Apesar da retração, tecnologia e inteligência artificial fortalecem análise de risco no campo; Centro-Oeste lidera em valor na concessão de crédito rural por contrato e Sul em volume total de empréstimos
O agronegócio brasileiro viu um cenário desafiador no primeiro semestre de 2025, com a concessão de crédito rural e agroindustrial somando R$ 83 bilhões no período — o que representa uma queda de 16% em relação ao mesmo intervalo de 2024, segundo a nova edição do Boletim Agro da Serasa Experian. Mesmo com a retração, que equivale a cerca de R$ 16 bilhões a menos, a busca por financiamento no campo segue movimentando cifras expressivas e exigindo maior sofisticação na análise de crédito.
A redução, segundo Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, está relacionada a um cenário de maior cautela no mercado, alta da inadimplência, eventos climáticos adversos e exigências mais rígidas de conformidade socioambiental. Nesse ambiente, ferramentas de inteligência de dados e modelos preditivos ganham protagonismo para calibrar o apetite de risco das instituições financeiras, mantendo a sustentabilidade da oferta de crédito.
Mais contratos, mas com menor valor médio na contratação do crédito rural
No segundo trimestre de 2025, o volume de concessões chegou a R$ 47 bilhões. Apesar disso, o valor médio por CPF recuou 22,1%, ficando em R$ 157,9 mil. Em contrapartida, o número de contratos cresceu 11,4%, totalizando 343,6 mil novas operações. O dado revela que mais produtores acessaram crédito, mas com valores menores por operação.
Centro-Oeste tem maior valor por contrato; Sul lidera em volume
As análises regionais mostram o dinamismo e a diversidade do mercado. No segundo trimestre:
- O Centro-Oeste Agro apresentou os maiores índices por contrato:
- R$ 468 mil por contrato
- 1,37 contratos por CPF
- Ticket médio de R$ 639 mil por CPF
- A região Sul liderou no volume total de crédito rural, com R$ 15 bilhões concedidos.
- Já o Nordeste Agro destacou-se pelo maior número de CPFs com contratos (108 mil) e de novos contratos firmados (111 mil), revelando forte demanda por crédito entre pequenos e médios produtores da região.
Inteligência artificial ganha espaço nas concessões
Uma das apostas para tornar o crédito mais eficiente e acessível é a adoção de tecnologias como Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning. A Serasa Experian destaca o uso do Agro Score, ferramenta que cruza dados para prever riscos e ajudar na inclusão de perfis diversos no sistema financeiro rural — de pequenos agricultores até grupos sem registro formal.
Segundo o Boletim, a pontuação média do Agro Score nacional é de 605 pontos, com destaque para a região Sul (média de 720). Já no Norte Agro, que inclui áreas de recente expansão agrícola, a pontuação média é menor (477), refletindo desafios estruturais e de formalização.
Além disso, a Serasa atua com projetos de IA aplicada a imagens de satélite e já testa soluções baseadas em GenAI para ampliar a precisão na análise de crédito rural.
Panorama da base de dados analisada
A metodologia do estudo abrange 9,9 milhões de pessoas físicas proprietárias rurais com histórico de crédito. Já a base usada para o cálculo do Agro Score inclui 10,5 milhões de CPFs, com dados provenientes de:
- Registros no CAR (Cadastro Ambiental Rural) e CAFIR (Cadastro Federal de Imóveis Rurais)
- Participações no Cadastro Positivo
- Registros no SINTEGRA como produtores rurais
A base de cálculo passou por atualização em 2025, excluindo imóveis classificados como Assentamentos ou Povos e Comunidades Tradicionais, cujos financiamentos seguem normativas específicas.
Crédito rural no radar da inteligência de dados
A Serasa Experian defende que a democratização do acesso à informação e ao crédito no agro depende do uso inteligente de dados. Ao traçar um raio-x detalhado da economia rural, o Boletim Agro busca contribuir para decisões mais embasadas, planejamento de risco e estratégias de inclusão produtiva, mesmo em cenários adversos como crises climáticas ou retração econômica.
“Ações como essa reforçam nosso propósito de democratizar o acesso à informação sobre o setor, compartilhando dados atualizados para fortalecer o embasamento crítico e auxiliar na tomada de decisão”, finaliza Marcelo Pimenta.
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