China impõe cotas e tarifa de 55% para importação de carne bovina brasileira

China impõe cotas e tarifa extra à carne bovina importada e medidas de salvaguarda entram em vigor imediatamente, preveem tarifa adicional de 55% sobre volumes que excederem cotas por país e valem até o fim de 2028

A China anunciou nesta quarta-feira (31) a adoção de medidas de salvaguarda para a importação de carne bovina, alterando de forma relevante a dinâmica do comércio global da proteína. A decisão foi comunicada pelo Ministério do Comércio da China (Mofcom) e passa a valer já a partir de 1º de janeiro, com vigência prevista de três anos, até 31 de dezembro de 2028. China impõe cotas e tarifa de 55% para importação de carne bovina brasileira e preocupa mercado pecuário nacional.

Na prática, o governo chinês estabeleceu cotas específicas de importação por país. Para os volumes que excederem essas cotas, será aplicada uma tarifa adicional de 55%, além das alíquotas já existentes. A medida havia sido antecipada por fontes do mercado e era considerada iminente por autoridades e pelo setor produtivo brasileiro.

Brasil mantém maior cota, mas abaixo do volume já exportado

Principal fornecedor de carne bovina ao mercado chinês, o Brasil terá uma cota de 1,106 milhão de toneladas em 2026 sem a incidência da tarifa adicional. Esse volume sobe para 1,128 milhão de toneladas em 2027 e 1,154 milhão de toneladas em 2028.

O número, porém, chama atenção quando comparado ao desempenho recente das exportações brasileiras. Somente até novembro deste ano, o País já havia embarcado 1,499 milhão de toneladas de carne bovina para a China, totalizando US$ 8,028 bilhões em receita. Ou seja, o patamar autorizado pela nova cota é significativamente inferior ao fluxo atual, o que pode resultar em encarecimento do produto brasileiro ou redirecionamento de exportações.

A título de comparação, neste ano no acumulado até novembro, o País já exportou 1,499 milhão de toneladas de carne bovina ao mercado chinês, somando US$ 8,028 bilhões.

Interlocutores do governo brasileiro afirmam que a sinalização das cotas e tarifas vinha sendo feita há meses pelas autoridades chinesas. A leitura predominante era de que a China adotaria uma salvaguarda considerada “moderada”, tanto para preparar os países exportadores quanto para reduzir impactos diplomáticos na relação bilateral.

Mesmo assim, a decisão gera preocupação no setor produtivo brasileiro, especialmente diante do peso do mercado chinês nas exportações nacionais de proteína animal.

Cotas também limitam grandes concorrentes globais

Além do Brasil, outros grandes exportadores de carne bovina também terão suas vendas limitadas por cotas, definidas com base na participação histórica de cada país nas importações chinesas. O Brasil segue com a maior fatia, respondendo por cerca de 45% da carne bovina importada pela China.

As cotas anunciadas incluem:

  • Argentina: 511 mil toneladas
  • Uruguai: 324 mil toneladas
  • Nova Zelândia: 206 mil toneladas
  • Austrália: 205 mil toneladas
  • Estados Unidos: 164 mil toneladas

Justificativa: “dano grave” à indústria chinesa

Ao justificar a adoção da salvaguarda, o Mofcom afirmou que “o aumento das importações de carne bovina causou graves danos à indústria nacional da China”, sustentando que existe relação causal direta entre o crescimento das importações e a deterioração do setor local. Esse argumento já havia sido apresentado pelo país em discussões na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Segundo o governo chinês, as medidas serão gradualmente flexibilizadas ao longo do período de vigência, embora a tarifa adicional de 55% continue sendo aplicada a qualquer volume que ultrapasse a cota anual de cada país. O Mofcom também deixou claro que cotas não utilizadas não poderão ser transferidas para o ano seguinte.

Durante a vigência das salvaguardas, as medidas especiais previstas no Acordo de Livre Comércio China–Austrália para carne bovina serão suspensas. Por outro lado, países e regiões em desenvolvimento ficarão isentos da salvaguarda desde que não ultrapassem 3% da cota individual e 9% da cota regional total.

Investigação começou em 2024 e atendeu pressão interna

A investigação de salvaguarda teve início em 27 de dezembro de 2024, com prazo final inicialmente previsto para janeiro deste ano. O processo foi impulsionado por pressões de pecuaristas chineses, que alegaram prejuízos após o forte crescimento das importações, responsável por queda nos preços pagos aos produtores locais e redução do valor da carne no mercado interno.

No relatório final, o Mofcom destacou que analisou o aumento do volume importado, os efeitos sobre a indústria doméstica e o nexo causal entre importações e danos econômicos.

China impõe cotas e tarifa de 55% para importação de carne bovina com possibilidade de revisão ao longo do período

Por fim, o governo chinês informou que as medidas poderão ser revistas durante o período de implementação, o que mantém aberta a possibilidade de ajustes futuros — seja por pressão do mercado, negociações diplomáticas ou mudanças no cenário de oferta e demanda.

Para o Brasil, o anúncio representa um divisor de águas no comércio de carne bovina com a China, exigindo estratégia, diversificação de mercados e atenção redobrada às negociações internacionais nos próximos anos.

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