Casquinha e farelo de soja? Confira o uso correto de cada subproduto no rebanho

Entender as diferenças nutricionais entre casquinha e farelo de soja é essencial para acertar na dieta, evitar prejuízos e garantir desempenho no leite e na carne. Especialistas reforçam que o uso correto depende da fase do animal e do objetivo produtivo.

A nutrição adequada do rebanho é um dos pilares mais importantes da pecuária moderna, especialmente em um cenário em que os custos com alimentação representam até 70% do custo total da produção. Entre os ingredientes mais utilizados na formulação de dietas para bovinos, a casquinha de soja e o farelo de soja estão entre os mais questionados pelos produtores: qual usar? Em que fase? E qual realmente vale a pena?

Embora os dois venham da mesma matéria-prima — o grão de soja — seus papéis dentro da dieta são completamente diferentes. Nos últimos anos, pesquisas e análises bromatológicas feitas em universidades como UFV, USP e Kansas State University, além de dados compilados por consultorias como Intensifique, Rehagro e Agroconsult, reforçam a necessidade de utilizar cada subproduto com estratégia, evitando erros comuns que prejudicam desempenho e aumentam custos.

Diferenças nutricionais fundamentais

A seguir, dados médios compilados entre 2019 e 2024, considerando análises nacionais e internacionais.

📌 Tabela 1 — Comparativo bromatológico da casquinha x farelo de soja

Valores em base seca (%), médias técnicas dos últimos 5 anos.

ComponenteCasquinha de SojaFarelo de Soja (48%)
Proteína Bruta (PB)9% – 12%46% – 50%
Fibra em Detergente Neutro (FDN)62% – 70%9% – 13%
Fibra em Detergente Ácido (FDA)42% – 50%4% – 7%
Energia Líquida (ELg – ganho)1,15 – 1,28 Mcal/kg1,32 – 1,48 Mcal/kg
Digestibilidade da Matéria Seca (DMS)55% – 65%85% – 90%
Amido< 3%≈ 5%
Lignina3% – 5%1% – 2%

Conclusão técnica:

  • O farelo de soja é um ingrediente proteico de alta qualidade.
  • A casquinha de soja é uma fonte de fibra altamente digestível e uma alternativa energética ao volumoso.

Como cada subproduto atua no rebanho de corte

📌 Tabela 2 — Uso em bovinos de corte (recria, engorda e confinamento)
Objetivo da dietaCasquinha de sojaFarelo de soja
Aumentar ganho de peso (recria)Boa fonte energética e de fibra digestívelFonte proteica essencial
Dietas com alta inclusão de concentradoAjuda a reduzir risco de acidosePode elevar custo se usado em excesso
Substituição parcial de volumosoViável em 10%–25% da MSNão recomendado
Confinamento intensivoMelhora fermentação ruminalUsar com moderação

Como cada subproduto atua no rebanho leiteiro

📌 Tabela 3 — Uso em vacas de leite em diferentes fases produtivas
Fase produtivaCasquinha de sojaFarelo de soja
Pré-partoAuxilia na regulação ruminalSuporte proteico moderado
Pique de lactaçãoComplementa fibra efetivaPrincipal suplemento proteico
Alta produção (>30 L/dia)Ajuda na energia fermentávelIndispensável para síntese de proteína no leite
Vacas em final de lactaçãoBoa alternativa para reduzir custosUso moderado

Casquinha e farelo de soja: O que dizem os especialistas

Marcius Gracco (Intensifique Consultoria) — Nutrição de corte

Ele reforça que a casquinha é imbatível como fibra de alta digestibilidade, atuando como reguladora do rúmen em dietas com muito milho ou concentrado. Para ele, “a maior vantagem da casquinha é permitir dietas mais estáveis, evitando acidose e mantendo o cocho ‘funcionando’”.

Prof. Marcos Neves Pereira (UFV) — Referência em ruminantes

O pesquisador explica que o farelo de soja “continua sendo a principal fonte proteica da pecuária brasileira”, pela alta digestibilidade e perfil de aminoácidos. Segundo ele, “não há como substituir totalmente o farelo em rebanhos de alta performance”.

Dr. Pedro Goulart (FMVZ/USP) — Nutrição de vacas leiteiras

O especialista lembra que em vacas de alta produção, o farelo de soja é fundamental para evitar queda no teor de proteína do leite e manter o consumo. Ele ressalta que produtividades acima de 28–30 litros/dia exigem suplementação proteica consistente.

Consultoria Rehagro — Manejo de volumosos

Técnicos apontam que a casquinha tem sido essencial em fazendas com déficit de silagem, especialmente nos últimos anos de irregularidade climática. Porém, alertam: “Ela não substitui o volumoso real em longo prazo, porque estimula pouco a ruminação”.

Quando usar cada um?

Use casquinha de soja quando:

  • faltar volumoso na fazenda
  • a dieta tiver muito milho/concentrado
  • houver risco de acidose
  • você desejar reduzir custos mantendo desempenho
  • quiser aumentar fibra digestível

Use farelo de soja quando:

  • o rebanho estiver em alta exigência proteica
  • vacas estiverem no pico de lactação
  • animais de corte estiverem na recria e crescimento
  • houver necessidade de maximizar ganho ou produtividade

Conclusão

A casquinha e o farelo de soja não competem entre si. Pelo contrário: cada um cumpre um papel único dentro da dieta.
A casquinha é excelente para equilibrar o rúmen, fornecer energia fermentável e atuar como fibra de alta digestibilidade.
O farelo é indispensável quando o objetivo é estrutura, ganho, leite e desempenho máximo.

A recomendação dos especialistas é clara: a escolha correta depende da fase do animal, do objetivo produtivo e da composição da dieta base. Em muitos casos, o melhor resultado vem da combinação estratégica dos dois.

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