Originária do vale do rio Yangtzé, a raça Taihu reúne alta taxa reprodutiva, adaptação ao confinamento e importância estratégica para programas globais de melhoramento genético.
O porco Taihu é considerado uma das raças suínas mais emblemáticas do mundo quando o assunto é reprodução, prolificidade e valor genético. Originário de uma região específica da China, no entorno do Lago Tai, no vale inferior do rio Yangtzé, o Taihu se desenvolveu ao longo de séculos sob influência direta do ambiente natural, do sistema produtivo e das condições socioeconômicas locais. Hoje, sua genética ultrapassou fronteiras e passou a integrar programas de pesquisa, cruzamento industrial e conservação em diversos países.
De grande porte, pelagem preta e com o rosto marcadamente enrugado, o Taihu chama atenção não apenas pelo aspecto físico, mas principalmente por sua capacidade de produzir ninhadas numerosas, com média de 14 leitões vivos e registros que chegam a 20 leitões por parto. Essa característica o transformou em um dos pilares do melhoramento genético suinícola moderno.
O porco Taihu é encontrado predominantemente na região do vale do Taihu, área que faz fronteira com as províncias de Jiangsu e Zhejiang, além da cidade de Xangai. Trata-se de uma zona de clima subtropical ameno, com chuvas bem distribuídas e elevada produtividade agrícola — fatores que historicamente favoreceram o desenvolvimento da suinocultura.
A alta densidade populacional humana na região levou ao uso intensivo de sistemas de confinamento ao longo de todo o ano. A alimentação tradicional desses animais é baseada em cevada e farelo de arroz, complementada com alimentos suculentos como rabanete, abóbora, capim verde e até frutos do mar. Embora essa dieta seja rica em fósforo e relativamente pobre em cálcio — o que pode limitar o desenvolvimento ósseo — ela favorece o desenvolvimento precoce dos órgãos reprodutivos, característica central da raça.
O resultado desse conjunto de fatores foi o surgimento de um suíno altamente adaptado ao confinamento, com carne suculenta, saborosa e grande eficiência reprodutiva, atendendo à forte demanda por proteína animal de qualidade em uma das regiões mais populosas da China.

Embora frequentemente tratada como uma única raça, o Taihu apresenta grande variabilidade interna, sendo classificado por diferentes autores como um conjunto de linhagens ou até mesmo raças distintas. De forma geral, são reconhecidos quatro grandes grupos, ainda que outros tipos também sejam mencionados na literatura.
Entre os principais tipos estão Erhualian, Meishan, Fengjing, Jiaxing Black, Hengjing, Mi e ShaWuTou, cada um associado a regiões específicas de criação. Essa diversidade reflete tanto diferenças genéticas quanto influências do ambiente e da dieta, o que torna o debate sobre sua classificação ainda atual.
Segundo a classificação oficial chinesa, o porco Taihu integra o grupo de suínos da Bacia Inferior do Rio Changjiang, reforçando sua importância histórica e geográfica na suinocultura do país.
Fisicamente, o porco Taihu apresenta porte médio, com variações significativas entre os diferentes tipos. O Meishan, por exemplo, é o de maior porte e ossatura mais robusta, enquanto o tipo Mi possui ossos mais delicados. Já Erhualian, Fengjing, Hengjing e Jiaxing Black ocupam uma posição intermediária, e o ShaWuTou se destaca pelo corpo mais compacto.
A raça possui cabeça grande, testa larga, pele grossa e profundamente enrugada. As orelhas são grandes, caídas e dobradas, com formato característico que lembra um “pum”, além de cantos da boca sobrepostos. A pelagem é preta, geralmente rala, e a pele do abdômen apresenta coloração vermelho-arroxeada. Em alguns animais, há manchas brancas no focinho e na ponta da cauda.

O Meishan, conhecido como o suíno das “quatro patas brancas”, apresenta membros claros e se destaca também pelo número de tetas, variando entre 8 e 9 pares, característica fundamental para sustentar grandes ninhadas.
O que coloca o porco Taihu em posição de destaque global é sua extraordinária capacidade reprodutiva. Estatísticas indicam que o tamanho médio das ninhadas aumenta progressivamente ao longo dos partos: 12,1 leitões no primeiro, 14,4 no segundo e 15,8 no terceiro parto.
Essa prolificidade está diretamente ligada ao desenvolvimento precoce dos órgãos sexuais. Em algumas linhagens, como o Erhualian, os varrões começam a produzir sêmen entre 56 e 66 dias de idade, atingindo qualidade comparável à de reprodutores adultos antes mesmo dos cinco meses. Já as porcas adultas apresentam um número médio de 21,98 ovulações, índice extremamente elevado para padrões internacionais.
Em condições adequadas de manejo e alimentação, o ganho médio diário do porco Taihu varia entre 400 e 500 gramas. Ensaios conduzidos em granjas chinesas demonstraram que o Meishan, por exemplo, alcança ganho diário médio de 466 gramas, com rendimento de carcaça superior a 66%.
Embora apresente percentual de carne magra inferior ao de raças comerciais modernas, o Taihu se destaca pelo alto teor de gordura intramuscular, atributo que confere maciez e sabor à carne — características valorizadas por consumidores de mercados específicos.
Devido à sua prolificidade, o Taihu é amplamente utilizado como raça matriz em cruzamentos com raças como Yorkshire, Branco Russo e Landrace. Esses cruzamentos permitem melhorar taxas de sobrevivência, crescimento e peso dos leitões, mantendo elevada eficiência reprodutiva.
A escolha da raça paterna varia conforme as condições nutricionais: Yorkshire em sistemas de baixa oferta alimentar, Branco Russo em condições intermediárias e Landrace em sistemas mais intensivos. A progênie híbrida apresenta alto ganho de peso, boa conversão alimentar e maior percentual de carne magra.
A partir de programas de seleção e cruzamentos com Duroc, foi desenvolvido um novo tipo de porco Taihu, voltado à produção de carne magra. Esse animal apresenta crescimento acelerado, conversão alimentar mais eficiente e aumento de 12% no teor de carne magra, sem perder o desempenho reprodutivo, consolidando-se como uma alternativa estratégica para a suinocultura moderna.
Apesar do avanço dos cruzamentos, a conservação do porco Taihu original é tratada como prioridade na China. Apenas nas províncias de Jiangsu e Zhejiang e na cidade de Xangai existem 28 granjas estatais e mais de 200 granjas municipais, que juntas mantêm cerca de 10 mil animais puros.
A província de Jiangsu abriga aproximadamente 320 mil matrizes Taihu, o equivalente a 20% do total de matrizes suínas da região. Um sistema rigoroso de registro genealógico e avaliação periódica garante a preservação da qualidade genética, com cada granja mantendo linhagens selecionadas de reprodutores e matrizes de alto valor.
Mais do que uma raça tradicional, o porco Taihu é hoje um patrimônio genético da suinocultura mundial, unindo história, ciência e produtividade em um modelo que continua a influenciar a produção de suínos em escala global.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.