
Sistema de autoconsumo para gado de corte em silo bolsa reduz custos, dispensa trato diário e mantém ganhos de peso satisfatórios; veja como funciona, o que exige e se vale a pena adotar na sua propriedade
Quando chega a seca, o pasto perde valor nutricional, o boi para de ganhar peso e o custo para manter o rebanho dispara. Em muitos casos, o produtor se vê sem mão de obra suficiente, sem estrutura para confinar e sem alternativa viável para suplementar o gado com volumoso. Mas uma técnica simples e eficiente está mudando essa realidade: o autoconsumo em silo bolsa.
O sistema, já usado há anos na Argentina e agora ganhando força no Brasil, consiste em armazenar a silagem em bags plásticos compridos (os chamados silos bolsa) e permitir que o próprio boi se alimente diretamente, com acesso controlado. Isso elimina a necessidade de trato diário, reduz perdas e, quando bem manejado, mantém o ganho de peso dos animais a um custo muito mais baixo.
Como funciona o sistema de autoconsumo para gado de corte
A lógica é simples: em vez de distribuir a silagem no cocho todos os dias, o produtor leva o gado até a silagem, já armazenada em silo bolsa. Com uma cerca elétrica móvel ou um gradil fixo, libera-se o acesso a apenas uma parte da silagem, evitando que os animais estraguem tudo de uma vez.
À medida que os bois consomem, a cerca ou o gradil é avançado, liberando mais alimento. O trato se resume a isso: checar o avanço da silagem, retirar sobras deterioradas e repor o sal mineral ou proteinado à parte. Em uma fazenda da Bahia, por exemplo, o custo operacional diário com esse sistema foi de apenas R$ 0,10 por cabeça — contra os R$ 2,00 a R$ 4,00 comuns em sistemas de trato convencional.
O que é o silo bolsa?
É uma estrutura de plástico resistente, em formato de tubo, onde a forragem picada (milho, sorgo ou capim) é embutida e compactada por uma máquina específica. A fermentação ocorre ali dentro, como num silo trincheira, mas com a vantagem de vedação total e alta mobilidade.
Cada metro do bag pode armazenar de 2 a 6 toneladas de silagem. E o melhor: ele pode ser colocado próximo ao local onde o gado vai comer — reduzindo a logística interna da fazenda e evitando transporte desnecessário de forragem.

Por que usar esse sistema de autoconsumo para gado de corte na minha fazenda?
- Economia de mão de obra e combustível
Um funcionário pode manejar silagem para até 1.000 cabeças em autoconsumo, apenas deslocando cerca ou gradil. Isso reduz drasticamente a necessidade de trator, vagão ou tratores forrageiros no dia a dia. - Redução de perdas
Com manejo adequado (como cerca elétrica e avanço diário), as perdas ficam abaixo de 20%, muito menos do que quando a silagem é deixada livremente. - Flexibilidade e simplicidade
O sistema não exige cocho, não precisa de estrutura fixa e pode ser adotado até em piquetes distantes da sede. - Alto desempenho com baixo custo
Em um caso real, novilhas Nelore em recria ganharam 0,67 kg/dia durante 90 dias de seca, com custo total de alimentação de R$ 2,07 por cabeça/dia, somando silagem e suplemento.
O que é necessário para adotar o sistema de autoconsumo para gado de corte?
- Silo bolsa e uma embutidora (própria ou terceirizada)
- Cerca elétrica móvel ou estrutura fixa tipo cocho/gradil
- Cochos simples para sal mineral ou proteinado
- Bebedouros próximos da área do silo
- Área bem drenada, plana e livre de tocos ou pedras para instalar o bag
Quando vale a pena?
Esse sistema de autoconsumo para gado de corte funciona melhor para lotes de médio a grande porte, principalmente em época de seca ou onde há dificuldade de fazer trato diário. É ideal para quem:
- Quer recriar bezerras ou novilhas com menor custo
- Precisa manter ganho de peso em períodos de pasto ruim
- Busca uma alternativa sem confinamento e com pouco investimento
- Já produz ou compra silagem de boa qualidade
Comparativo com outros sistemas
Sistema | Custo operacional | Perdas de silagem | Necessita trato diário? | Ganho médio (kg/dia) |
---|---|---|---|---|
Autoconsumo em silo bolsa | Baixo (~R$ 0,10) | Baixas (10–20%) | Não | 0,5 a 0,8 |
Cocho com trato manual/mec. | Alto | Baixas (5–10%) | Sim | 0,6 a 1,2 |
Confinamento (TMR) | Muito alto | Mínimas | Sim | >1,2 |
Atenção aos detalhes
O autoconsumo não é bagunça: é preciso manejo diário da cerca, silagem bem feita e monitoramento para evitar deterioração ou desperdício. Também é importante que o lote seja homogêneo (animais do mesmo porte) para evitar disputa na hora do trato.
E não adianta querer usar o sistema com poucos animais: a silagem exposta deve ser consumida rapidamente para não estragar. O ideal é que o painel avance pelo menos 30 cm por dia.
Vale a pena?
Se o produtor busca redução de custos, praticidade, quer aproveitar silagem feita na safra e não tem estrutura de confinamento, a resposta é: vale muito a pena. Mas é fundamental fazer bem feito.
Segundo especialistas da Embrapa, com manejo correto, o autoconsumo pode reduzir os custos totais da recria ou engorda em até 30% — sem comprometer o desempenho do gado.
E na sua fazenda?
Você já utiliza silagem? Tem estrutura ou parceria para ensacar no silo bolsa? Tem mão de obra disponível ou quer simplificar o manejo na seca? Se a resposta for sim, esse sistema pode ser a virada de chave para manter seus bois ganhando peso quando o pasto seca — sem secar o seu caixa.
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