Trabalho realizado pela diretoria executiva e pilares do Conselho em defesa dos cafés do Brasil foram enaltecidos pelos membros da entidade em AGO.
Em Assembleia Geral Ordinária (AGO) realizada no dia 10 de dezembro, os conselheiros e associados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) aprovaram o relatório financeiro orçado x realizado em 2025, a prévia do orçamento para 2026 e as ações realizadas pela diretoria executiva e pelos pilares de Responsabilidade Social e Sustentabilidade (RSS), Institucional, Logístico, Comércio Exterior e TI, Jurídico-Tributário e de Comunicação.
“Vivemos um ano extremamente desafiador, com muitos assuntos inesperados surgindo e impactando diretamente o setor exportador de café. Realizamos um planejamento express e fomos a campo, obtendo êxitos que recolocaram o comércio exterior em um eixo de normalidade. Com o sentimento de dever cumprido, é fundamental agradecermos o suporte e a compreensão de nossos conselheiros e comitês técnicos, que permitiram que pudéssemos realizar a defesa dos nossos exportadores associados”, resume Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé.
Ele reforça que, em todos os pilares de atuação da entidade, os obstáculos foram inúmeros e demandaram um trabalho focado, “uma missão de vida”, para defender a cafeicultura brasileira, em especial o interesse dos nossos exportadores associados. “E tenho certeza de que o balanço é positivo diante de tudo que a gente enfrentou neste ano”, celebra.
Reforma tributária
O Cecafé teve iniciativa estratégica junto com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), contando com uma atuação muito importante do relator da matéria, deputado federal Reginaldo Lopes.
O texto que foi do Senado à Câmara não considerava o café como um todo dentro da cesta básica, o que daria um acúmulo de crédito tributário na cadeia produtiva que poderia ser de 25% a 28%, o que, segundo Matos, geraria um prejuízo ao cafeicultor, uma vez que a exportação tem isenção pela Lei Kandir e a industrialização e o consumo interno, por envolverem produtos prontos para consumo, possuem imposto zero.
“Na compra do café verde fora da cesta básica teríamos um prejuízo muito grande. Esse trabalho, que realizamos com muito afinco, permitiu que todos os tipos de café fossem incluídos na cesta e evitou que houvesse um acúmulo de impostos. Para o ano que vem, temos a regulamentação de uma série de questões dentro da Reforma Tributária, mais de 60 normativos diferentes e, com certeza, vamos acompanhar cada uma delas”, explica.
Tarifaço dos EUA – Desde o dia 14 de julho, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou o tarifaço adicional sobre os cafés do Brasil, o Cecafé intensificou o trabalho de articulação política e institucional junto ao governo federal e aos parceiros da indústria cafeeira norte-americana, com o objetivo de buscar reverter a situação, a qual passou a inviabilizar os negócios entre os dois países.
“A gente não esperava algo do tipo pela lógica de mercado. Se de um lado temos os EUA como o maior consumidor de café, com a importação de 25,5 milhões de sacas e 76% da população consumindo o produto, do outro o Brasil é o maior produtor e exportador, abastecendo um terço do mercado americano, o que torna os dois países interdependentes”, analisa.
E o diretor-geral do Cecafé recorda que, nessa parceria, quem mais ganha são os Estados Unidos, pois a cada US$ 1 que importam em café, são gerados US$ 43 na economia americana, fazendo com que a indústria cafeeira movimente US$ 343 bilhões ao ano e seja responsável por 1,2% do PIB do país.
“Todos fomos pegos de surpresa quando o presidente Trump oficializou a ordem executiva 14.323 contra o Brasil, aumentando em 40% e elevando a taxação sobre nossos cafés a 50%, somando-se os 10% das taxas recíprocas. Isso porque quem mais ganha nessa relação são os EUA, que não produzem café, e o Brasil é o maior parceiro, respondendo por mais de 30% daquele mercado”, lembra.
De acordo com dados do Cecafé, de agosto a novembro deste ano, período de vigência das taxas impostas pelos EUA — 6 de agosto a 21 de novembro, com retroatividade ao dia 13 —, as exportações dos cafés brasileiros aos norte-americanos despencaram 54,9% na comparação com os mesmos quatro meses de 2024, saindo de 2,917 milhões de sacas para 1,315 milhão de sacas no período.
