
Desde 2023, que marcou o ápice da fase de baixa do atual ciclo pecuário, o mercado de inseminação artificial bovina vem dando sinais de recuperação.
A aquisição de sêmen bovino é uma decisão estratégica com reflexos diretos sobre a produtividade, a rentabilidade e a qualidade do rebanho. Para garantir um resultado positivo, deve-se considerar fatores como o calendário reprodutivo, as oscilações dos preços do mercado pecuário e o comportamento da oferta por parte das centrais de inseminação.
Desde 2023, que marcou o ápice da fase de baixa do atual ciclo pecuário, o mercado de inseminação artificial bovina vem dando sinais de recuperação. Esse movimento está sustentado pelo fortalecimento da demanda interna, avanço da tecnificação nas propriedades e valorização crescente da genética como ferramenta para alavancar eficiência.
Segundo os dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial, no primeiro trimestre de 2025 foram produzidas 4 milhões de doses de sêmen de bovinos de corte no país, uma alta de 1,1% frente às 3,9 milhões registradas no mesmo período em 2024. No mercado global, as importações cresceram 189,9% na comparação feita ano a ano.
No campo, as vendas acompanharam esse movimento, totalizando 2,4 milhões de doses no primeiro trimestre desse ano, crescimento de 11,3% frente ao mesmo período do ano passado. Por outro lado, a exportação de sêmen de corte caiu 60,1%, reflexo da maior absorção do mercado interno e da consolidação do pecuarista brasileiro como principal consumidor do material genético nacional e importado. Confira na figura 1 a comparação entre o primeiro trimestre de 2024 e 2025 no mercado de sêmen com aptidão de corte.
Figura 1.
Comparação da produção, importação, vendas e exportação de sêmen com aptidão de corte no primeiro trimestre de 2024 e 2025.
Fonte: ASBIA / Elaboração: Scot Consultoria
Essa expansão interna sugere a necessidade de planejamento na aquisição de sêmen, em termos de custo e de disponibilidade. A estação de monta – geralmente realizada entre setembro e dezembro – determina o período para o uso de protocolos de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).
Dessa forma, para otimizar os custos, é interessante adquirir material genético fora dos períodos de maior demanda e menor oferta (fora do período e da proximidade da estação de monta), como nos meses de maio a julho, janela estratégica para a compra de sêmen. Nesse intervalo, as centrais já reabasteceram os estoques, os preços ainda não estão pressionados pela demanda de pico, e é possível garantir genética de alta demanda com prazos de entrega mais organizados e, muitas vezes, com descontos por compras antecipadas. De modo geral, no segundo semestre, o preço das doses de sêmen sofre um aumento de aproximadamente 10% a 15%, segundo informações de agentes-chaves consultados.
A antecipação da compra favorece o planejamento logístico e financeiro da propriedade. Historicamente, a cotação da arroba do boi gordo apresenta comportamento sazonal: entre maio e junho, a cotação tende a cair devido a maior oferta; já a partir de julho, há alta progressiva, que geralmente culmina em picos no último trimestre. Essa sazonalidade pode oferecer oportunidades de ajuste de fluxo de caixa: pode-se adquirir sêmen em momento de menor pressão de custos, enquanto se prepara para vender os bovinos em período de mercado aquecido.
Além disso, comprar com antecedência protege-se contra a volatilidade cambial, que impacta nos preços das doses de sêmen importados. Em 2025, com o aumento de 189,9% nas importações, é de se esperar maior concorrência interna por genética internacional, o que pode elevar preços e reduzir disponibilidade de última hora.
Outro custo a ser considerado é o do nitrogênio líquido para a conservação das doses em botijões criogênicos. O consumo de nitrogênio líquido pode variar dependendo do modelo do botijão e das condições de armazenamento. Em média, um botijão para 1,2 mil doses raqueadas (palheta fina), tem capacidade para 20,5 litros de nitrogênio e pode manter essas doses por até 135 dias (sem a abertura constante do botijão).
Considerando que o preço médio do nitrogênio líquido é de R$5,00 por litro e que as doses serão armazenadas por um período de nove meses – sendo seis meses antes do início da estação de monta e três meses durante a estação – o custo estimado com nitrogênio líquido para manter as 1,2 mil doses é de aproximadamente R$182,00. Caso o pecuarista opte por adquirir as doses apenas na estação de monta, reduzindo o tempo de armazenamento para três meses (período de manejo), o custo com nitrogênio líquido seria de cerca de R$135,00.
O impacto financeiro, considerando apenas a compra de sêmen, uma propriedade que insemina 500 matrizes, divididas entre genética Nelore (nacional) e Brangus (importado). Em maio-junho, o sêmen de determinado touro Nelore pode custar R$35,00 por dose, enquanto o Brangus pode custar R$27,30. Já entre setembro e outubro, com maior pressão de demanda e variação cambial, os mesmos produtos podem custar R$40,25 e R$31,40, respectivamente.
Na tabela 1 está uma simulação dos custos conforme o momento de aquisição do sêmen e do nitrogênio líquido, destacando o impacto financeiro da compra antecipada em relação ao período de maior demanda.
Tabela 1.
Comparativo de custos com sêmen e nitrogênio líquido em diferentes momentos de compra.
Momento da compra | Período da estação de monta | Sêmen Nelore (250 doses) | Sêmen Brangus (250 doses) | Nitrogênio líquido | Custo total |
Mai-Jul | Out-Dez | R$8.750,00 | R$6.825,00 | R$182,00 | R$15.757,00 |
---|---|---|---|---|---|
Set-Out | Out-Dez | R$10.062,50 | R$7.850,00 | R$102,50 | R$18.015,00 |
Fonte: Scot Consultoria
Mesmo considerando o custo adicional com nitrogênio líquido para um período maior de armazenamento, a antecipação da compra de sêmen pode gerar uma economia. No exemplo, a diferença entre comprar em maio-julho e em setembro-outubro é de R$2.258,00, uma redução de 14,3% no custo total. Essa economia reforça a importância do planejamento para melhorar a eficiência econômica da estação de monta.
Em síntese, o atual momento de recuperação do mercado de inseminação, e o fortalecimento da demanda interna e do aumento das importações, exige atenção ao planejamento reprodutivo. Antecipar a compra de sêmen entre os meses de maio e julho permite maior acesso à genética desejada, melhores condições comerciais, menor risco logístico e melhor organização financeira.
Decidir o melhor momento para a compra de insumos vai além de uma simples transação comercial – trata-se de um investimento estratégico na eficiência, na saúde financeira da fazenda e na sua competitividade dentro do mercado.
Fonte: ScotConsultoria
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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