Confinamentos lotados: Beef-on-Dairy deixa de ser aposta e vira regra nos EUA

Avanços em genética elevam o padrão das carcaças, consolidam o sistema Beef-on-Dairy nos EUA e impulsionam sua adoção também na pecuária brasileira

O sistema Beef-on-Dairy, que utiliza bezerros oriundos do cruzamento entre vacas leiteiras e sêmen de raças de corte para posterior terminação em confinamento, deixou de ser apenas uma tendência e se consolidou como uma estratégia estrutural dentro dos grandes confinamentos norte-americanos.

O crescimento desse modelo é impulsionado, sobretudo, por avanços consistentes em seleção genética, que vêm transformando o desempenho zootécnico e a qualidade de carcaça desses animais.

Um exemplo emblemático é o trabalho desenvolvido pelo Hy Plains Feedyard, no Kansas (EUA), que há mais de uma década investe no confinamento de animais Beef-on-Dairy. O que começou como uma alternativa para preencher baias evoluiu para um sistema altamente tecnificado.

beef on dairy

Segundo Tom Jones, responsável pelo confinamento, os resultados mais expressivos surgiram nos últimos cinco anos, quando a estratégia de genética passou a ser o pilar central do programa. Hoje, os lotes atingem 90% a 100% de carcaças Choice, com 20% a 30% Prime, patamar antes considerado inalcançável para animais com influência leiteira.

Nos Estados Unidos, a classificação de carcaças bovinas é realizada pelo USDA (United States Department of Agriculture) e tem como principal objetivo estimar a qualidade da carne e a experiência do consumidor, especialmente em termos de maciez, suculência e sabor. O sistema se baseia principalmente em dois critérios: marmoreio (gordura intramuscular) e maturidade fisiológica do animal.

categorias da qualidade de carne nos eua - prime choice standart
Fonte: Fetching Foods

As categorias de qualidade, em ordem decrescente, são Prime, Choice, Select e Standard, sendo que a categoria Choice ocupa posição central no mercado americano. Carcaças Choice [classificação alcançada pelos animais do Beef-on-Dairy] apresentam bom nível de marmoreio, suficiente para garantir carne macia e saborosa, sem o custo elevado do Prime, o que as torna amplamente aceitas por redes de supermercados, restaurantes e food service. Por esse equilíbrio entre qualidade e preço, o padrão Choice é a referência comercial da indústria de carne bovina dos EUA e serve como base para a maioria dos contratos e programas de bonificação no país.

Beef-on-Dairy Feedlot

A virada de chave ocorreu com a parceria com a ABS Global, focada na escolha criteriosa de sêmen e no uso de dados de progênie coletados diretamente no confinamento. A lógica é clara: melhorar conversão alimentar, características de carcaça e peso final, os três principais direcionadores de lucro no feedlot. A utilização de genética SimAngus, aliada ao monitoramento contínuo de desempenho, permitiu ganhos rápidos e mensuráveis.

simangus touro
Touro da raça SimAngus

Outro fator decisivo foi a entrada da pesquisa acadêmica no processo. A colaboração com a Texas Tech University, por meio do professor Dale Woerner, possibilitou a mensuração precisa de rendimento de carne vermelha, musculosidade e qualidade de carcaça.

O compartilhamento de dados entre confinamento, empresa de genética e universidade acelerou a evolução do sistema, consolidando o Beef-on-Dairy como uma alternativa competitiva frente aos animais de corte tradicionais.

Apesar dos avanços, desafios permanecem. Um dos principais gargalos identificados é a alta incidência de abscessos hepáticos, que em animais Beef-on-Dairy pode variar de 30% a até 90%, dependendo da origem e do manejo, contra cerca de 25% em bovinos de corte no Meio-Oeste americano. Os abscessos hepáticos são considerados sequelas de quadros de acidose ruminal e ruminites em bovinos alimentados com dietas ricas em carboidratos altamente fermentáveis, e pobres em volumoso.

Embora a genética esteja sendo avaliada como parte da solução, especialistas apontam que o problema exige maior integração e comunicação ao longo da cadeia produtiva para identificar, com precisão, em que fase do sistema o distúrbio se instala.

Ainda assim, o consenso entre técnicos e confinadores é claro: o Beef-on-Dairy veio para ficar. Além de contribuir para elevar o número de animais disponíveis para terminação, o sistema apresenta potencial crescente de qualidade e rendimento, especialmente à medida que a seleção genética avança e os gargalos sanitários são melhor compreendidos.

No Brasil, esse movimento também já é uma realidade. Muitos pecuaristas brasileiros vêm adotando o Beef-on-Dairy, principalmente utilizando genética da raça Canchim, que combina rusticidade, ganho de peso e qualidade de carcaça. A adaptação do modelo às condições tropicais reforça que o cruzamento entre leite e corte não é apenas uma solução conjuntural, mas uma estratégia sólida para ampliar eficiência e rentabilidade na pecuária moderna.

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