“Chegamos a calcular um prejuízo de US$ 600 milhões de dólares caso as tarifas não fossem resolvidas em 2025. E, se esticada a 2026, o prejuízo seria de mais de US$ 4 bilhões, pois a gente perderia espaços nos blends, uma vez que todos os países concorrentes podiam exportar café aos EUA, mas o Brasil não era mais competitivo”, projeta Matos.
Retirada das tarifas — “Nós corremos contra o tempo, foi uma experiência única. Em agosto, começamos a trabalhar intensamente no Brasil e com nosso maior parceiro nos EUA, a National Coffee Association (NCA), com especial agradecimento ao presidente Bill Murray, e seus associados. O contato foi permanente, diário, aos fins de semana, feriados… Foram conversas, estratégias, dezenas de reuniões com as secretarias mais importantes do governo americano, o nosso vice-presidente Geraldo Alckmin, Mauro Vieira, ministro Fávaro, sempre atualizando a eles a evolução dos cenários e os caminhos possíveis. Todos os passos foram coordenados e, quando fomos aos Estados Unidos nas primeiras vezes representando o Brasil, vimos como as portas estavam fechadas e havia muita desinformação a respeito da relação comercial entre os dois países no café”, recorda.
Ele comenta que foi necessária a realização de todo um trabalho explicativo aos membros do governo americano e de esclarecer que as questões políticas eram um mundo aparte, com o mundo muito maior sendo o da pauta econômica e o consenso de urgência.
“Foi esse Brasil que a gente explicou a eles. Fizemos uma missão empresarial com diversos setores, falamos sobre outros segmentos, contrapartidas e, nessa ocasião, começamos a entender melhor o mecanismo de funcionamento da Câmara Representativa dos Estados Unidos, a USTR. O Cecafé e a NCA fizeram a defesa dos cafés do Brasil na investigação 301 desse fórum, uma das poucas cadeias, senão a única, que contou com o apoio de sua contraparte americana na audiência. De forma resumida, essa atuação do setor privado, alinhada ao trabalho de articulação realizado pelo governo brasileiro junto ao governo americano, esclareceu o cenário e foi a chave que abriu o cadeado para o fim do tarifaço, anunciado em 21 de novembro, mas com as medidas retroativas às negociações ocorridas desde o dia 13”, completa.
10º Coffee Dinner & Summit — Em julho, o Brasil se tornou o epicentro do debate global sobre o futuro do café ao sediar o maior evento internacional do setor. Promovida pelo Cecafé, em Campinas (SP), a 10ª edição do Coffee Dinner & Summit, estruturada em novo formato, mais dinâmico, objetivo e moderno, recebeu 1.050 participantes de 45 países para debater “O futuro do fluxo do comércio: protagonismo e liderança dos Cafés do Brasil”.
O evento promoveu importantes reflexões sobre questões econômicas, climáticas, socioambientais, regulatórias e logísticas, que trazem desafios, mas também oportunidades às nações cafeeiras, principalmente ao maior produtor mundial de café, o Brasil, em relação a iniciativas sustentáveis estruturadas sob critérios ESG e o abastecimento global. “Ainda sem a existência do tarifaço, a expectativa era analisar o futuro do fluxo do comércio, tema que foi muito bem explorado por mais de 80 palestrantes, distribuídos entre painéis, “coffee talks”, palestras técnicas, Espaço de Sustentabilidade e Arenas do Conhecimento”, relembra.
O comprometimento setorial com a promoção do trabalho decente também foi um dos destaques do evento, sendo enaltecido em uma ação promovida pela Embaixada da Alemanha no Brasil e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com o apoio do Cecafé e da Associação Alemã de Café, que reuniu lideranças nacionais e internacionais do setor, organizações da sociedade civil, representantes dos trabalhadores rurais e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) para exposições de visões e ações colaborativas, em andamento no Brasil, relacionadas à melhoria contínua da sustentabilidade social da cafeicultura.
