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Crise desafia produção de carne do Brasil

Novo governo, novas idéias e, com isso, novas divergências chegaram no Brasil. Em meio as mudanças econômicas e social, como fica a produção de carne?

Dono do maior rebanho bovino comercial no mundo, o Brasil enfrenta o desafio de oferecer produção sustentável seja do ponto de vista ambiental, seja no aspecto socialmente responsável, em meio à lenta recuperação da economia.

O crescimento do país é fundamental para a indústria da carne, assim como a preocupação do setor em se adequar à demanda no mercado internacional, para o mestre e doutor em produção animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fabiano Alvim.

Com 22 anos de experiência em projetos de pecuária de corte, como professor e pesquisador na UFMG e UnB, ele passou a integrar recentemente a equipe de desenvolvimento de produtos para bovinos de corte do grupo multinacional De Heus, em Ede, na Holanda.

Nesta entrevista, Alvim alerta para a necessidade de investimentos em tecnologia, melhora da produtividade e da qualidade dos animais, junto à redução da emissão de gases de efeito estufa e ao respeito à área de preservação permanente, reserva legal e recursos hídricos.

“A adequação da produção tem que estar em sintonia com a necessidade de mercado, mantida a atenção a todos os elos da cadeia de produção. O Brasil continuará sendo um dos grandes players do mercado mundial”, afirma. A De Heus atua em 75 países, mantém três fábricas no Brasil dedicadas à nutrição de animais e já anunciou a decisão de ampliar sua presença no país.

O Brasil é considerado o país com maior rebanho comercial bovino do mundo, mas há disparidade grande entre o porte e o nível de acesso dos pecuaristas a recursos de toda ordem. Até que ponto isso pode ameaçar o título do Brasil como fornecedor mundial de carne?

A lucratividade da fazenda é dependente de como o fazendeiro usa seus recursos (terras, pastagens, benfeitorias, insumos, capital, recursos humanos e ambientais) para obter a sua melhor rentabilidade, dependente do custo de produção e preço de venda. Independentemente do tamanho da fazenda, a intensificação no processo de produção tem que ocorrer, pois, na média nacional, temos indicadores técnicos que devem ser melhorados, como a idade para abate e o primeiro parto, peso de carcaça, taxa de desmama e qualidade de carcaça.

O pecuarista precisa estar em constante atualização de seu conceito de produção, entregando ao mercado (indústria, atacado e varejo) o produto desejado, com crescente atenção às demandas de qualidade, segurança alimentar e sustentabilidade. Ou seja, a adequação da produção tem que estar em sintonia com a necessidade de mercado, mantida a atenção a todos os elos da cadeia de produção. O Brasil continuará sendo um dos grandes players do mercado mundial.

Diante de episódios recentes que repercutiram mal para o país, como a Operação Carne Fraca e o anúncio de suspensão das importações de frango do Brasil pela Arábia Saudita, como o sr. vê o futuro das pretensões do Brasil de se tornar um fornecedor mundial de alimentos?

A demanda por proteína animal é crescente devido ao aumento da população mundial e da renda em países em desenvolvimento, que representam maior consumo de carne com incremento da renda per capita. O programa Mais Pecuária, do governo federal, prevê dobrar a produtividade com aumento de 40% na produção de carne até 2023. Isso deve ocorrer, observando-se a redução de área de pastagens para a expansão agrícola e a recuperação do passivo do Código Florestal. Essa redução de área da pecuária não é uma meta fácil. A inclusão de tecnologias e estratégias técnicas e comerciais é necessária para o aumento da produtividade, aliado ao maior retorno econômico e, consequentemente, aumento do valor bruto produzido pela pecuária de corte no país. Do lado da indústria, temos que ter mais transparência nas relações comerciais e entregar produtos com garantia de origem, rastreabilidade de todo o processo e responsabilidade total com a segurança alimentar.

Em que nível de importância e de desafios, poderíamos classificar o manejo alimentar correto na pecuária de corte? O Brasil vai bem ou mal nesse cenário?

Nos últimos 20 anos, o peso da carcaça aumentou em mais de 2 arrobas (30 quilos), reduzimos a idade média para abate de machos (abaixo de 40 meses) e aumentamos o número de animais confinados (são mais de 4 milhões de cabeças/ano). A nutrição dos bovinos teve grande influência na melhora desses indicadores para aumentar a produtividade, reduzir a idade do abate e ao primeiro parto, aumentar o peso da carcaça e a qualidade da carne, além de reduzir a emissão de gás de efeito estufa por quilo de carne produzida. O Brasil vem melhorando com o passar do tempo, mas em decorrência da pressão para aumento de produtividade com sustentabilidade teremos que melhorar esses indicadores de maneira ainda mais rápida para adequação às novas demandas globais de mercado. Sendo assim, mais tecnologias devem ser aplicadas ao campo e de maneira mais ampla em todo o território nacional.

Como o sr. avalia a crítica que é feita ao desenvolvimento da bovinocultura muito associado à nutrição, ao melhoramento genético e à reprodução, sem o mesmo cuidado quanto a um processo de obtenção da carne socialmente e ambientalmente responsável?

Existe uma grande demanda por produtos sustentáveis, aliada à grande pressão mundial para a produção de bovinos de corte se adequar ambiental e socialmente, livre de trabalho escravo e infantil, além do respeito às leis trabalhistas. Nesse contexto, o pecuarista precisar atento e em constante atualização de sua forma de produzir e realizar a gestão de sua produção, incorporando novos conceitos. É possível intensificar a pecuária na mesma área da fazenda, aumentando a produtividade, o lucro do produtor, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e respeitando a área de preservação permanente, reserva legal e recursos hídricos. Contudo, ainda existe longo caminho a ser percorrido pelos produtores no Brasil. No que diz respeito à sustentabilidade, ainda estamos muito aquém do nosso potencial.

Quais seriam os principais desafios da pecuária de corte no Brasil, considerando-se a lenta recuperação da economia brasileira?

Pelo total do rebanho brasileiro e a crescente demanda de proteína animal, o Brasil continuará a ser um dos grandes players do mercado, mas devemos estar atentos e nos adequar à nova demanda mundial relacionada à produção sustentável. O reaquecimento da economia brasileira é fundamental para o mercado de carne bovina, pois o aumento da renda leva ao maior consumo e, consequentemente, à melhora do preço para o produtor. Com a crise econômica que passamos nos últimos anos houve redução de consumo superior a 4 quilos de carne bovina por habitante ao ano. Cada produtor deve analisar estrategicamente o seu posicionamento quanto a uma série de temas, incluindo tecnologias para aumentar a produtividade, produzir carcaça pesada e bem-acabada (gordura de cobertura), de acordo com cada especificação de mercado a ser atendido, adequação ao Código Florestal, e uso de ferramentas para controlar melhor a atividade.

Como Minas Gerais se enquadraria nesse contexto de sua análise?

Nós fizemos o Diagnóstico da Pecuária de Corte de Minas Gerais junto à Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e constatamos possíveis pontos de melhorias, em relação à média nacional da pecuária bovina de corte, ou seja, fazendas com oportunidades de melhorias de produtividade e de lucro. A iniciativa do produtor é fundamental para implantar tecnologia, mudar o seu conceito de produção e vislumbrar novos mercados com a oportunidade de produzir de maneira mais sustentável.

Fonte: Estado de Minas.

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