
Levantamento aponta frustração popular com preço da carne símbolo da campanha presidencial; inflação da picanha acumula alta de 15,6% no ano
A promessa do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de devolver ao prato do brasileiro a “picanha e a cervejinha” parece estar distante da realidade atual, segundo percepção de boa parte da população. De acordo com pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas divulgada nesta segunda-feira (30), 33,2% dos brasileiros afirmam que o preço da picanha ficou “muito mais alto” durante o governo Lula, em comparação com o período do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O levantamento ouviu 2.020 pessoas em 26 estados e no Distrito Federal, entre os dias 18 e 22 de junho, com margem de erro de 2,2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Os números refletem um sentimento de frustração com o custo de um dos cortes bovinos mais valorizados e simbólicos para a classe média e trabalhadora do país.
Percepções divididas, mas maioria enxerga alta nos preços
Ainda de acordo com a pesquisa:
- 16,8% disseram que o valor da picanha está “um pouco mais alto”
- 21,7% acreditam que o preço se manteve “igual”
- Apenas 14,1% avaliaram que a carne está “um pouco mais barata”
- E somente 3,8% afirmaram que está “muito mais barata”
- Outros 10,5% não souberam responder
Com isso, mais da metade dos entrevistados (50%) acredita que o preço da picanha aumentou no governo Lula, sendo que um terço vê esse aumento como acentuado.
Inflação da carne confirma percepção popular
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados em junho, a picanha acumulou inflação de 15,6% nos últimos 12 meses. Essa elevação de preços acompanha a alta generalizada nos custos de produção no setor de carnes, que inclui desde insumos até transporte, e reflete também a dinâmica do mercado interno e externo — como exportações para China e instabilidades climáticas.
Além disso, o aumento de impostos estaduais sobre produtos alimentícios em alguns estados também tem pressionado os preços nas gôndolas dos supermercados.
Picanha no centro do debate político
Durante a campanha presidencial de 2022, a imagem da picanha foi utilizada como símbolo da recuperação do poder de compra do brasileiro. Lula, em diversos discursos, prometeu que com ele no governo, “o povo vai voltar a comer picanha e tomar cerveja”.
O uso do alimento como ícone de melhoria econômica foi amplamente divulgado nas redes sociais e em peças de campanha, o que torna a percepção negativa atual ainda mais sensível do ponto de vista político.
Analistas avaliam que a frustração com essa promessa específica pode ser um termômetro do descontentamento com a economia doméstica, sobretudo entre os eleitores das classes C e D, que esperavam um alívio mais rápido no bolso.

Preço da picanha em números
Segundo o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), em diversas capitais brasileiras o preço do quilo da picanha ultrapassa R$ 60 em supermercados, podendo variar ainda mais em açougues e plataformas de e-commerce. A carne, que já foi sinônimo de churrasco de fim de semana, tem sido substituída por cortes mais baratos como acém, paleta e fraldinha, conforme apontam relatórios de consumo de grandes redes varejistas.
A pesquisa do Instituto Paraná reforça que, embora indicadores macroeconômicos como inflação geral estejam sob controle, itens com forte apelo simbólico e emocional — como a picanha — têm peso significativo na avaliação do governo pelos brasileiros. O dado de que 33,2% acreditam que o preço está “muito mais alto” pode parecer pontual, mas reflete uma sensação coletiva de distância entre promessa e realidade, algo que pode ter repercussões políticas mais amplas.
“Não adianta dizer que a inflação caiu se o brasileiro não consegue comprar a carne que antes era comum na sua mesa. A percepção de bem-estar está ligada diretamente ao que se pode consumir no dia a dia”, afirma o economista Daniel Oliveira, consultor em consumo popular.
A retomada da confiança da população pode depender menos dos números e mais de ações concretas que tragam alívio direto ao bolso. E nesse cenário, a picanha continua sendo um termômetro do humor popular.
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