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China vai produzir carne de laboratório em escala até 2027

A decisão ocorre em um momento em que o país tenta diversificar seus fornecedores de carne e busca tomar medidas mais fortes para a redução do aquecimento global.

A China anunciou que vai incluir a chamada “carne cultivada”, feita em laboratório, em seu plano agrícola de cinco anos. Em outras palavras, o país asiático planeja produzir carne de laboratório em larga escala até 2027. A decisão ocorre em um momento em que o país tenta diversificar seus fornecedores de carne e busca tomar medidas mais fortes para a redução do aquecimento global, uma vez que a pecuária é responsável por 14,5% das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Além da carne artificial, a China também quer incluir outros alimentos, como ovos à base de plantas, como parte de seu plano para a segurança alimentar daqui para frente. Um dos objetivos do país é tentar diversificar a sua cadeia alimentar com produtos que ela mesma possa produzir, diminuindo, dessa maneira, a dependência externa. Autoridades chinesas afirmam ainda que o movimento garante a segurança alimentar dos chineses, principalmente após os surtos de peste suína africana de 2019 e 2020 que fizeram a produção doméstica de carne suína despencar na China.

O que é carne cultivada?

Carne cultivada, carne de laboratório ou carne artificial é a carne produzida em laboratório por meio de técnicas de bioengenharia. Ela é produzida a partir de células animais, começando com a retirada indolor de uma amostra de tecido muscular de um animal vivo, que é então transformada em massas de células. Com isso, não há o abate desses animais. Até o momento, já houve tentativas com amostras de vacas, galinhas, coelhos, patos, camarões e até atuns. Todas elas foram levadas a laboratórios na tentativa de recriar partes de seus corpos sem ter de criar, confinar ou abater os próprios animais.

Essa ideia de carne de laboratório ganhou relevância no ano de 2013, quando Mark Post, professor da Universidade de Maastricht, apresentou o primeiro “hambúrguer de laboratório” do mundo. A experiência, financiada por Sergey Brin, co-fundador do Google, foi resultado de 5 anos de pesquisa e surgiu a partir da reprodução de células-tronco bovinas, cultivadas e alimentadas com nutrientes em laboratório.

As carnes cultivadas são uma tecnologia relativamente nova que promete derrubar a agricultura animal tradicional, substituindo os matadouros por laboratórios. Mas, embora as empresas alternativas de carne tenham feito grandes avanços na replicação do sabor e da textura da carne suína, bovina e de frango criadas convencionalmente, as barreiras ao desenvolvimento e distribuição em larga escala permanecem. A adoção da tecnologia pela China poderia derrubar essa métrica, incentivando o investimento e fornecendo o mercado.

Impacto no meio ambiente

A China é, atualmente, a maior fonte mundial de emissões de gases de efeito estufa. Por conta disso, o país está sob pressão contínua para tomar medidas mais fortes para lidar com seu papel no aquecimento global. Por ser responsável por até 14,5% das emissões globais, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a pecuária pode ser um bom lugar para começar.

Além disso, o Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas da ONU está pedindo uma redução no consumo global de carne para ajudar a reduzir os gases que aquecem o clima. No entanto, a demanda deve quase dobrar até 2050, segundo o World Resources Institute, particularmente em países com uma classe média crescente, como a China. O consumo de carne per capita triplicou desde o final da década de 1980 no gigante asiático, e hoje o país consome 28% da carne do mundo, incluindo metade de toda a carne suína.

Ao promover alternativas à carne cultivada, a China poderia reduzir as emissões de gases de efeito estufa da criação de gado (ou importação de carne), garantindo a manutenção da segurança alimentar — uma preocupação vital, principalmente após os surtos de peste suína africana de 2019 e 2020 mencionados no início do texto.

A nova tecnologia não é boa apenas para a China, mas também traz inúmeros benefícios para a indústria de carne cultivada. Apesar de ainda não ter concedido aprovação regulatória para a venda de carne cultivada (até agora, Cingapura é o único país do mundo que concedeu), a expectativa é que o país chinês possa mudar isso em breve, à medida que a pressão para alcançar o plano de cinco anos aumenta.

A aprovação do mercado aumentaria o investimento privado em startups locais de carne cultivada, como a Joes Future Food, que já levantou quase US$ 11 milhões para iniciar a produção de carne suína cultivada em laboratório. Enquanto isso, o tamanho do mercado potencial da China pode estimular investimentos adicionais em marcas globais que já estão crescendo.

Tecnologia fora da Ásia

Mesmo que a carne tradicional ainda atraia o apetite global, o consumo da proteína vegetal ou artificial tem crescido consideravelmente nos últimos anos, impulsionado pela preocupação de jovens com impactos ambientais, nutricionais e de bem-estar animal. Um exemplo é a Argentina, onde o mercado de proteínas alternativas vem se expandindo, com um número crescente de empresas focadas na produção de análogos à carne.

Uma das empresas pioneiras na Argentina é a Frizata, que vende produtos congelados a consumidores de Buenos Aires, Rosário e Córdoba. Em 2019, ela lançou o FriBurger, uma mistura à base de soja que inclui beterraba, cebola e extrato de levedura para se assemelhar ao sabor e textura da carne. Desde então, ela exporta para o Brasil, Chile e os Estados Unidos.

Nos supermercados brasileiros, a carne de laboratório deve chegar às prateleiras entre 2024 e 2025. Hoje a tecnologia ainda é cara. O quilo desse tipo de carne chega a custar US$ 1 mil (cerca de R$ 5,5 mil), mas a expectativa é ter o produto disponível nas gôndolas dos supermercados brasileiros com um valor acessível.

Mercado em crescimento

O interesse por este mercado de proteínas alternativas foi crescendo nos últimos anos e as principais produtoras de alimentos já vêm se adaptando e mostrando interesse nesse nicho promissor. Da Nestlé — que em 2021 anunciou que entraria no mercado da carne artificial — às gigantes brasileiras Marfrig, JBS e Minerva Foods, o setor parece estar seguindo uma tendência que não tem mais volta.

Estima-se que o mercado mundial de substitutos da carne atingirá US$ 4 bilhões (R$ 21 bilhões) em 2027, contra US$ 1,9 bilhão (cerca de R$ 10 bilhões) em 2021. E as empresas brasileiras não querem ficar de fora. Para que isso tudo isso seja possível, porém, ainda é preciso a aprovação do produto pelos órgãos reguladores brasileiros, mas as reuniões já estão acontecendo.

Fonte: Showmetec

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