Conab: tabelamento de fretes da ANTT causa receio de distorções

Transportadores temem distorções competitivas que possam prejudicar caminhões menores e esvaziar rotas menos rentáveis.

São Paulo, 27 – O mercado de fretes agrícolas enfrenta um período de adaptação ao tabelamento de preços da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que entrou em vigor no início de outubro com progressivas medidas de controle e informatização. Transportadores temem distorções competitivas que possam prejudicar caminhões menores e esvaziar rotas menos rentáveis, mas a robusta safra de verão 2025/26 e o fluxo intenso de exportações devem manter a demanda aquecida nos próximos meses, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

De acordo com o Boletim Logístico de outubro, o mercado tem apresentado “uma certa lateralidade, sem tendência clara de alta ou de queda, registrando movimentos nas duas direções, majoritariamente em caráter moderado”. O ponto de destaque é justamente o tabelamento da ANTT. “De acordo com representantes do setor, por mais que sejam medidas demandadas e bastante esperadas pelos agentes de mercado, podem eventualmente ocorrer alguns efeitos adversos”, informou a Conab. Entre os problemas apontados estão “a menor competitividade de caminhões menores, com sete eixos ou menos, comparativamente aos caminhões de nove eixos, além de distorções de preços entre rotas”.

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A preocupação é que o tabelamento “poderia esvaziar a oferta de transporte em rotas não tão atrativas e viáveis, ao mesmo tempo em que poderia criar maiores incentivos para certas rotas de maior viabilidade”. A estatal avaliou que “esse quadro geraria distorções de mercado, além da percepção dos players atuantes, de que isso poderia acarretar ineficiências no mercado como um todo”. “Neste contexto, entende-se que o tabelamento, além de criar incentivos artificiais de mercado e provocar algumas distorções, tende a prejudicar mais caminhões menores, com menor quantidade de eixos”, concluiu a Conab sobre o tema.

Apesar das ressalvas, a companhia destacou que o setor não deve registrar paralisações. “Mesmo com o descontentamento de parcela dos transportadores, o setor como um todo entende que não haverá manifestações ou paralisações, uma vez que o tabelamento sempre foi uma demanda do setor, ainda que se atribuam algumas deficiências ao seu funcionamento prático”, disse.

O ambiente favorável para o escoamento contribui para a aceitação das novas regras. “É importante também destacar que há muito produto a ser escoado em Mato Grosso, como decorrência das safras recordes de soja e de milho, havendo demanda firme tanto do mercado interno quanto do mercado externo”, afirmou a Conab.

A demanda externa tem sido “impulsionada pelas desavenças comerciais entre Estados Unidos e China, com redirecionamento da demanda chinesa pelo produto brasileiro e mato-grossense”. Segundo a estatal, “os transportadores entendem que este momento é bastante favorável para fazer a frota girar ao mesmo tempo em que é dada vazão à enorme produção colhida em 2025”.

A primeira estimativa da safra 2025/26, divulgada pela Conab em outubro, projeta produção total de 354,7 milhões de toneladas de grãos, volume 0,8% superior ao obtido em 2024/25. A área a ser semeada deve crescer 3,3% em relação ao ciclo anterior, chegando a 84,4 milhões de hectares. Para o milho, a expectativa é de 138,6 milhões de toneladas somadas às três safras do grão. “Apenas na primeira safra do cereal a Companhia prevê um incremento na área semeada em torno de 6,1%, com estimativa de colher 25,6 milhões de toneladas, indicando crescimento de 2,8% se comparada à safra passada”, informou o boletim.

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