
A carne cultivada representa uma tecnologia com o potencial de atenuar as preocupações éticas, ambientais e de saúde pública associadas à produção convencional de carne. No entanto, os produtores e defensores da carne cultivada devem examinar atentamente sua interação com diversos fenômenos sociais
No jornal da UNICAMP, em outubro, foi divulgado que pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp participaram de um estudo inédito no qual foi avaliado aspectos relativos à segurança da carne cultivada em laboratório. A pesquisa foi coordenada por Anderson S. Sant’Ana, docente e diretor da FEA, e pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), organização sem fins lucrativos que apoia estudos sobre proteínas alternativas.
O trabalho deve resultar em uma Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), importante para lançar no país as bases da nova tecnologia. A ideia é elaborar um documento guia sobre como produzir a carne cultivada com segurança, no qual estabelece as boas práticas de produção, e que possa ser utilizado pelas agências regulatórias. Entretanto, o documento ainda não foi divulgado.
E você? Sabe o que é uma carne cultivada em laboratório? Qual a sua origem?
Em 2013, durante uma conferência em Londres, foi lançado o primeiro hamburguer feito em laboratório do mundo, custando US$300 mil. Cientistas holandeses extraíram células de uma vaca e as utilizaram para regenerar o tecido muscular da carne bovina. Este tecido muscular foi então combinado com outros ingredientes para produzir um hambúrguer.
A carne cultivada, também é conhecida como “cultured meat
A carne cultivada, também conhecida como “cultured meat“, é produzida a partir de células animais, tipicamente obtidas por meio de biópsias de animais vivos ou recém-abatidos, ou pela extração de células de óvulos fertilizados. O processo geral do sistema de produção de carne in vitro (IMPS), inclui cinco fases: coleta de amostra de tecido, banco de células, crescimento, colheita e processamento de alimentos.
Entre as células utilizadas, algumas são células-tronco, com a capacidade de se diferenciar em praticamente qualquer tipo de célula encontrada no corpo do animal, enquanto outras são as chamadas células satélites, especializadas em regenerar e reparar tecido muscular. Algumas dessas células podem se reproduzir de 30 a 50 vezes antes de ser necessária uma nova coleta por meio de biópsia.
Gargalo do protocolo de produção
Após a coleta (biópsia e/ou extração), essas células são então colocadas em meios de cultura para iniciar o processo de crescimento, o meio de cultura utilizado deve ser estéril, composto por água, glicose, sais minerais, vitaminas, aminoácidos e indutores de crescimento, sendo este o gargalo do protocolo de produção, em decorrência do custo do meio de cultura utilizado. Na sequência, são preparadas para o ambiente de biorreator. Estes biorreatores controlam a temperatura, pH, pressão proporcionando o ambiente adequado para as reações e transformações bioquímicas necessárias.
É “a mesma coisa que a carne tradicional”, mas com “o animal retirado da equação”
Segundo uma matéria divulgada pela National Geographic, em 13 de julho de 2023, Claire Bomkamp, cientista-chefe de carnes e frutos do mar cultivados do Good Food Institute, diz que é “a mesma coisa que a carne tradicional”, mas com “o animal retirado da equação”.
O impacto ambiental da carne cultivada em laboratório pode superar o da pecuária
Alguns pesquisadores afirmam que essa tecnologia poderia oferecer uma abordagem sustentável para atender à crescente demanda por carne. Entretanto, outros apontam que em longo prazo, o impacto ambiental da carne cultivada em laboratório pode superar o da pecuária. Ao contrário de estudos anteriores, essas pesquisas levaram em consideração não apenas as emissões de gases, mas também os custos energéticos associados à infraestrutura necessária para o cultivo de células.
Os animais possuem um sistema imunológico que naturalmente os protege contra infecções bacterianas e outros agentes. Isso não se aplica ao cultivo de células, onde, em um ambiente rico em nutrientes, as bactérias se multiplicam mais rapidamente do que as células animais. Para garantir que a produção de carne cultivada seja livre de contaminação e para evitar a criação de um produto com mais bactérias do que carne, é essencial manter um elevado nível de esterilidade.
No entanto, críticos dessa ideia argumentam que a solução mais simples para lidar com a já prevista escassez de alimentos no mundo seria a redução do consumo de carne.
Mercado de carne cultivada
Singapura, em 2020, foi o primeiro país a aprovar a comercialização de carne de frango produzida em laboratório, pela startup norte-americana Eat Just Inc. Em junho de 2023, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), aprovou a produção e a venda de carne de frango de laboratório em seu país, pelas empresas Upside Foods e a Good Meat. As empresas fizeram inicialmente parcerias com os restaurantes Bar Crenn, em São Francisco, e China Chilcan, em Washington. A expectativa é de que outras carnes cultivadas em laboratório sejam disponibilizadas em supermercados e restaurantes.
A produção de carne bovina cultivada em laboratório pode ser até oito vezes mais cara
A produção de carne bovina cultivada em laboratório pode ser até oito vezes mais cara, embora o custo tenha diminuído significativamente desde a criação do primeiro hambúrguer cultivado em laboratório, em 2013. Conforme literatura, uma parcela significativa do custo do processo de carne cultivada, que varia de 55% a 95%, está associada ao meio de cultivo, e 95% desse custo é atribuído ao uso do soro fetal bovino.
No Brasil, cinco empresas já desenvolvem tecnologias similares
No Brasil, cinco empresas já desenvolvem tecnologias similares, algumas delas já anunciadas como a JBS e BRF, que trabalham em parceria com empresas e pesquisadores da Espanha e de Israel, respectivamente. Além dessas grandes empresas, outras três empresas menores, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais também estão trabalhando com carne cultivada.
Final
Em conclusão, a carne cultivada representa uma tecnologia com o potencial de atenuar as preocupações éticas, ambientais e de saúde pública associadas à produção convencional de carne. Isso inclui questões relacionadas às emissões de gases de efeito estufa, uso da terra e água, resistência a antibióticos, doenças transmitidas por alimentos e zoonoses, além do abate de animais. No entanto, para além dos desafios técnicos relacionados à melhoria das escalas do processo de produção, os produtores e defensores da carne cultivada devem examinar atentamente sua interação com diversos fenômenos sociais, como saúde pública, menor utilização de recursos de energia, e por fim as instituições culturais.
Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado.
Fonte: Scot Consultoria
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