
A explicação para tanto frio está na combinação de fatores geográficos: a cidade se encontra a 1.425 metros de altitude, em uma baixada cercada por morros que facilitam o acúmulo de ar frio durante as noites e madrugadas.
Enquanto muitas regiões do Brasil apenas encaram o frio como um incômodo passageiro, há um lugar onde o inverno define o modo de vida, transforma a paisagem e impulsiona a economia. Trata-se de Urupema, uma pequena cidade localizada no coração da Serra Catarinense, que detém o título de município mais frio do país. Com pouco mais de 2.400 moradores, ela é um exemplo singular de como o clima extremo pode ser não só desafiador, mas também uma força vital para o desenvolvimento local.
Urupema ganhou notoriedade nacional ao registrar, em 24 de junho de 2025, a menor temperatura do ano no Brasil: impressionantes −8,16 °C, com sensação térmica que chegou a −31 °C. Esses números, que congelariam qualquer rotina urbana, são comuns por ali — e, para os moradores, quase motivo de orgulho.
A geografia que explica tanto frio
A explicação para tanto frio está na combinação de fatores geográficos: a cidade se encontra a 1.425 metros de altitude, em uma baixada cercada por morros que facilitam o acúmulo de ar frio durante as noites e madrugadas. Esse posicionamento, aliado ao relevo e à influência das massas de ar polar, favorece a ocorrência de geadas, nevoeiros e até episódios de neve, algo raro na maior parte do país.
Em alguns anos, a cidade chega a registrar mais de 50 geadas. Embora vizinhas como Urubici e São Joaquim também enfrentem invernos rigorosos, Urupema se destaca pela frequência e pela intensidade do frio — o que lhe garantiu, em 2021, o reconhecimento oficial como “Capital Nacional do Frio”, por meio da lei federal nº 14.255.
Disputa gelada na Serra Catarinense

Há quem diga que a cidade mais fria do Brasil muda a cada semana, tamanha a proximidade dos dados registrados em Urupema, São Joaquim e Urubici. A disputa é amigável, mas oficialmente o título pertence a Urupema. Especialistas explicam que, embora São Joaquim registre mais episódios de neve na área urbana, Urupema acumula maior constância de temperaturas negativas por estar em uma baixada.
Essa particularidade transforma o clima em um elemento de identidade para os moradores, que já incorporaram o frio à cultura local e até o utilizam como atrativo turístico.
Frio como aliado da economia local
Mas o inverno intenso por si só não é o que torna Urupema única. O que realmente chama a atenção é como a cidade transformou o frio em aliado econômico. A agricultura e a pecuária são os pilares da economia local, com destaque para a produção de maçãs. Os pomares das variedades gala e fuji ocupam 685 hectares e, na safra 2024/2025, renderam aproximadamente 22,5 mil toneladas.
Márcia Pinto de Arruda, engenheira-agrônoma da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do município, explica que o período de dormência induzido pelo frio entre maio e agosto é essencial para o ciclo produtivo das frutas. “As macieiras precisam de, no mínimo, 800 horas de frio acumulado para garantirem uma brotação uniforme e uma boa colheita no ano seguinte. Esse descanso vegetativo é o que prepara a planta para florescer com vigor”, detalha.

Produção familiar e diversificada
Atualmente, cerca de 400 famílias de Urupema vivem exclusivamente do cultivo de maçãs, mas a diversificação também começa a despontar: o morango vem se firmando como uma nova aposta. Ainda em pequena escala, já envolve 20 famílias, que veem no cultivo da fruta uma alternativa viável e rentável para complementar a renda.
Outro setor essencial para a cidade é a criação de gado de corte. Urupema mantém aproximadamente 30 mil cabeças, que pastam em áreas adaptadas ao clima frio e se beneficiam da menor incidência de pragas e doenças típicas de regiões mais quentes. A pecuária, aliada à fruticultura, garante uma base econômica sólida mesmo diante das dificuldades impostas pelo clima.
Paisagens congeladas que atraem olhares
Durante o inverno, Urupema se transforma. As manhãs são silenciosas e brancas, cobertas por cristais de gelo que refletem a luz do sol. O frio molda não só a vegetação e o ritmo das lavouras, mas também o estilo de vida da população. Com esse cenário de tirar o fôlego, a cidade passou a atrair visitantes em busca de experiências incomuns no Brasil, como ver neve ou tocar em folhas congeladas no amanhecer.
Essa vocação turística, ainda que discreta, complementa a economia e fortalece o orgulho dos urupemenses, que enxergam no inverno mais do que uma estação: veem nele uma identidade.
O que esperar do inverno de 2025
De acordo com os institutos de meteorologia, a estação deve seguir com temperaturas próximas ou ligeiramente acima da média em Santa Catarina. Contudo, na região serrana, as massas de ar polar continuarão provocando geadas intensas, nevoeiros e possíveis quedas de neve até o fim da estação. Em Urupema, o frio segue como protagonista.
A menor temperatura da história da cidade foi registrada em julho de 2019, com impressionantes −9,38 °C. E, embora a marca de 2025 ainda não a tenha superado, os índices negativos persistentes reforçam a fama gelada do município.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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