A união de esforços entre produção, exportação e governo brasileiro para a promoção do trabalho decente foi ratificada pela adesão do Cecafé ao “Pacto pela Adoção de Boas Práticas Trabalhistas e Garantia de Trabalho Decente na Cafeicultura no Brasil” durante o evento, com a presença do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho.
“O Pacto reforça a cooperação entre instituições públicas e privadas para viabilizar ações que aperfeiçoem, cada vez mais, as condições de trabalho na cafeicultura brasileira. Ao assinar este termo de adesão, uma iniciativa que se embasa no diálogo social, o Cecafé e seus associados buscam somar esforços, com seus múltiplos programas, projetos e ações de longa data relacionados à dimensão social da sustentabilidade, com as entidades de representação da produção cafeeira, o governo brasileiro, a representação dos trabalhadores rurais e a OIT, reiterando o comprometimento com a promoção do trabalho decente na cadeia produtiva do café brasileiro”, explica o diretor-geral da entidade.
Matos conclui que a nova estrutura dada ao evento, o aumento da participação e de dias para debate e networking fez com que essa edição do Coffee Dinner & Summit se tornasse a maior da história. “Permito-me compartilhar dois comentários que recebemos para resumir o sentimento sobre nosso evento. O primeiro é da secretária-geral da European Coffee Federation, Eileen Gordon, que mencionou que ‘o fórum em si foi excepcionalmente bem-organizado, com apresentações envolventes, excelente networking e uma paixão que impulsionou o café brasileiro’, e o segundo da chefe de operações da Organização Internacional do Café, Hannelore Beerlandt, que vivenciou ‘uma experiência maravilhosa e indescritível no melhor evento mundial de café”, conclui.
Pilar logístico, comércio exterior e TI
A defasagem na infraestrutura portuária e os gargalos logísticos dominaram a pauta de ações durante 2025, pois são entraves que têm prejudicado e gerado prejuízos milionários aos associados do Cecafé.
“O ano de 2025 foi bem desafiador para o comércio exportador por conta de diversos fatores, entre eles os elevados índices de atrasos de navios e rolagens de cargas, que seguiram impactando as exportações de café devido à falta de infraestrutura portuária adequada para as cargas conteinerizadas nos portos brasileiros, fato que continua gerando prejuízos logísticos ao setor e o menor repasse das receitas cambiais aos produtores”, aponta Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé.
Ele recorda que o Cecafé, de forma técnica e em conjunto com os membros de seu Comitê Logístico, empenhou esforços, fortaleceu parcerias, buscou diálogo e apoio com os elos do comércio exterior para ajudar as empresas a consolidarem os seus embarques.
“Além disso, atuamos intensamente na busca pela oferta da capacidade no Porto de Santos, por meio do leilão do Tecon Santos 10, e trabalhamos de forma colaborativa e propositiva nos Projetos de Lei nº 4158/2024 (ferrovias) e nº 733/2025 (nova lei de portos), na expectativa de buscar melhorias e obter mais eficiência para os embarques de café”, conclui.
Pilar de responsabilidade social e sustentabilidade
Em relação ao mercado europeu, os debates relacionados a regulações que impactam as exportações de café estiveram no centro da agenda do pilar de RSS. O Cecafé participou de eventos e missões na União Europeia e na América Latina, junto com as autoridades competentes e alfandegárias europeias, com o objetivo de debater a implementação do Regulamento da UE para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR, em inglês) na prática, além de acompanhar as recentes discussões sobre prorrogação e simplificação dessa legislação, um tema que continuará demandando bastante atenção em 2026.
“No que tange aos desafios para a implementação do EUDR, o Cecafé reforçou, em todos os fóruns de debates na UE e América Latina, a defesa das bases públicas brasileiras como fontes de evidências adequadamente conclusivas e verificáveis de legalidade e de que o café é livre de desmatamento. Paralelamente, estruturamos, em parceria com a Serasa Experian, aperfeiçoamentos voltados à maior eficiência do monitoramento eletrônico dessas bases oficiais do Brasil, sendo uma parte importante deste processo a colaboração entre o Conselho e a Fundação Solidaridad para o enfrentamento de desafios relacionados a falsos positivos para desmatamento”, destaca diretora de RSS da entidade, Silvia Pizzol.
