Cerveja produzida por padres em igreja mineira é eleita a melhor do mundo

Tradição centenária mantida por padres em Juiz de Fora conquista ouro no maior concurso de cervejas independentes da América Latina. A WeissBier produzida pela Cervejaria Hofbauer conquistou medalha de ouro no Brazilian International Beer Awards

No subsolo de uma igreja católica em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, uma tradição silenciosa atravessa gerações há mais de um século — longe dos grandes polos cervejeiros e dos holofotes do mercado. É ali, no porão da Igreja Nossa Senhora da Glória, que padres da Congregação Redentorista mantêm viva uma produção artesanal iniciada no fim do século XIX e que, agora, acaba de colocar Minas Gerais no topo do cenário internacional da cerveja. Cerveja produzida por padres em igreja mineira é eleita a melhor do mundo!

A WeissBier produzida pela Cervejaria Hofbauer conquistou medalha de ouro no Brazilian International Beer Awards, considerado o maior concurso de bebidas independentes da América Latina. Segundo a organização do evento, o rótulo mineiro se destacou em meio a mais de mil cervejas inscritas, alcançando nota 97 de 100, após avaliação criteriosa de atributos como aroma, sabor, equilíbrio e conjunto sensorial.

Com o resultado, a Hofbauer foi reconhecida como a melhor do mundo na categoria disputada, coroando uma sequência expressiva de conquistas: este foi o quarto prêmio recebido pela cervejaria em 2025, justamente no ano em que passou a disputar competições oficiais.

A história da Hofbauer começa no fim do século XIX, quando missionários redentoristas trouxeram ao Brasil a tradição monástica de produção de cerveja, inspirada na cultura europeia, especialmente da Holanda e da Áustria. Em Juiz de Fora, essa prática foi incorporada à rotina do convento e mantida ao longo das décadas pelos irmãos da congregação.

Até hoje, a fabricação segue uma lógica quase artesanal do tempo: lotes de apenas 350 litros, produzidos somente quatro vezes por ano, em um processo marcado por métodos manuais e extremo cuidado técnico. O maquinário reforça o caráter histórico da cervejaria — são equipamentos importados da Holanda em 1907, preservados e utilizados até os dias atuais.

A produção é artesanal e feita pelos padres. Foto: guiadacervejabr

No copo, a WeissBier da Hofbauer apresenta coloração amarelo-claro, turbidez natural e teor alcoólico de 5,3%. No paladar, o rótulo se destaca por um corpo leve, baixo amargor e um final suavemente cítrico, combinação que ajuda a explicar a alta pontuação obtida entre os jurados internacionais.

De acordo com a cervejaria, o objetivo nunca foi produzir em escala industrial, mas preservar a identidade histórica e a fidelidade ao estilo clássico, respeitando receitas e processos transmitidos ao longo das gerações dentro da congregação.

Para o mestre-cervejeiro Taylor Bertoli, responsável pela produção atual, o prêmio representa muito mais do que um troféu. Em entrevistas, ele destaca que as premiações ampliam a visibilidade da marca, fortalecem a credibilidade técnica e ainda permitem troca de experiências com cervejeiros de diferentes países, inclusive por meio dos feedbacks detalhados fornecidos pelos jurados.

Quem deseja conhecer de perto essa história pode visitar a cervejaria. As visitas acontecem aos sábados, mediante agendamento, para grupos de até 30 pessoas, ao custo de R$ 65. O pacote inclui degustação de três cervejas, além de pão e bolinho de cevada.

Segundo a paróquia, os recursos arrecadados com a venda das cervejas são destinados a projetos sociais mantidos pela igreja, reforçando o caráter comunitário da iniciativa. Atualmente, a Hofbauer produz sete estilos de cerveja artesanal, comercializados na biblioteca redentorista da igreja e também pelo site oficial, com entrega para todo o Brasil.

A bebida é produzida com maquinário original. Foto: cervejahofbauer

Criada em 1894 por religiosos holandeses, a cervejaria chegou a ficar 15 anos com a produção paralisada. A retomada começou em 2009, liderada pelo padre Flávio Campos, responsável por reorganizar a atividade e abrir caminho para que a Hofbauer fosse apresentada ao público. Flávio faleceu precocemente em 2020, aos 44 anos, vítima de infarto, mas deixou um legado decisivo para a preservação da tradição.

Foi também sob sua liderança que a cerveja do convento foi vendida pela primeira vez ao público, durante o Forest Beer, Festival de Cerveja Artesanal de Juiz de Fora, em 2019. A partir de 2021, a produção ganhou autorização para maior escala, sempre sem abrir mão do método histórico.

Fundada na Itália em 1732 por Santo Afonso, a Congregação Redentorista se espalhou pela Europa levando, além da doutrina religiosa, a tradição cervejeira comum nos mosteiros. Em Juiz de Fora, essa herança permanece viva, unindo fé, cultura, história e excelência técnica.

Mais do que uma curiosidade, a Hofbauer se consolida hoje como um símbolo raro: uma cerveja feita por padres, no porão de uma igreja, que atravessou séculos e conquistou o mundo sem abrir mão de suas origens.

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