
Raro e quase impossível, o “Geep” é cruzamento entre cabra e ovelha de aparência única e comportamento imprevisível. Uma criatura que desafia a lógica genética e causa alvoroço sempre que nasce.
No mundo da biologia, algumas combinações genéticas parecem improváveis demais para acontecerem — mas, ocasionalmente, a natureza surpreende. Esse é o caso do Geep, uma criatura rara nascida do cruzamento entre uma ovelha (Ovis aries) e um bode (Capra hircus). Embora visualmente curiosa e até mesmo adorável, essa “cabrovelha” levanta importantes questões sobre a compatibilidade genética entre espécies próximas e sobre os limites naturais da reprodução animal.
O termo “Geep” deriva da junção das palavras “goat” (cabra/bode) e “sheep” (ovelha), e é usado para designar animais híbridos que carregam características físicas e comportamentais de ambas as espécies. Também chamado de shoat em algumas publicações científicas, o Geep é extremamente raro, principalmente devido às diferenças genéticas entre os animais que o originam.
- Cabras possuem 60 cromossomos, enquanto
- Ovelhas têm 54.
Essa disparidade torna o cruzamento natural praticamente inviável, já que a maioria dos embriões morre ainda nos estágios iniciais do desenvolvimento. Quando um Geep sobrevive ao nascimento, trata-se de uma exceção raríssima, e o animal costuma ser estéril devido à incompatibilidade genética, em um fenômeno conhecido como regra de Haldane.
Quando nasce com vida, o Geep costuma apresentar traços únicos e distintos:
- Pelagem: pode ser de lã densa como a da ovelha, pelo curto como o da cabra, ou uma combinação dos dois.
- Chifres: geralmente se assemelham aos da cabra, mas podem ser assimétricos ou mais curtos.
- Corpo: musculoso como o da cabra, com volume lanudo típico da ovelha.
- Rosto: mistura traços das duas espécies — focinho mais alongado com expressão suave.
- Comportamento: combina a docilidade da ovelha com a agilidade e energia das cabras.
- Olhos: pupilas horizontais, comuns a ambas as espécies.

Embora muitos relatos de Geeps – cruzamento da ovelha com o bode – sejam apenas equívocos com animais de aparência incomum, alguns casos comprovados por testes genéticos ganharam notoriedade:
- 1984, Cambridge (Inglaterra): cientistas criaram quimeras a partir da combinação de embriões de carneiro e bode. Apenas um animal apresentou características genéticas mistas.
- 2000, Botsuana: o Ministério da Agricultura registrou o nascimento de um híbrido viável, com 57 cromossomos, características intermediárias e libido elevada, mas infertilidade confirmada.
- 2014, Irlanda: um Geep nasceu naturalmente em uma fazenda. O caso ganhou repercussão internacional.
- 2020, República Tcheca: nasceu Barunka, uma híbrida rejeitada tanto por cabras quanto por ovelhas, cujo diagnóstico foi confirmado após exames.
- 2021, Kentucky (EUA): nasceu a híbrida Spring Rose, com cariótipo híbrido 57, XX, confirmado por análise genética. Ela sobreviveu a complicações no parto e vive em uma fazenda da criadora Catherine Bell.

Há ainda registros de Geeps na Nova Zelândia, França, Alemanha e outros pontos da Europa, incluindo casos de retrocruzamentos, onde o híbrido foi acasalado com um dos pais originais, gerando nova prole — embora raramente saudável ou viável.
É importante distinguir o Geep natural da quimera criada artificialmente. Uma quimera é formada pela junção de dois embriões diferentes (por exemplo, de cabra e ovelha) em laboratório, gerando um animal com tecidos de ambas as espécies, mas sem fusão genética real. Já o Geep híbrido mistura material genético de forma natural, com metade dos cromossomos herdados de cada pai.

Apesar disso, nem todos os animais com aparência de híbrido são, de fato, Geeps. Testes genéticos são necessários para confirmar a origem, já que muitos casos são apenas anomalias fenotípicas.
Além da diferença de cromossomos e da distância genética entre os gêneros Ovis (ovelhas) e Capra (cabras), os próprios mecanismos biológicos dificultam o cruzamento. Mesmo em casos de acasalamento natural — geralmente quando ovelhas e bodes compartilham o mesmo espaço — a fecundação costuma falhar ou resulta em aborto espontâneo.
Outro fator limitante é a infertilidade dos híbridos machos e a baixa fertilidade das fêmeas, consequência da incompatibilidade cromossômica. Isso impede que haja linhagens estáveis de Geeps ou qualquer tipo de criação intencional desse híbrido.
- Pesquisas da Universidade da Califórnia (Davis) usaram gee**ps para estudar gestações em animais de produção, investigando como as espécies reagem à mistura genética.
- Análises de transcriptoma sanguíneo revelaram que, em um híbrido macho, a expressão gênica derivava mais da mãe cabra do que do pai ovelha, indicando dominância do genoma caprino.
- Há também relatos raros de híbridos entre ovelhas e cervos, documentados na Alemanha e Irlanda em 2014.
O Geep é um exemplo fascinante da complexidade da genética e da capacidade da natureza de surpreender, mesmo dentro de limites considerados rígidos. Ele permanece como uma curiosidade científica e um símbolo das raríssimas exceções que desafiam as regras evolutivas.
Ainda que não tenha aplicação prática direta na agropecuária, o Geep é estudado por sua importância para a genética comparativa, embriologia e reprodução animal. E cada novo nascimento documentado gera comoção, curiosidade e admiração entre cientistas, criadores e amantes dos animais.
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