
Formada a partir de diferentes linhagens zebuínas e taurinas, a raça Boran combina rusticidade, fertilidade e carcaça musculosa. Entenda por que essa raça vem ganhando espaço como alternativa estratégica à base zebuína no país.
A incessante busca por desempenho, adaptabilidade e produtividade tem levado a pecuária brasileira a explorar novas possibilidades genéticas. Uma delas atende pelo nome de Boran, uma raça bovina originária do leste africano que começa a chamar atenção de técnicos e criadores por reunir o melhor de três mundos: zebuíno, taurino europeu e taurino africano. Boran ameaça a soberania do Nelore no maior rebanho comercial do mundo? Vamos responder a essa questão comum entre os criadores.
Enquanto o Nelore continua absoluto como raça base da pecuária nacional, o Boran surge como um reforço estratégico no cruzamento industrial, especialmente no tricross, ampliando o leque genético com resultados promissores.
Origem da Raça Boran
A história do Boran é marcada pela seleção em ambientes extremos. A raça foi desenvolvida ao longo de séculos pelos povos nômades do Quênia, Etiópia e Somália. Para suportar o clima árido e quente, os animais foram submetidos a pressões naturais de seleção, exigindo rusticidade, fertilidade e resistência.
Já em tempos mais modernos, pesquisadores da ILRI (International Livestock Research Institute) e outras instituições africanas organizaram esforços para padronizar e registrar a raça, que tem se mostrado uma das mais bem adaptadas à realidade do continente africano – e agora, ao Brasil tropical.
Composição genética da raça Boran
O Boran possui uma composição única:
- 64% sangue zebuíno, herdado de raças indianas como o Guzerá e o Gir
- 24% taurino europeu, principalmente do Shorthorn
- 12% taurino africano, como o Ndama, conhecido por resistência a doenças
Essa combinação resulta em um animal com cupim, pelo curto, pele pigmentada e alto rendimento de carcaça, sem abrir mão de fertilidade e capacidade materna.
Características de destaque
Entre os principais atributos do Boran, destacam-se:
- Alta rusticidade: desenvolvido em regiões áridas, resiste bem a longos períodos de seca
- Boa habilidade materna: fêmeas protegem e nutrem bem os bezerros
- Musculatura evidente: carcaça com excelente acabamento
- Pelagem clara e curta, com bom controle térmico
- Eficiência alimentar: bons resultados em conversão e ganho de peso
Essas características tornam o Boran ideal para sistemas a pasto com suplementação, integrando bem os desafios de clima, produtividade e sustentabilidade.

Adaptação no Brasil: Raça Boran ameaça soberania no Nelore?
O Boran está sendo introduzido principalmente em regiões do Centro-Oeste e Norte do país, onde o calor, os longos períodos secos e a necessidade de ganho genético exigem animais resilientes. Segundo o zootecnista Alexandre Zadra, o Boran já apresenta ótimo desempenho em rebanhos comerciais quando utilizado em programas de cruzamento industrial.
O Boran no cruzamento industrial
A maior promessa do Boran no Brasil está no tricross, ou seja, na cobertura de vacas meio-sangue taurinas, como:
- Angus x Nelore
- Brangus
- Canchim
Ao ser utilizado sobre essas matrizes, o Boran ajuda a “tropicalizar” os bezerros, melhorando a resistência ao calor, a rusticidade e a uniformidade da progênie.

Zadra alerta, no entanto, que o uso do Boran sobre novilhas europeias puras deve ser cauteloso, já que o peso ao nascimento pode ser elevado e a predominância zebuína exige atenção ao manejo reprodutivo.
Comparativo com o Nelore
O Nelore, com mais de 80% do rebanho de corte brasileiro, ainda é imbatível como base genética por sua adaptabilidade, facilidade de manejo e presença nacional. Porém, o Boran mostra-se uma opção interessante para reforçar cruzamentos, corrigir carcaça e aumentar a produtividade sem perder a rusticidade.
A tabela apresentada abaixo resume as diferenças e semelhanças entre as duas raças.
Características | Boran | Nelore |
---|---|---|
Origem | Leste da África | Índia |
Composição Genética | 64% Zebu, 24% Taurino Europeu, 12% Taurino Africano | 100% Zebu |
Rusticidade | Alta | Muito Alta |
Adaptação ao Calor | Alta | Muito Alta |
Habilidade Materna | Boa | Muito Boa |
Musculatura | Alta (carcaça volumosa e bem definida) | Moderada |
Eficiência Alimentar | Alta (bom ganho de peso e conversão alimentar) | Moderada |
Uso em Cruzamentos | Ideal para Tricross (sobre fêmeas meio-sangue) | Raça base principal da pecuária nacional |
Presença no Brasil | Crescente, com destaque no Centro-Norte | Predominante em todo o território nacional |
O Boran não veio para derrubar o Nelore do trono, mas para reforçar o time da produtividade tropical. Em um cenário onde a pecuária busca cada vez mais resultados consistentes com menos recursos, o uso inteligente da genética é a chave – e o Boran, com sua linhagem milenar africana e combinação moderna, pode ser uma das peças que faltavam.
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