
Descendente de um único garanhão espanhol, o Cavalo Branco Camarillo encanta com sua pelagem branca pura desde o nascimento, mas hoje depende de esforços de preservação para sobreviver.
Um símbolo vivo da Califórnia e da elegância equestre, o Cavalo Branco Camarillo é mais que um equino raro: é uma linhagem com história, genética única e forte apelo cultural. Com origem em 1921, a raça foi criada por Adolfo Camarillo, um dos últimos californios — descendentes dos primeiros colonizadores espanhóis da Califórnia — que encontrou o garanhão Sultan na Feira Estadual de Sacramento e iniciou ali uma linhagem que por décadas ficou restrita à sua família.
A história do Cavalo Branco Camarillo começa com Sultan, um Mustang Espanhol nascido em 1912, que chamou a atenção de Adolfo Camarillo em uma exposição promovida pela fazenda de gado Miller & Lux. Impressionado, Adolfo o adquiriu e iniciou um projeto de cruzamento com éguas da raça Morgan, desenvolvendo um tipo próprio, exclusivo da família Camarillo por 65 anos.
Após a morte de Adolfo, sua filha Carmen assumiu a criação e manteve a tradição viva até seu falecimento em 1987. Por desejo dela, os cavalos foram vendidos em leilão público, encerrando uma era de exclusividade da linhagem.
Ao contrário dos cavalos cinzas, que clareiam com o tempo, o Cavalo Branco Camarillo nasce branco e permanece assim por toda a vida, exibindo pelagem branca pura e pele rosada — uma combinação genética extremamente rara. A beleza é acompanhada de uma estrutura física marcante: pescoço arqueado, membros fortes, olhos grandes e uma expressão vívida no rosto, atributos que se tornaram assinatura da raça. Muitos Camarillo Whites herdaram o temperamento dócil e gentil do pai fundador, Sultan.

A pelagem branca dos Camarillo não vem de um gene comum. Eles carregam o alelo branco dominante W4, responsável pela cor branca intensa. No entanto, todos os indivíduos conhecidos possuem apenas uma cópia desse gene, pois, quando em dose dupla (homozigose), acredita-se que o embrião não sobrevive — um fenômeno conhecido como letalidade embrionária.
Além disso, a chance de um potro nascer branco é de apenas 50% quando cruzado com um animal comum, o que torna o processo de perpetuação da cor ainda mais desafiador. A boa notícia: os cavalos Camarillo não carregam genes ligados à síndrome do branco letal, o que os diferencia de outras linhagens brancas com riscos genéticos associados.
Com a morte de Carmen e a venda dos cavalos, a linhagem entrou em risco. Em 1991, restavam apenas 11 cavalos Camarillo no mundo, o que levou cinco entusiastas a formar a Camarillo White Horse Association, oficializada em 1992. A partir dali, começou um esforço para resgatar e preservar essa raça icônica.

Para manter a diversidade genética e evitar endogamia, a associação criou um livro genealógico aberto, permitindo o cruzamento com raças como Andaluz e Standardbred — desde que pelo menos um dos pais seja descendente direto de Sultan. Existe também um registro paralelo para os potros que nascem de linhagens Camarillo mas não apresentam a pelagem branca.
Desde a década de 1930, os Cavalos Brancos Camarillo encantam multidões em paradas e eventos históricos, como o tradicional Torneio das Rosas e o desfile de inauguração da Ponte da Baía de São Francisco-Oakland. Eles foram montados por personalidades como Ronald Reagan, Leo Carrillo, John Mott (Prêmio Nobel da Paz) e Steven Ford, filho do ex-presidente dos EUA.
Além disso, os Camarillo são hoje o cavalo oficial da cidade de Camarillo, na Califórnia, e participam ininterruptamente da Santa Barbara Fiesta desde 1924 — mantendo viva uma ligação emocional entre o povo californiano e a raça.
Atualmente, a raça ainda enfrenta desafios relacionados à sua manutenção populacional, restrições genéticas e visibilidade no mundo equestre. Mas o trabalho da Camarillo White Horse Association e de criadores dedicados mantém a esperança de que o legado de Sultan e da família Camarillo não se perca.
Mais do que um cavalo de pelagem única, o Camarillo White é símbolo de resistência cultural, paixão genética e orgulho histórico — um verdadeiro patrimônio vivo da tradição equestre norte-americana.
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