Com tecnologia inédita da maior fazenda oceânica, estrutura de 385 metros e operação quase autônoma, a Havfarm 1 transforma o mar aberto em um polo produtivo capaz de criar salmão em larga escala, mesmo em mar agitado.
A Noruega, referência global em aquicultura, vive uma transformação histórica com a entrada em operação da maior fazenda oceânica, a “Jostein Albert”, oficialmente identificada como Havfarm 1. Projetada pela NSK Ship Design a pedido da empresa de pesca Nordlaks, a estrutura monumental nasceu da necessidade de enfrentar desafios ambientais que há anos limitam o crescimento sustentável da atividade. O resultado é um dos empreendimentos mais ambiciosos já realizados na fronteira entre engenharia marítima e produção de pescado.
Com 385 metros de comprimento, 59,5 metros de largura e capacidade para até 10 mil toneladas de salmão, a Havfarm 1 se tornou a maior estrutura semissubmersível já construída, além de ser a maior instalação artificial transportada por um navio. Seu deslocamento gigantesco da China até a Noruega foi realizado pelo cargueiro de transporte pesado Boka Vanguard, em uma operação inédita na indústria naval.
A criação intensiva de peixes enfrenta dois grandes obstáculos ambientais:
- Acúmulo de resíduos (ração e fezes) em áreas pequenas, onde a renovação da água é limitada.
- Proliferação de piolhos-do-mar, que podem comprometer todo o ciclo produtivo.
A Havfarm 1 foi concebida justamente para atuar nessas lacunas. Ela será posicionada em uma área marítima de baixa incidência de piolhos-do-mar e com profundidade suficiente para permitir a dispersão natural dos resíduos, que passam a ser absorvidos pelo oceano sem impactos negativos.
Outro diferencial é o seu sistema de ancoragem: a unidade fica presa a uma torre fixa no mar e gira ao redor dela, garantindo melhor circulação de água e reduzindo drasticamente a concentração de dejetos em um único ponto.
Embora pareça uma plataforma offshore, a Havfarm 1 combina elementos da indústria naval, do setor de óleo e gás e da aquicultura moderna. Essa configuração híbrida exigiu a criação de um novo conjunto regulatório, já que nenhuma norma existente abrangia integralmente o projeto.

O processo da maior fazenda oceânica levou quase 11 meses e foi desenvolvido em conjunto por:
- DNV-GL, organismo internacional de certificação;
- NSK Ship Design;
- Nordlaks.
O resultado foi um conjunto de regras que mistura normas de estabilidade e resistência estrutural de plataformas offshore com exigências técnicas da navegação internacional, além de diretrizes de HSE (Saúde, Segurança e Meio Ambiente).
A parceira de verificação, DNV-GL, tinha vasta experiência em plataformas semissubmersíveis, mas a Havfarm 1 apresentou desafios completamente novos. Por isso, novas técnicas de cálculo, simulações e modelos computacionais tiveram de ser desenvolvidos exclusivamente para atender ao projeto.
Isso incluiu:
- Avaliação dinâmica de estabilidade;
- Modelagem hidrodinâmica adaptada à criação de peixes;
- Sistemas de redundância operacional para garantir autonomia.
A megafazenda foi pensada para funcionar com alto nível de automação e presença mínima de pessoal a bordo. Entre os principais sistemas estão:
Propulsão e fluxo de água
A unidade conta com seis propulsores de túnel Rolls-Royce Marine, capazes de garantir fluxo constante de água rica em oxigênio mesmo em momentos de calmaria, quando as correntes naturais diminuem.
Alimentação automatizada
A empresa norueguesa Akva forneceu o sistema de alimentação, integrado a recipientes projetados pela própria NSK. O envio de ração ocorre por automação remota e com sensores redundantes.
Transferência e manejo dos peixes
A embarcação possui um método semiautomatizado de transferência de peixes vivos, que opera por pressão para movimentar os animais entre os compartimentos internos.
Para o descarregamento ao fim do ciclo produtivo, sistemas de vácuo completam o processo com segurança e rapidez.
Amarração e redes de cultivo
- O sistema de ancoragem utiliza 11 cabos, fornecidos pela empresa Scana, conectados a uma torre fixa com transmissão de energia e sinalização.
- As seis redes internas são operadas por 54 guinchos da Selstad, formando um complexo módulo de cultivo protegido e flexível.
Energia na maior fazenda oceânica
Toda a estrutura recebe energia por ligação direta à costa, mas possui geradores próprios capazes de garantir 100% da operação em modo autônomo, caso seja necessário.
Embora tenha sido construída no estaleiro CIMC Raffles, em Yantai, na China, a Havfarm 1 é integralmente baseada em engenharia norueguesa. A maior parte dos fornecedores envolvidos vem da Noruega, fortalecendo o ecossistema que une indústria naval, tecnologia offshore e aquicultura moderna.
O projeto cria pontes globais e posiciona a Noruega como líder absoluta no desenvolvimento de soluções para produção em alto-mar.
A maior fazenda oceânica concluiu sua fase de testes em 2022 e encontra-se em plena produção para a Nordlaks Oppdrett AS. Desde o verão de 2022, o empreendimento vive seu terceiro ciclo operacional, com previsão de encerramento no início de 2023 e novo povoamento de salmões para a primavera.
O objetivo é manter um ciclo produtivo por ano, desde o povoamento até o abate, garantindo fluxo contínuo de peixes para o mercado norueguês e internacional.
A “Jostein Albert” não é apenas a maior fazenda oceânica: ela simboliza o caminho para uma nova geração de estruturas offshore voltadas para produção intensiva de peixes. Entre seus impactos mais relevantes estão:
- Redução de impactos ambientais em áreas costeiras;
- Maior biossegurança contra piolhos-do-mar;
- Aumento da capacidade produtiva sem ampliar áreas de concessão;
- Estímulo a soluções de engenharia para oceano aberto;
- Criação de novos padrões internacionais para instalações aquícolas gigantes.
A Noruega já acumula mais de 100 solicitações de licenças de desenvolvimento, mas a Havfarm 1 permanece como o projeto pioneiro, aquele que abriu caminho para um novo capítulo da aquicultura mundial.
A fazenda oceânica “Jostein Albert” é, hoje, um dos maiores símbolos da transição tecnológica do setor aquícola — e um vislumbre do futuro da produção sustentável em alto-mar.
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