Confinamento: Parcerias de engorda rendem mais que aplicações bancárias

Dependendo da volatilidade do mercado parcerias são extremamente vantajosas; pequenos e médios pecuaristas encontraram nas parcerias de engorda uma forma viável de enfrentar desafios do setor

Nos últimos 20 anos, o setor pecuário vem passando por grandes transformações, com as operações de engorda migrando para grandes empresas ou grupos de confinamento, conforme observou o consultor Alcides de Moura Torres Júnior, à frente da Scot Consultoria, durante diversos dias de campo realizados recentemente.

Segundo Vanderlei Finger, gerente geral de Compra de Gado em seis plantas da MFG Agropecuária distribuídas pelo Brasil, este é um movimento natural, no qual pequenos e médios pecuaristas encontraram nas parcerias de engorda uma forma viável de enfrentar, principalmente, a forte oscilação de preços dos insumos utilizados na alimentação animal, em especial grãos e seus subprodutos.

Vanderlei Finger, gerente geral de Compra de Gado da MFG, no circuito goiano.
Vanderlei Finger / Foto: Divulgação

“Tendo uma parceria como essa, não vejo necessidade de um confinamento próprio porque existem muitos problemas relacionados a logística, riscos inerentes e aqui na minha região falta mão de obra especializada. Sem know-how no assunto, é impossível produzir com eficiência. Abortamos a ideia de construir um confinamento por conta disso”, relata Guilherme Lopes Palma, dono da Fazenda Estrela da Barra (Paranaíba/MS).

Guilherme Palma 1
Guilherme Palma / Foto: Divulgação

Já o criador Antônio José Pereira, do Condomínio Agropecuário Nova Era, sediado na Fazenda Santos Reis, em Cachoeira Alta (GO), é mais enfático em relação a investir numa estrutura própria de engorda intensiva: “Confinamento, para quem não tem o profissionalismo deles, é a estrada melhor que existe para falência ou queda”, define o produtor.

Antônio José Pereira

Nos últimos sete anos, Antônio José, mais conhecido por Zezé no meio rural, enviou para as dependências da MFG Agropecuária de 800 a 1.000 animais por ano no período e destaca que, entre um solavanco e outro do mercado, o sistema de parceria rendeu ganhos superiores às aplicações bancárias. “Já tivemos rendimentos de 4% ao mês. Nos piores momentos, conseguimos 2,5% ao mês”, informa. Para efeito comparativo, investimentos de renda fixa retornam algo em torno de 1% ano mês.

E mesmo em momentos de instabilidade, como ocorre atualmente, as parcerias de engorda proporcionam outras vantagens. “Às vezes a operação pode não estar tão positiva do ponto de vista econômico, de mercado ou de trava de preço, mas o que a gente economiza poupando a pastagem durante a seca vale muito a pena para aproveitar bem o período das águas”, constata Guilherme Lopes.

Agropecuária Regenerativa - novilhas angus x nelore pastejo intensivo
Foto: Fazenda Santa Nice – Nelore PO

Pastejo intensivo

Na Fazenda Estrela da Barra, da qual é titular, Lopes dobra a lotação de pastagem nas águas e reduz pela metade na seca, enviando a boiada para o confinamento. “Além de agregar valor aos animais, eles saem mais precoces, então, conseguimos ganhar tanto na carcaça quanto na precocidade e o giro mais rápido do estoque ajuda aumentar nosso faturamento”, informa Lopes.

O pecuarista ainda recebeu do Programa Precoce MS um incentivo de R$ 3,00 por arroba. O valor do bônus é calculado com base no ICMS e varia conforme a cotação do boi gordo no momento do abate. “Reduzi em 14 meses o tempo de engorda dos animais”, comemora, após a parceria com a empresa. Também vale destacar o ganho em peso registrado pelos bovinos. Zezé, por exemplo, computa 1,8 kg de ganho médio diário na Fazenda Santos Reis.

No caso dele, o sistema de parceria foi uma oportunidade encontrada para diversificar o negócio de venda de sementes de pastagem. Em 800 hectares próprios e pastos arrendados, Zezé inseriu a criação de gado de corte. “Compramos garrotes que estarão pesando 14@ depois de um ano e mandamos para o confinamento nos meses de abril, maio e junho, de onde sairão com peso médio de 22@ direto para o abate”, descreve o pecuarista, que criou tal estratégia a partir da praticidade e da assessoria técnica fornecidas.

Benefícios das parcerias

  • Tempo reduzido de engorda – O sistema de confinamento permite uma engorda até quatro vezes mais rápida do que o tempo médio para uma terminação a pasto.
  • Maior rendimento – O acabamento de carcaça de um animal no confinamento é superior ao animal a pasto, garantindo melhores rendimentos no abate.
  • Garantia de retorno – Com o conhecimento do tempo para o abate e preço travado, o pecuarista tem a possibilidade de programar os seus investimentos financeiros.
  • Descanso da Pastagem – Permite ao produtor aliviar as pastagens da fazenda e, com isso, traz a oportunidade de antecipar a recria e até mesmo a reforma das pastagens.

Blindagem dos preços

Em momento de arroba volúvel, uma forma de proteger a rentabilidade da operação é travar o preço de venda na bolsa de valores (B3), serviço embutido em algumas das modalidades fornecidas pela MFG Agropecuária, que ainda oferece o diferencial de abater os bovinos nas plantas do frigorífico Marfrig. “Eu já estudava sobre a bolsa antes, só que a MFG facilita demais esse processo. Por conta própria, é muito mais trabalhoso e oneroso. Em 2022 e 2023, acertamos ao travar, pois conseguimos pegar o pico de preços”, aponta Guilherme Lopes.

Via corretoras, entre outros custos triviais, a taxa de corretagem é variável, normalmente baseada na Tabela TOB (Taxa Operacional Básica): 0,30% sobre o volume financeiro total envolvido na transação e 0,07% para day trade. Entre as formas de parcerias existentes, Vanderlei Finger explica que trabalha com quatro tipos: 1) compra direta; 2) pagamento de diária; 3) arrobas produzidas e 4) quilos de matéria seca consumida. Em todos eles, o pecuarista ganha 200 km de frete gratuito no transporte da boiada.

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