
Não há uma fórmula única, mas sim a decisão técnica embasada em análise de solo, custo-benefício e recomendação agronômica para qual calcário utilizar na correção do solo
Imagine investir em sementes de alto potencial genético, fertilizantes de qualidade e manejo de ponta… mas não colher os resultados esperados. Esse é o drama de muitos produtores que negligenciam um fator invisível, porém determinante: a acidez do solo.
No Brasil, mais de 70% dos solos apresentam algum grau de acidez, segundo a Embrapa, limitando o crescimento das raízes e reduzindo a absorção de nutrientes essenciais. O resultado? Perda de produtividade que pode variar entre 20% e 50% por hectare.
A solução mais eficiente para esse problema é antiga, acessível e indispensável: a calagem. Mas com tantas opções de calcário disponíveis, surge a dúvida: qual escolher?
Por que corrigir a acidez do solo é indispensável?
Solos ácidos podem causar:
- Redução da disponibilidade de nutrientes como fósforo, potássio, nitrogênio, cálcio e magnésio.
- Toxidez de alumínio e manganês, que limita o desenvolvimento radicular.
- Comprometimento da microbiologia do solo, afetando a fixação biológica de nitrogênio e a decomposição de matéria orgânica.
Impactos práticos:
- Na pecuária: pastagens degradadas, menor lotação animal e aumento do custo com suplementação mineral.
- Na agricultura: queda de 20% a 50% na produtividade de culturas como soja, milho, feijão e hortaliças.
A calagem adequada recupera a fertilidade do solo e aumenta a eficiência de fertilizantes, refletindo em produtividade e retorno financeiro.
Conheça os tipos de calcário agrícola
Calcário calcítico
- Riquíssimo em CaCO₃ (carbonato de cálcio).
- Ideal para solos com deficiência de cálcio e bom teor de magnésio.
- Vantagem: melhora a estrutura do solo e a resistência das plantas.
- Limitação: baixo teor de magnésio.
Calcário dolomítico
- Contém CaCO₃ + MgCO₃, com mais de 12% de MgO.
- Indicado para solos pobres em magnésio — muito comuns no Cerrado.
- Benefício extra: supre cálcio e magnésio simultaneamente.
Calcário magnesiano
- Teor intermediário de magnésio (4 a 12% de MgO).
- Boa opção para solos que não exigem altas doses de magnésio.
Calcário filler (ou fino)
- Granulometria ultrafina, o que acelera a reação no solo.
- Vantagem: efeito rápido.
- Desvantagem: maior custo logístico e dificuldade no manuseio.
Calcário dolomítico calcinado
- Passa por processo térmico, concentrando os óxidos de cálcio e magnésio.
- Altíssima reatividade, mas custo elevado.
- Uso mais comum em áreas específicas que demandam ação imediata.
Calcário líquido
O uso do calcário líquido tem gerado dúvidas entre pecuaristas e agricultores. Na prática, o calcário líquido não funciona como corretivo, quando usado nas proporções comuns do mercado.
Por quê?
- A composição típica é de cerca de 30% de cálcio e 15% a 16% de magnésio.
- A recomendação usual de 5 litros de líquido para substituir 1 tonelada de sólido aplica quantidade insuficiente de nutrientes.
- Consequências:
- Não altera o pH de forma significativa.
- Não neutraliza o alumínio tóxico.
- Não modifica a saturação por bases (V%), que mede a fertilidade do solo.
Outras fontes relacionadas
- Conchas moídas e margas calcárias: alternativas naturais ricas em carbonato de cálcio.
- Gesso agrícola (CaSO₄·2H₂O): não corrige pH, mas fornece cálcio e enxofre e reduz alumínio em profundidade.
- Pó de rocha (remineralizadores): liberação lenta de nutrientes, usado como complemento em sistemas mais sustentáveis.
Tipos de calcário: Como escolher o ideal?
Não existe resposta única: o melhor calcário é o que atende à necessidade do seu solo. Para acertar na escolha:
- Faça análise de solo: só ela indica se há deficiência de cálcio, magnésio ou excesso de acidez.
- Avalie o PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total): quanto maior, mais eficiente o calcário. Um produto com PRNT 90% corrige o solo muito mais rápido que outro com PRNT 65%.
- Considere a logística: o frete pode representar até 60% do custo final do calcário. Muitas vezes, o mais próximo se torna mais viável economicamente.
Aplicação correta: segredo da eficiência
A escolha do tipo de calcário é apenas parte do processo. Para ter resultado:
- Aplique preferencialmente de 60 a 90 dias antes do plantio.
- Sempre que possível, faça a incorporação mecânica para maior uniformidade.
- Em pastagens, a aplicação superficial é válida, mas exige reaplicações periódicas.
- Evite erros comuns, como usar calcário de baixa reatividade ou não respeitar a dose indicada na análise de solo.
Qual calcário é o melhor?
A resposta é clara: entre os tipos calcário, o melhor é aquele que atende à necessidade real do seu solo. Não há uma fórmula única, mas sim a decisão técnica embasada em análise de solo, custo-benefício e recomendação agronômica.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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