
O nascimento de um bezerro exige atenção imediata, a cura do umbigo, a ingestão do colostro, a correta identificação e o registro de informações como peso ao nascer são práticas que não podem ser negligenciadas
Durante décadas, a fase de cria na pecuária de corte ocupou uma posição secundária, muitas vezes relegada a sistemas extensivos, com pouco investimento em estrutura, nutrição e tecnologia. O manejo se dava quase exclusivamente no pasto, com uso limitado de insumos e aproveitamento intensivo dos recursos naturais disponíveis, priorizando a redução de custos operacionais.
Nesse contexto tradicional, vacas e bezerros sobreviviam basicamente da pastagem nativa, com suplementações mínimas, como sal mineral na estação chuvosa e sal ureado durante a seca. O manejo das forrageiras, quando existia, era rudimentar, o que afetava diretamente o desempenho reprodutivo e o desenvolvimento dos animais.
No entanto, o cenário vem se transformando. As exigências do mercado, a busca por maior produtividade e a necessidade de rentabilidade forçaram uma mudança de paradigma: os pecuaristas passaram a investir na intensificação dos sistemas de cria, combinando tecnologia, planejamento e melhor aproveitamento dos recursos da propriedade.
Um novo olhar sobre a cria
Mesmo mantendo o pasto como base da alimentação, muitas fazendas passaram a integrar práticas modernas de manejo, com foco na produtividade por matriz. A meta central continua sendo clara: obter um bezerro saudável e bem desenvolvido por vaca a cada ano.
Para alcançar esse objetivo, o manejo nutricional das matrizes deve ser criterioso, garantindo que cheguem à estação de monta com escore corporal ideal. Vacas subnutridas têm menor taxa de concepção, o que compromete o desempenho do rebanho. O uso de ferramentas reprodutivas como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e a sincronização de cio tem sido fundamental para elevar os índices de prenhez.
Outro pilar indispensável é a capacitação da mão de obra envolvida. A equipe responsável pelo manejo deve estar apta a executar procedimentos essenciais como a cura correta do umbigo, administração de colostro nas primeiras horas de vida, identificação dos bezerros e cuidados sanitários de rotina.

Infraestrutura e planejamento: bases da eficiência
A modernização da cria demanda investimentos em instalações específicas. Piquetes maternidade bem manejados são essenciais para a segurança dos recém-nascidos, enquanto currais equipados e funcionais favorecem tanto o manejo sanitário quanto as práticas reprodutivas.
Com a estação de monta bem estabelecida, é possível concentrar os partos em períodos estratégicos, facilitando o manejo, a desmama e a padronização dos lotes. Isso também permite melhor aproveitamento da oferta de forragem, especialmente na estação das águas, otimizando a nutrição das matrizes e bezerros.
A ausência de uma estação de monta definida, por outro lado, gera partos espalhados ao longo do ano, dificultando o controle zootécnico e sanitário e comprometendo o desempenho geral do sistema. Animais nascidos fora do período ideal tendem a enfrentar maiores desafios nutricionais e sanitários, o que impacta diretamente sua produtividade.
Programação fetal: construindo o desempenho desde a gestação
Avanços na compreensão da fisiologia animal também contribuíram para aprimorar a eficiência da cria. A chamada programação fetal tem demonstrado que a nutrição da matriz durante a gestação influencia diretamente a capacidade de crescimento do bezerro ao longo da vida.
Durante o desenvolvimento intrauterino, ocorre a formação das fibras musculares por meio da miogênese. O número de células musculares é determinado antes do nascimento — por isso, uma matriz bem alimentada nesse período pode gerar um bezerro com maior potencial de ganho de peso.
Já a hipertrofia, ou crescimento dessas células, continua no pós-parto. Assim, cuidar da nutrição da vaca durante o segundo e terceiro terço da gestação se torna estratégico para maximizar o desempenho futuro da progênie.
Primeiros passos que fazem a diferença
O nascimento de um bezerro exige atenção imediata. A cura do umbigo, a ingestão do colostro, a correta identificação e o registro de informações como peso ao nascer são práticas que não podem ser negligenciadas. Iniciar o protocolo vacinal no momento adequado também é decisivo para reduzir perdas por doenças e promover um desenvolvimento saudável.
O sucesso reprodutivo e produtivo da fazenda começa nesses primeiros momentos de vida. Um manejo inadequado nesse estágio pode comprometer todo o ciclo produtivo e resultar em prejuízos significativos.

Caminhos para uma cria lucrativa
Para que o sistema de cria seja sustentável e competitivo, é necessário unir planejamento, tecnologia, gestão eficiente e decisões estratégicas. Estabelecer metas claras, como descartar fêmeas com baixo desempenho reprodutivo ou bezerros com peso inferior ao ideal na desmama, contribui para a evolução genética e econômica do rebanho.
Integrar todas essas práticas — da nutrição de gestantes ao manejo neonatal, da estação de monta organizada ao uso de biotecnologias — resulta em um modelo de produção mais eficaz e lucrativo, capaz de atender às exigências do mercado atual e garantir o futuro da pecuária de corte brasileira.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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