Como a balança virou câmera – que pesa bois no pasto – está transformando a pecuária

Com tecnologia 100% brasileira, CEO Pedro Mannato conta como a Olho do Dono usa IA e câmera 3D para pesar bois no pasto com 97% de precisão, reduzir o ciclo produtivo e colocar o pecuarista no controle total da produtividade

Na era da inteligência artificial e de margens apertadas na pecuária, não acompanhar de perto os indicadores do seu rebanho não é mais opção. Em entrevista exclusiva ao Compre Rural, Pedro Mannato, CEO da startup Olho do Dono, detalha como uma ideia nascida de uma dor real no campo deu origem a uma das soluções mais disruptivas da pecuária moderna. A tecnologia, que utiliza câmeras 3D portáteis integradas a IA para pesar e auditar o rebanho direto no pasto ou confinamento, já alcança 97% de acurácia e reduz em até 85% o tempo de manejo, com impactos visíveis em lucratividade, eficiência e bem-estar animal.

A dor que deu origem à inovação

A ideia nasceu em 2013, quando um amigo, consultor de um grande grupo empresarial, me disse que não conseguia sequer saber com exatidão o tamanho do rebanho — a estimativa variava entre 29 e 31 mil cabeças — e nem o peso total dos animais. Isso impedia qualquer decisão estratégica, como vender, manter, arrendar ou plantar soja”, conta Pedro.

Dono de um mestrado em Ciência da Computação, Mannato se inspirou no “olho do vaqueiro” — que estima o peso do animal na experiência — e pensou: por que não ensinar a uma máquina a fazer isso? Após anos de imersão em fazendas e diálogo com pecuaristas, zootecnistas, veterinários e agrônomos, a Olho do Dono começou a tomar forma em 2015, antes mesmo de o termo “IA” ganhar o hype que tem hoje.

Como funciona: o gado é pesado no campo, de forma prática e sem estresse 

A tecnologia é simples na prática, mas poderosa em impacto. O produtor grava o gado com uma câmera 3D portátil, leve, resistente à água e sem necessidade de internet ou energia elétrica no campo. De volta ao escritório, o equipamento se conecta via Wi-Fi e envia os vídeos para a nuvem, onde são processados automaticamente por algoritmos de IA treinados com mais de 1,5 milhão de imagens 3D de bois com peso de balança convencional, coletadas ao longo de 10 anos em quatro países (Brasil, Argentina, Paraguai e México).

Pedro Mannato, CEO da startup Olho do Dono

A média de acurácia por lote é de 97%, o que equivale à precisão da balança tradicional. Mas com uma vantagem: é feita onde o animal está, sem perder peso, sem estresse e com menos risco de acidentes”, reforça o CEO.

O produtor recebe relatórios completos no software de gestão ou em Excel com dados como:

  • Peso individual e por lote
  • Ganho Médio Diário (GMD)
  • Contagem e rastreio de animais via brinco eletrônico com RFID
  • Alertas de animais ausentes ou fora do padrão

Com isso, ele toma decisões mais rápidas e seguras sobre abate, confinamento, ajustes de dieta ou remanejamento de pastagens.

Casos reais: do confinamento à economia de dias no ciclo

A solução já está presente em grandes grupos agropecuários, como a SLC Agrícola, que utilizou a Olho do Dono no seu programa de inovação aberta. O resultado foi impactante: 335 animais foram pesados e contados em 15 minutos com apenas 3 vaqueiros, uma tarefa que antes tomava 8 horas e exigia 5 profissionais.

Outro cliente do Mato Grosso relatou a economia de dias inteiros na apartação de lotes. A filmagem com câmera 3D e RFID permite separar o gado apenas com base nos relatórios, sem precisar levá-lo à balança, poupando tempo, mão de obra e estresse. Já outro usuário conseguiu reduzir o ciclo produtivo em até 120 dias e aumentar o GMD em 300 gramas, simplesmente por antecipar decisões com base nos dados entregues pela plataforma.

Citando mais um exemplo, no Grupo Rialma, todo mês o rebanho inteiro de 3 fazendas é filmado com a Olho do Dono para auditoria e acompanhamento de peso para tomar decisões de manejo visando otimizar o ganho. Esses dados são acompanhados também pelo escritório central em Brasília.

A nossa balança vai até o boi, e não o contrário. Estamos ajudando as fazendas a fazerem mais com menos, em um momento em que o campo sofre com escassez de mão de obra qualificada”, destaca Pedro.

Escalável para rebanhos de 500 a 120 mil cabeças

Segundo o CEO, a tecnologia já opera no Brasil, Argentina, Paraguai e México, sendo usada tanto por pequenas propriedades com 500 cabeças quanto por grupos com rebanhos superiores a 120 mil. Um dos destaques é a Nova Piratininga, referência na pecuária intensiva. E o avanço não para aí.

Na Argentina, nosso cliente é o ex-vice Ministro da Agricultura, Ricardo Negri, que se tornou também investidor e distribuidor da Olho do Dono no país. Ele chegou a realizar um dia de campo para mostrar a tecnologia”, revela Mannato.

A empresa também estuda planos de aluguel por dia de uso para viabilizar a adesão de pequenos produtores, em parceria com cooperativas e sindicatos rurais.

Próximos passos do Olho do Dono: suínos e dois novos produtos para 2026

Além da bovinocultura de corte, a Olho do Dono já atua com suínos e prepara dois lançamentos inéditos para 2026, que ainda não podem ser divulgados. “São novidades que vão expandir ainda mais nossa atuação no campo. Estamos focados na expansão comercial e temos sido procurados por produtores de vários países”, conclui.

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