ganho médio diário (GMD), conversão alimentar (CA), taxa de crescimento e peso ao abate. Animais menos estressados tendem a se alimentar melhor, crescer mais rápido e converter alimento com maior eficiência, especialmente em sistemas de produção intensiva.

Além disso, a retirada da vacinação reduz a ocorrência de lesões provocadas por falhas na aplicação, o que preserva a qualidade da carne e evita perdas nos frigoríficos. Isso se traduz em menor descarte de cortes e maior retorno econômico para o pecuarista.

Por outro lado, a retirada da vacinação pode causar alguns pontos de atenção.

O outro lado do novo status sanitário…

Com a retirada da vacinação contra a febre aftosa, a vigilância sanitária torna-se ainda mais essencial para a manutenção do status de país livre da doença sem vacinação. Sem a imunização, qualquer reintrodução do vírus da febre aftosa representa um risco sanitário elevado, com potencial para causar impactos econômicos e comerciais severos.

Nesse cenário, os produtores rurais devem seguir desempenhando um papel fundamental, tanto na adoção rigorosa das medidas de biosseguridade “dentro da porteira”, quanto no controle da movimentação dos animais.

A capacitação contínua dos profissionais envolvidos na cadeia pecuária também se destaca como um pilar estratégico para garantir a pronta resposta a qualquer eventualidade sanitária. O compromisso conjunto entre produtores, setor privado e poder público – já consolidado ao longo de décadas – permanece crucial nesta nova fase.

O risco reputacional do país nesse novo momento é grande, pois caso haja uma única ocorrência de caso em uma zona reconhecida como livre pode resultar em embargos comerciais imediatos, comprometendo o acesso a mercados estratégicos e prejudicando a imagem do país como fornecedor confiável.

Do ponto de vista da indústria de saúde animal, a retirada total da vacinação no país pode resultar em uma perde em faturamento. O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) calcula que as empresas deixaram de faturar entre R$400 milhões e R$500 milhões por ano em função de não ser permitido a venda de vacinas de aftosa. O valor representa 4% do faturamento total da indústria, estimado em R$10 bilhões. Mas se considerado apenas a receita com ruminantes, o impacto é de 7%.

Considerações finais

O país livre de febre aftosa sem vacinação representa um marco para a pecuária nacional, consolidando o esforço conjunto de produtores, profissionais do setor e autoridades sanitárias ao longo de décadas. Os ganhos econômicos, comerciais e produtivos são inegáveis, com acesso a mercados exigentes e que pagam mais, além da valorização da imagem da carne brasileira no cenário internacional. No entanto, esse novo patamar impõe responsabilidades ainda maiores. Dessa forma, o futuro da pecuária brasileira neste novo contexto será tanto mais promissor quanto for o compromisso de todos os elos da cadeia produtiva com a sanidade animal, a prevenção e a excelência na produção.

Fonte: Scot Consultoria

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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