História de superação de um cavalo Appaloosa inspira o mundo ao mostrar que a deficiência não define o potencial de um atleta. Conheça o cavalo cego, Endo, que quebrou três recordes mundiais do Guinness
Um cavalo que perdeu a visão ainda jovem e teve que reaprender a viver no escuro está emocionando o mundo. Aos 22 anos, o cavalo Endo, o Cego, da raça Appaloosa, que vive com sua tutora Morgan Wagner em Corvallis, Oregon (EUA), entrou para o Guinness World Records ao bater três recordes inéditos, desafiando não apenas as probabilidades, mas também a percepção sobre os limites de animais com deficiência.
No dia 29 de outubro de 2022, Endo registrou feitos notáveis que agora fazem parte do Guinness World Records:
- Maior salto livre realizado por um cavalo cego: 90 cm no ar, sem a ajuda de um cavaleiro.
- Maior número de mudanças de velocidade em 1 minuto por um cavalo: 39 trocas de voo.
- Tempo mais rápido para contornar cinco varas por um cavalo cego: apenas 6,93 segundos.
Esses feitos só foram possíveis graças ao laço profundo entre Endo e Morgan. “Cada recorde era algo que Endo já conhecia. Só precisávamos praticar e aprimorar”, disse ela. O cavalo já era acostumado a realizar tarefas complexas antes de perder a visão, inclusive em competições de alto nível, onde se consagrou campeão nacional em provas de obstáculos.
A história entre Endo e Morgan começou quando ela tinha apenas 13 anos. Na fazenda da avó, foi autorizada a escolher um cavalo do rebanho. O potro manchado, com pelagem típica dos Appaloosa, a encantou. Nascia ali uma parceria que mudaria a vida de ambos.
Com o tempo, Endo demonstrava aptidão para os treinos, executando exercícios de adestramento e respondendo bem a comandos mesmo em rotinas complexas. Até que, por volta dos 8 anos de idade, começou a apresentar sinais de problemas oculares — olhos lacrimejantes, sensibilidade à luz e dor constante.
O diagnóstico foi devastador: uveíte recorrente equina, conhecida como cegueira lunar. Trata-se da principal causa de cegueira em cavalos no mundo, uma condição inflamatória, dolorosa e progressiva. Com o tempo, os episódios se intensificaram até que o olho direito de Endo se rompeu. A remoção foi inevitável. Meses depois, o olho esquerdo também precisou ser retirado.
“Ele ficou muito assustado no começo”, contou Morgan. “Então eu o levava para passear pelo celeiro, depois começamos a andar pela propriedade. Tudo em pequenos passos.”
A adaptação foi longa, mas Endo contou com aliados importantes: o amor de Morgan, os cuidados do veterinário e a presença constante de sua companheira de baia, Cinnamon, uma égua miniatura resgatada para ajudá-lo na transição à cegueira total.
Contra todas as expectativas, Endo reaprendeu a navegar no mundo escuro. Mais do que isso, voltou a competir, treinar e, por fim, conquistar recordes. Segundo Morgan, o segredo foi manter os estímulos constantes, reforçar os sons e comandos verbais e respeitar o tempo do animal.
“É incrível que Endo tenha três recordes mundiais”, celebrou. “Sou muito grata ao Guinness World Records por nos dar uma plataforma para mostrar ao mundo que cavalos cegos ainda são capazes de qualquer coisa.”
A história de Endo não é apenas sobre superação animal. É também um manifesto silencioso contra o preconceito, uma lembrança de que deficiência não é sinônimo de limitação. Morgan espera que mais pessoas olhem para cavalos cegos como animais que ainda têm muito a oferecer.
“O que me move é mostrar que eles são talentosos. O que eles precisam é de uma chance e de alguém disposto a acreditar.”
Hoje, Endo é mais do que um cavalo premiado. É símbolo de resiliência, confiança e esperança — com o mundo aos seus cascos, mesmo sem poder vê-lo.
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