Ela aponta que, também no eixo regulatório, a nova visão para agricultura e alimentação da União Europeia foi um tema de grande importância para o pilar de Sustentabilidade do Cecafé, pois torna necessária atenção redobrada às revisões de Limites Máximos de Resíduos (LMRs), assim como às boas práticas de manejo dos cafezais.
“Em 2025, concluímos mais uma etapa do Projeto de Monitoramento de Resíduos e Contaminantes no Café, cujos resultados são muito importantes para embasar tecnicamente as discussões relacionadas à segurança alimentar em importantes mercados de destino do café brasileiro”, expõe.
Já em relação à agenda de carbono do Cecafé, Silvia enaltece a conclusão do Estudo de Viabilidade de um Programa Agrupado de Créditos de Carbono na Cafeicultura Brasileira, em parceria com a StoneX Carbon Solutions, cujo resultado foi favorável sob a ótica financeira, técnica e jurídica.
“Em todos os cenários de manejo, que foram avaliados em campo pelos pesquisadores do instituto Allcot, foi possível quantificar remoções líquidas de gases de efeito estufa da atmosfera, reforçando que a cafeicultura é parte da solução quando se trata de mitigação das mudanças climáticas e que há oportunidades de investimento verde no setor cafeeiro do Brasil”, revela.
A diretora de RSS do Cecafé conclui que 2025 foi um ano em que a entidade avançou muito em cooperação, que é a base para a sustentabilidade. Novas parcerias estratégicas foram estruturadas nesse sentido, entre as quais se destacam:
– Colaboração entre o Cecafé e o Ministério do Trabalho e Emprego no âmbito do Programa Trabalho Sustentável para capacitação de técnicos multiplicadores em condições de trabalho decente;
– Realização do piloto do projeto “Vivenciando a Prática: Café”, fruto da colaboração com a Exportadora de Café Guaxupé e a organização DONME, uma ação de responsabilidade social que valoriza a escola pública e o envolvimento dos exportadores com as comunidades em que estão inseridos; e
– A parceria entre Cecafé, exportadores e a Emater-MG para o fortalecimento do programa “Construindo Solos Saudáveis”, que promove práticas de agricultura regenerativa na cafeicultura mineira.
Pilar de comunicação
Todos esses desafios e iniciativas em que o Cecafé esteve envolvido, além da realização do 10º Coffee Dinner & Summit, vinculados à disponibilidade de porta-vozes, ao intenso comprometimento e aos trabalhos de follow up e atendimento à imprensa do pilar de Comunicação, fizeram com que a entidade ampliasse significativamente sua presença na mídia.
“Desde a criação da Gerência de Comunicação, em abril de 2021, o Cecafé alavancou sua visibilidade na imprensa, apresentando avanços de 1.015% ante 2020 nas aparições em veículos de comunicação, que dispararam para 20.242 no acumulado de janeiro a novembro 2025, e de 3.870% na equivalência publicitária (valor que teria que ser pago) para ocupação desses espaços, chegando a R$ 1,072 bilhão nos 11 primeiros meses deste ano”, destaca Paulo André Colucci Kawasaki, gerente do setor no Conselho.
O novo formato, mais dinâmico, objetivo e moderno do 10º Coffee Dinner & Summit, envolvendo a contratação de mídia oficial e parceiros de mídia, em conjunto com temas completamente relevantes à cadeia produtiva mundial do café, também contribuiu para o aumento das aparições do Cecafé na imprensa.
“Em 2025, tivemos a maior repercussão na história do evento na mídia, com 700 menções nos meios de comunicação, o que gerou uma equivalência publicitária de R$ 150,4 milhões”, revela o gerente de Comunicação do Cecafé.
Kawasaki completa que o portal Agro em Campo — o veículo de maior audiência do agronegócio brasileiro atualmente —, do grupo iG, que foi mídia oficial do Coffee Dinner & Summit, foi aquele que mais auxiliou na divulgação, com 65 conteúdos publicados e valoração de R$ 16,2 milhões, seguido pelo Notícias Agrícolas, parceiro de mídia do evento, com 28 conteúdos e equivalência publicitária de R$ 417,6 mil.
Fonte: Cecafé
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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