Carne bovina rastreável e sustentável chega aos supermercados

Produto é resultado de projeto de Carrefour e IDH que visa tornar pecuária mais sustentável e abrange 450 pequenos produtores em Mato Grosso.

O Grupo Carrefour Brasil, a Fundação Carrefour e a Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH) lançaram o primeiro lote de uma carne bovina livre de desmatamento e com rastreio desde o nascimento do bezerro até as prateleiras do supermercado.

Os responsáveis pela produção e distribuição não divulgaram os valores que a carne é vendida, mas destacaram que os preços são acessíveis e compatíveis aos que os consumidores estão habituados no Brasil.

Desde 2018, mais de 3,5 milhões de euros já foram aplicados no Programa de Produção Sustentável de Bezerros em Mato Grosso, que visa incluir cerca de 450 pequenos produtores em uma rede que oferece assistência técnica, financeira e ambiental para tornar a cadeia pecuária mais sustentável com menor preço final dos produtos.

Daniela Mariuzzo, diretora executiva da IDH Brasil explica que o ponto-chave do projeto é a garantia de rastreabilidade de ponta a ponta. “Até hoje, o que temos são frigoríficos que conseguem monitorar o fornecedor direto do animal para a indústria, e a indústria manda isso para o mercado. Mas não fazem questão de saber os indiretos, que são justamente os pequenos produtores de bezerros”, afirma.

De acordo com Lúcio Vicente, diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, a iniciativa torna possível que os produtores enxerguem seu consumidor final e vice-versa. “Há o produtor com o potencial do que pode construir de novas formas de produção e o consumidor conhecendo a origem e entendendo como aquele produto chegou até ele”, ressalta.

“A ideia é promover cada vez mais uma alimentação saudável e sustentável sob o ponto de vista que o cliente consiga enxergar essa oportunidade de se alimentar melhor” Lúcio Vicente, diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil

Para chegar ao mercado com preço compatível, a equação do projeto é o reinvestimento dentro da cadeia produtiva. “Qualquer empresa que entre no ciclo deve ter o mesmo compromisso de garantir o reinvestimento na cadeia ou o preço acessível sob o ponto de vista da realidade do mercado”, diz Vicente. Apesar de não divulgar valores, o Carrefour esclarece que a carne mais sustentável não é um produto em promoção, mas com valor compatível aos moldes do brasileiro médio que vai a lojas populares.

Ele explica que o cálculo também é feito considerando o engajamento de novos fornecedores com a mesma proposta. “A partir do momento que temos mais frigoríficos no projeto, existe maior capacidade de fazer com que exista maior oferta desse produto e em mais lojas”, observa.

Daniela frisa que as empresas devem começar a envolver suas áreas comerciais mais próximas aos temas da sustentabilidade. “Nosso objetivo é desenhar soluções economicamente viáveis entre operações financeiras de compra e venda para que isso possa refletir em uma carne de preço acessível dentro de um público que hoje nem está conseguindo comprar carne”, salienta.

“As empresas devem furar a bolha de que para ser sustentável tem que ser mais caro. A rastreabilidade tem que trazer esses parceiros capazes de baratear essas soluções”Daniela Mariuzzo, diretora executiva da IDH Brasil

Os pequenos produtores

O investimento de 3,5 milhões de euros em 450 produtores significa, em média, cerca de 7,5 mil euros por participante do projeto. O valor aplicado é dividido em cinco tipos de consultoria: nutrição animal, pastagem, manejo do rebanho, ambiental e fundiária. “Nós não entregamos dinheiro para o produtor e sim assistência técnica”, explica a CEO da IDH.

Os produtores são de duas regiões do Mato Grosso: uma no bioma Amazônia e outra no Cerrado. O rastreio dos animais envolve um processo que passa pela avaliação de todos os critérios socioambientais, incluindo listas do Ibama, do Ministério do Trabalho, do desmatamento zero e do eventual conflito com áreas indígenas.

“Tudo isso é verificado na propriedade junto ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). Todas as propriedades têm essa identificação, e os animais também passaram a ser identificados desde o nascimento”, esclarece Daniela.

Daniela explica que os contemplados são desde produtores que não possuem regulação fundiária, título final da terra ou CAR legalizado, até os regularizados que queiram melhorar a parte de produtividade da pastagem. “Temos produtores que já estavam legalizados e queriam melhorar a parte de manejo do gado e outros que estavam com problemas no CAR e, então, os apoiamos a fazer o cadastro de forma correta.”

Comercialização

O produto foi lançado no final de julho, na unidade Carrefour do Shopping Interlagos, em São Paulo. “Lançamos em uma das lojas mais populares da empresa na periferia de São Paulo para garantir que a mensagem chegue de uma maneira emblemática. Fizemos questão de colocar isso em uma loja que oferece o desafio de ter um preço acessível”, afirma o diretor.

O projeto prevê expansão, a princípio nas unidades do Estado de São Paulo, mas já visa distribuição em maior escala. “Estudamos levar para outras regiões, como o Rio de Janeiro, que é uma praça importante de consumo de carne e daria bastante visibilidade para o projeto. A estratégia é acompanhar toda a oferta que temos do produto para ajustar a expansão”, finaliza Vicente.

Daniela garante que a ampliação do programa não afetará o nível de segurança de rastreio. “Com base nas práticas estabelecidas nos últimos três anos, foi possível testarmos modelos e com isso construímos um protocolo de produção sustentável de bezerros que garante informações sobre a origem dos animais. Portanto, a ampliação para mais fazendas ou animais não compromete a rastreabilidade, pois seguirá o mesmo padrão”, conclui.

Fonte: Revista Globo Rural

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