
Por trás do gramado impecável que sustenta craques e torcedores, existe uma cadeia produtiva complexa, que transforma terra em espetáculo
Pela manhã, a fazenda respira silêncio. Aos poucos, esse cenário muda: o som das máquinas rompe a calmaria e dá início a uma engrenagem produtiva pouco conhecida pela maioria dos brasileiros. O que parece apenas um vasto tapete verde não é mato, tampouco jardim. É grama cultivada, plantada com alta tecnologia em Trindade (GO), que mais tarde se transforma no palco de um dos maiores espetáculos do país: o futebol.
Quem comanda esse processo é Natalício Dantas, gramicultor há mais de 40 anos e proprietário da King Grass. Desde que adquiriu a fazenda em 2010, ele transformou uma antiga área de pastagem degradada em uma verdadeira “indústria do verde”. Hoje, 170 hectares estão dedicados exclusivamente à produção de grama, resultando em cerca de 1,7 milhão de metros quadrados cultivados. “Se cada habitante de Goiânia e região metropolitana segurasse duas placas de grama, ainda sobraria um estoque imenso”, brinca Natalício.
A grama que virou negócio e ganhou o Brasil
A demanda pelo setor não para de crescer. Em apenas uma década, a área de produção de grama no Brasil quase dobrou: passou de 16 mil hectares em 2010 para 30 mil hectares em 2022, impulsionada pelo paisagismo e pelo avanço dos maquinários agrícolas.
A colheita, por exemplo, exige precisão. Máquinas importadas do Canadá cortam a grama em placas perfeitas, que são compactadas e empilhadas em pallets. O ciclo até a colheita leva cerca de 12 meses e segue etapas rigorosas: roçagem para uniformizar o tamanho, compactação para facilitar o transporte e, em seguida, carregamento direto nos caminhões que partem para os clientes.
“É uma cadeia que exige técnica e dedicação, porque qualquer descuido no manejo pode comprometer todo o resultado”, explica Lucas Alvarenga, operador de máquinas na King Grass.
Do campo para o padrão Fifa
No Brasil, existem aproximadamente 15 espécies de grama cultivadas, mas apenas algumas conquistaram o status de favoritas no mercado esportivo.
- Esmeralda – muito utilizada em jardins e praças.
- São Carlos – indicada para áreas sombreadas.
- Bermuda – famosa pela robustez e agressividade de crescimento.
- Tifway 419 e Celebration – homologadas pela Fifa para campos de futebol profissionais.
A Tifway 419, por exemplo, é cultivada em Trindade e cobre o gramado do Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga, casa do Vila Nova, que em 2025 disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. A escolha não é por acaso: trata-se de uma espécie com coloração verde intensa, massa folhear densa e, principalmente, capacidade de garantir a velocidade do jogo sem comprometer a segurança dos atletas.
“Um gramado bem manejado deixa a bola correr em linha reta e reduz o risco de lesões”, explica Murilo Reis, diretor de marketing do Vila Nova.
Muito além do futebol
Embora os holofotes estejam nos estádios, a grama vai além do esporte. Ela está presente em quintais, praças e parques, garantindo estética, lazer e conforto térmico às cidades. O que para muitos é apenas paisagismo, para os produtores representa uma cadeia profissionalizada, responsável por movimentar milhões de metros quadrados e empregar centenas de trabalhadores em todo o país.
“Produzir grama é plantar espetáculo, seja em um estádio lotado ou em uma praça pública. É gratificante saber que aquilo que nasce no campo transforma o mundo ao redor”, afirma Natalício, com orgulho.
Do silêncio da fazenda ao barulho das arquibancadas, a trajetória da grama revela um elo surpreendente entre o agronegócio e o futebol. Por trás do gramado impecável que sustenta craques e torcedores, existe uma cadeia produtiva complexa, que envolve tecnologia, logística, pesquisa e, acima de tudo, o trabalho de produtores que transformam terra em espetáculo.
O agro não está apenas no alimento da mesa: ele também é parte do campo de jogo. Conhecer essa cadeia é valorizar o produtor rural e reconhecer que cada gol também começa na fazenda.
Escrito por Compre Rural com informações da entrevista Agro Band
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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