Com El Niño cruel agricultores falam em plantar somente 30% da área

Faltando pouco mais de 40 dias para o fim do plantio, produtores relatam que vão precisar fazer replantios e reduzir área para safra de milho;

A falta de chuvas no Mato Grosso, maior estado produtor de grãos do Brasil, atrasou o plantio de soja em até 30 dias e está comprometendo as perspectivas para o segundo milho, que é cultivado após a colheita da oleaginosa e representa cerca de dois terços da produção nacional, disseram os agricultores.

A falta de chuvas e o calor extremo têm provocado prejuízos nas lavouras de soja, com perdas de produtividade, necessidade de replantios e comprometimento da janela de semeadura do milho. Produtores já afirmam que vão reduzir a área destinada para o cereal e há também agricultores que não vão semear a cultura na safra 2023/2024.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, destaca que as condições das lavouras preocupam. De acordo com o Imea, a semeadura da soja alcançou 91,82% nesta sexta-feira (10) e está 3,69 pontos percentuais atrasados em relação à média dos últimos cinco anos.

Alguns agricultores já falam em “uma das maiores secas que o Mato Grosso já enfrentou”.

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Foto: Divulgação

“Isso traz muita preocupação, muita angústia, uma vez que o desenvolvimento é complexo, o produtor fica inseguro da própria comercialização e dos próprios investimentos. É com muita apreensão que a gente traz esses relatos e torcendo para que venha uma chuva para melhorar as condições das nossas lavouras”, destaca Fernando Cadore.

  • As chuvas foram muito irregulares no mês de outubro, com estados sofrendo com excesso de precipitação e outros com déficit hídrico.

A Fazenda Galera, em Conquista D’Oeste, por exemplo, ainda não iniciou o plantio da oleaginosa, faltando pouco mais de 40 dias para encerrar o período de semeadura, que vai até 24 de dezembro. Na temporada anterior, mais de 80% da área já havia sido semeada até o dia 1º novembro, de acordo com o agrônomo da fazenda, Leonardo Marasca.

A semeadura do milho já foi descartada e o grupo já prevê a necessidade de ir ao mercado para comprar milho para alimentar os bois em confinamento.

“Os pedidos de semente de milho que a gente tinha já foram cancelados. O impacto é muito grande. Vamos ter que buscar no mercado um milho provavelmente com preço mais alto para suprir a demanda. Hoje ficou inviável a produção de milho aqui na fazenda, a gente não vai plantar, infelizmente”, afirma Marasca.

Já o produtor Oleonir Favarin, da Fazenda Flor de Lis, em Santo Antônio do Leste, relata que iniciou o plantio com 20 dias de atraso em relação à safra passada. Porém, de 300 hectares semeados, ele precisou replantar 120 hectares, pois alguns talhões ficaram cerca de 20 dias sem chuvas. A área destinada para o milho será reduzida em 70%.

“Eu vou plantar 30% do normal que eu planto, vamos ver o que vai acontecer para frente, mas é só 30%, no máximo. A janela para semear o milho não fecha mais”, afirma o produtor.

Quem também deve reduzir a área do cereal é o produtor Ronan Poletto, da Fazenda Juliana, em Sorriso, que iniciou o plantio da soja com 10 dias de atraso. Em razão do clima atípico, Poletto prevê uma redução de 15% a 20% na produtividade. Ele relata que na safra anterior colheu 64 sacas de soja por hectare e espera colher apenas 55 sacas nesta safra.

“Nesse ano, se a gente conseguir 55 sacas de soja seria um feito histórico. Já o milho, os últimos talhões, vão ficar no risco, não vai produzir 100%. Também temos uma área em Itanhangá e vamos reduzir a área de milho em 40%. Está muito tarde, não adianta arriscar, é arriscar para perder. Numa época dessa, o melhor é perder menos, arriscar menos”, afirma Poletto.

Adaptado de Felipe Leonel da Aprosoja

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